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Trigo, preços recordes: culpa do clima mas também dos dromedários

Nunca tão caro desde 2007, o preço do trigo se prepara para romper a barreira dos 300 dólares a tonelada e também puxa para baixo outros cereais. Do Brasil à China, eis o que está acontecendo no mercado de soft commodities. Agricultores felizes? Nem sempre

Trigo, preços recordes: culpa do clima mas também dos dromedários

Não só óleo. Sexta-feira passada na lista parisiense da Euronext a pagar o preço mais alto em 14 anos neste parte era um membro da OPEP: o Iraque. O país do Oriente Médio, de fato, anunciou a compra de 500 mil toneladas de grãos para entrega em dezembro. A notícia, que choveu em um mercado já em alta, elevou os preços para US$ 297,25 a tonelada. Mas os operadores de commodities leves eles estão convencidos de que a barreira dos US$ 300 será derrubada dentro de um ano, contra os US$ 215 do início do ano ou os US$ 180 que os produtores alcançavam em meados de 2020. O fenômeno afeta tanto o mercado futuro, que é objeto de negociações na Bolsa, e a da entrega física, da qual depende, entre outras coisas, o aumento do frete marítimo. Em Rouen, ponto de referência para bens físicos, a “panificação” subiu para 342 euros a tonelada. Enquanto isso, em Chicago, o vencimento em dezembro aumenta em 40 centavos de dólar por bushel.

Por que esse passeio? Também neste caso o principal culpado é o clima. A estiagem comprometeu parte das lavouras na América do Norte, com destaque para o Canadá. Na Rússia, maior produtor mundial, a alternância entre inundações catastróficas e secas obrigou Moscou a corrigir telhados de exportação e antecipar a imposição de impostos sobre grãos vendidos na fronteira na semana passada. Um pouco como fez a Argentina, que tentou em vão conter a inflação proibindo o vendas de milho no exterior.

Entretanto China confirmou-se como um consumidor acometido pela bulimia: de 7,6 milhões de toneladas importadas em 2019 para quase 30 no próximo ano e pelo menos 26 para este ano. Por que esse aumento? É difícil, como sempre, entender as intenções de Pequim, mas parece que um dos motivos das compras está na necessidade de reconstruir a população de porcos no Império Celestial, já dizimado por Sars.

E a lista não termina aí. Lá mistura entre geadas e seca também atingiu o Brasil, onde faltam 14 milhões de toneladas da segunda safra anual. Finalmente, a recuperação dos preços do petróleo levou muitos produtores americanos a destinar parte de sua produção ao bioetanol.  

Diante de certos números não é difícil prever um aumento significativo de cereais: não só o trigo, mas também o milho, cujos preços em alta viajam paralelamente. Sem falar na cevada: neste caso, a demanda vem da Arábia Saudita para satisfazer as necessidades dos dromedários, grandes consumidores do precioso cereal a par dos apreciadores de uísque, como demonstra a decisão do Flemish Boortmalt de abrir uma "malthouse" em os Estados.

Não é uma boa notícia na frente da inflação, ainda que, finalmente, os produtores do Velho Continente possam contar com preços mais do que satisfatórios, inclusive com aumentos de dois dígitos para um produto que, tanto na Itália como na França, é de extraordinária qualidade, o melhor da última década, como o certifica os Cai, Consórcios Agrícolas da Itália, a primeira realidade organizada de produção com quase 3,5 milhões de quintais de cereais administrados e armazenados.

Hoje às Bolsa de mercadorias de Milão a alta dos preços continua, inaugurando a oitava semana de alta. Todas as categorias sobem 2 euros por tonelada para 312,5 euros (indústria panificadora). Os preços da Bolsa de Mercadorias de Bolonha são ainda mais altos. Em todo lugar, afinal, a colheita de 2021 será lembrado pelas poucas impurezas e proteínas acima da média. Mas, infelizmente, rendimentos por hectare estão diminuindo quase em toda parte: na Puglia (-30%), nas Marcas, em Abruzzo e em Molise (-20%), na Toscana (de -30% a -50%), no Lácio (-50%). A única exceção é a Emilia-Romagna que marca +20%. Muito pouco para parar a corrida do sanduíche caro.  

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