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Abolir anuidades? Já feito em 2011. E o desafio chega na Câmara

O texto proposto por Richetti do Pd enfrenta a última prova entre polêmicas e reivindicações do M5S. A votação pode chegar na quarta-feira e depois no Senado. Na verdade, não se trata de abolir as anuidades, que já não existem desde 2012, mas sim de recalcular as que são pagas de acordo com as regras antigas.

Abolir anuidades? Já feito em 2011. E o desafio chega na Câmara

Voltamos a falar sobre anuidades aos parlamentares. Em clima de grande polêmica, o projeto de lei assinado pelo deputado federal Matteo Richetti chega à Câmara nesta terça e já pode receber sinal verde de Montecitorio na quarta, antes de seguir para o Senado. O objetivo é obter a aprovação antes das férias de verão.

Não deve ser um problema, porque a medida é apoiada por várias forças políticas, a começar pelo Movimento 5 Estrelas. A maioria é sólida: não faltam críticas ao texto de Richetti, que segundo alguns será acusado de inconstitucional, mas poucos meses depois da votação ninguém quer se apresentar aos eleitores como defensor da casta.

A CONTROVÉRSIA M5S-PD

A disputa então se concentra na autoria do projeto de lei. “Escreve-se Richetti, lê-se Lombardi”, atacam os deputados do M5S da comissão de Assuntos Constitucionais, lembrando que no ano passado o deputado de Grillina apresentou um projeto de lei sobre o mesmo tema. Uma disposição que no entanto – acusam os 5 Estrelas – na altura o Pd deixou atolar no Parlamento.

“Estou muito satisfeito com a adesão dos grillini, mas eles assinaram essa lei há apenas algumas semanas, enquanto o texto está depositado desde 2015 – defende-se Richetti – Se eles quisessem ser sérios, porque nestes dois anos eles não entrou na batalha deixando apenas 80 assinaturas na proposta, todas do Partido Democrata?”. Quanto às alegadas semelhanças com o dispositivo redigido pelo M5S, o deputado do Pd sublinha que “a proposta de Lombardi não afetou em nada a redução das anuidades antigas”.

ABOLITAR ANUIDADES? FOI FEITO EM 2011

Não é um detalhe, mas o ponto central da questão. Falar em "abolição das anuidades" é errado, porque as anuidades já foram abolidas pelo governo Monti no final de 2011. As regras hoje em vigor prevêem que, ao final do quinto ano de mandato, deputados e senadores adquiram o título de direito a uma pensão calculada pelo método contributivo, ou seja, com base nas contribuições efectivamente pagas (bem menos generosas do que o salário, ligado aos últimos vencimentos recebidos), a recolher ao completar 65 anos de idade. A cada ano em que mais do que os cinco primeiros permanecerem no cargo, deputados e senadores podem se beneficiar com um ano de antecedência no desembolso da pensão. No entanto, você nunca tem permissão para descontar seu cheque antes dos 60 anos.

O Movimento 5 Estrelas também contesta esta legislação, porque na verdade ela ainda favorece os parlamentares em detrimento dos cidadãos, principalmente no que diz respeito à idade de acúmulo do tratamento previdenciário.

O QUE A PROPOSTA RICHETI PREVÊ E POR QUE CORRE O RISCO DA PARADA CONSTITUCIONAL

No entanto, não é disso que temos falado nas últimas semanas. O problema não diz respeito aos parlamentares em exercício, que não receberão os cheques desproporcionais do passado, mas aos ex-deputados e ex-senadores que - com base nas regras vigentes antes de 2012 - hoje cobram riquíssimas anuidades (porque são calculadas com o método salarial), face a atribuições muitas vezes muito curtas, em alguns casos durando até algumas horas. Segundo os últimos dados divulgados pelo presidente do INPS, Tito Boeri, são 2600 ex-parlamentares para um valor que atingiu os 2016 milhões de euros em 193, sem contar os cargos no Parlamento Europeu e nos conselhos regionais. Números que certamente não alteram as contas das finanças públicas, mas que têm um valor simbólico.

É aqui que entra em cena o espectro do Tribunal Constitucional. Também em 2011, a Consulta rejeitou um parágrafo do decreto-lei 98 que introduzia uma contribuição de equalização para pensões superiores a 90 mil euros brutos. Uma contribuição que o Tribunal Constitucional considerou de natureza fiscal, entendendo assim tratar-se de “uma intervenção fiscal despropositada e discriminatória contra uma única categoria de cidadãos”. Ou seja, segundo a Consulta, não pode ser cobrado um imposto arbitrário que afete apenas os pensionistas, mesmo que sejam ricos. Em causa estão, como dizem, "direitos adquiridos".

Já a reforma da marca Richetti propõe algo parecido para ex-parlamentares com anuidades. O texto exige que esses cheques sejam recalculados pelo método contributivo: trata-se, portanto, de uma regra retroativa que afetará o direito adquirido de uma única categoria, tal como no caso da contribuição sobre as pensões gold.

“Existe o risco de inconstitucionalidade – admitiu Richetti ao Gr1 Rai – mas li na Constituição que todos os cidadãos são iguais perante a lei. E, portanto, todos devem ter o mesmo tratamento, inclusive os parlamentares. Se o Tribunal disser que esta lei é inconstitucional, assumirá a responsabilidade por ela. Uma rendição preventiva, no entanto, não é possível, caso contrário, a Itália nunca mudará”.

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