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Brasil: Covid está se espalhando, mas tecnologia e investimentos estão crescendo

Fruto da infeliz gestão do presidente Bolsonaro, o gigante carioca é desde junho o segundo país do mundo mais afetado pelo vírus, com 15% dos casos e mortes no mundo - A paralisação afetou turismo, serviços e indústria, mas produção de soja bate recorde – Em 2021, oportunidades vêm de fintech, alta precisão, infraestrutura e aviação

Brasil: Covid está se espalhando, mas tecnologia e investimentos estão crescendo

Na ausência de uma paralisação total no nível federal, Brasil rapidamente se tornou um dos epicentros da pandemia de coronavírus. Desde junho é o segundo país mais afetado do mundo, atrás dos Estados Unidos, com 15% das mortes e casos registrados globalmente: no final de setembro havia 150 mortos e quase 5 milhões de infectados. Este ano a pandemia provocou uma grave crise económica que se reflete numa contração do PIB esperada entre -5,5% (dados Banco Central) e as estimativas mais pessimistas do Banco Mundial (-8%) e do FMI (-9%). Uma crise que agravou uma recessão já em curso: em 2019 o PIB brasileiro havia crescido 1,1%, o menor valor dos últimos três anos, e no primeiro trimestre de 2020 já estava em recessão em -1,5%. A paralisação das atividades produtivas afetou principalmente os setores de turismo, serviços e indústria, já afetado por uma queda significativa na demanda, enquanto o setor agroalimentar cresceu. A produção de soja bateu um novo recorde com 125 milhões de toneladas e o recorde mundial de exportação, graças sobretudo à forte demanda chinesa, que cobre 75% do total. A produção de carne bovina e de frango também cresceu e com a China desempenhando um papel fundamental: a guerra comercial entre Washington e Pequim de fato favoreceu o Brasil, que hoje é líder mundial na produção de alimentos.

No entanto, a pandemia deixou marcas nos setores industrial e terciário. No final de agosto havia 29 milhões de desempregados (dados IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 3 milhões a mais que em maio, atingindo o recorde de 13,6% da força de trabalho total. Com as medidas de bloqueio, pelo menos trinta milhões de brasileiros ficaram sem emprego em poucos dias: a economia clandestina formada por 5,6 milhões de trabalhadores sem previdência pagou o preço mais alto. Nessa frente, o governo federal teve o mérito de agir rapidamente com um programa de auxílio extraordinário baseado em subsídio mensal (ajuda de emergência) de 600 reais, cerca de 100 euros, para mais de 60 milhões de brasileiros de maio a agosto. Um esforço logístico e financeiro, que custou ao Estado 8 mil milhões de euros por mês: segundo um estudo do IPEA, para 4,4 milhões de famílias brasileiras esta foi a única fonte de rendimento durante a pandemia. O governo confirmou o subsídio até o fim do ano, mas reduziu pela metade o valor para 300 reais por mês. Continua sendo uma ajuda importante, mas não suficiente, também devido ao recente aumento no preço de alguns alimentos como arroz, feijão e óleo.

Para muitos analistas l'auxilio emergencial continua sendo um movimento político bem-sucedido de Bolsonaro, que não surpreendentemente tem visto sua popularidade aumentar justamente nas regiões mais pobres do Nordeste. O próprio presidente sugeriu a criação de um novo programa de assistência social, o "Faça o Brasil”, que substituiria tanto o Bolsa Família de uma dezena de outros planos menores, porém conflitantes com a agenda liberal do ministro da economia Paulo Guedes, pouco inclinado à ideia de um novo Estado de bem-estar. Assim, os resultados da pandemia também poderiam frear os projetos de privatizações de grandes empresas estatais (Correios, Banco do Brasil, Caixa Federal, Petrobras) idealizados por Guedes: o custo político de centenas de milhares de demissões no setor poderia, de fato, muito alto a menos de dois anos das próximas eleições.

Mercado financeiro espera crescimento em torno de 2021% para 3,5. A descida para mínimos históricos da taxa de juro do Banco Central (SELIC) pode servir para restaurar um certo dinamismo à economia, tendo também em conta que é expectável pelos principais bancos um ajustamento em baixa das taxas de crédito à habitação e empréstimos a particulares e empresas .

2020 deve fechar com superávit comercial de 55 bilhões de dólares e volume de investimentos estrangeiros diretos de 60 bilhões. De uma perspectiva de longo prazo, investir no Brasil pode continuar sendo uma boa oportunidade, considerando o Real negociado a 5-5,30 em relação ao dólar. O Brasil ainda é um país jovem e profundamente digital, onde grandes redes de distribuição estão migrando rapidamente para o comércio eletrônico, com boas perspetivas para o futuro, desde que sejam implementadas políticas concretas de apoio ao consumo. O setor de fintech, alta precisão e infraestrutura está aberto a novas participações e mesmo um mercado que vive uma crise profunda como o transporte aéreo poderia se beneficiar de uma desregulamentação que removesse as barreiras protecionistas. Muito, porém, dependerá das escolhas governamentais e dos equilíbrios geopolíticos internacionais. A forte oposição de alguns líderes europeus, Macron in primis, à política ambiental de Bolsonaro pode congelar o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia e com graves repercussões no setor de serviços. Os próximos dois anos serão, portanto, decisivos para entender se o Brasil poderá aproveitar esta crise como uma oportunidade de relançamento com vistas à modernização e reabertura ao mundo pós-Covid.

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