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Hungria e Polônia matam a democracia: UE, chega de ajuda

É hora de a Europa acordar - A emergência sanitária do Coronavírus foi apenas o pretexto, mas o salto antidemocrático de Orbán e da Polónia já estava planeado há algum tempo e apela a uma forte resposta da União Europeia, a começar pela paragem da crise financeira apoiar

Hungria e Polônia matam a democracia: UE, chega de ajuda

São inúmeros os efeitos colaterais da pandemia desencadeada pela Covid-19. Certamente, entre os mais evidentes em termos de controle social está a eliminação de todas as formas de protesto civil contra governos autoritários ou de defesa de direitos: do Chile a Hong Kong, da Argentina ao Brasil à Índia, sem esquecer o Irã, Iraque e Líbano. Não menos importante, a Turquia, que surpreendentemente declarou um toque de recolher de dois dias na véspera da Páscoa.

E se, para cada um desses contextos, pudéssemos encontrar ideias de situações políticas que se deterioraram nos últimos meses ou de um agravamento das crises econômicas dos países, o que está acontecendo em Hungria e em Polonia já está planejado há algum tempo.

Bem no meio de uma União Europeia, estes dois países oferecem o que pensar sobre o distribuição de recursos financeiros europeus entre países aderentes ao Euro e países da União Europeia fora da Zona Euro.

Oito países da UE usam sua própria moeda nacional. Pensa-se que aguardam ansiosamente a adesão ao euro, uma vez cumpridos alguns critérios pré-definidos, mas evidentemente não têm pressa em cumprir, pois ainda podem usufruir de grande parte dos benefícios financeiros da adesão.

Assim, em conjugação com o compromisso alcançado pelo Eurogrupo, que lançou um conjunto de medidas em concertação com o BCE, torna-se inevitável a expectativa de uma frente unida que se oponha aos “piratas soberanos” prontos a embarcar contra os recursos europeus.

HUNGRIA: ORBAN E O SONHO DE IDENTIDADE MAGIARO

Com a aprovação de uma lei no final de março para a gestão de emergência da Covid-19, o governo húngaro agravou o estado de emergência já declarado no início do mês, permitindo que o Premier Orban governe por decreto e efetivamente derrube o Parlamento através de cláusula prevista na nova Constituição introduzida (pelo próprio Orbán) há nove anos. O anúncio do aumento das penalidades para a divulgação de informações falsas coloca então definitivamente um mordaça na mídia impressa e, bem como é claro às oposições.

À condenação das Nações Unidas juntou-se a advertência do Conselho da Europa sobre esta tomada de poder ilimitado que viola as regras democráticas.

Se alguém tinha dúvidas sobre a rebeldia da Hungria em relação ao euro, basta ouvir as inúmeras declarações de Gyorgy Matolcsy, governador do Banco Central Húngaro e número um do Fidesz, a União Cívica Húngara, partido conservador democrata-cristão suspenso desde 2019 pelo Partido Popular União Europeia (PPE) por uma campanha de difamação contra o ex-presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker. Matolcsy elogia Brexit e energia nuclear, acusando entre outras coisas os Verdes húngaros de serem uma expressão da extrema-esquerda.

Então há A posição de Orban nas montanhas dos Cárpatos como uma bacia fundamental para a produção de alimentos e água potável para a Hungria depois das mudanças climáticas. Estas declarações estão ligadas à política de entrada com dupla nacionalidade que Orbán garantiu com a Constituição de 2011 aos quase 3 milhões de "húngaros" fora das fronteiras da Hungria, na bacia dos Cárpatos, sem ter em conta que metade destes se encontra na Roménia.

Alguém se pergunta o que aconteceu com o resolução aprovada em 2017 – e apoiado por um Relatório da Amnistia Internacional – com o qual o Parlamento Europeu comprometeu a Comissão a iniciar os procedimentos sancionados pelo artigo 7.º do Tratado, que prevê para os Estados membros que violem os direitos fundamentais dos cidadãos uma série de sanções, até à suspensão do direito de voto no Conselho Europeu.

Como se nada tivesse acontecido, com total impunidade, Orban organiza um novo partido húngaro de direita para se fundir ao grupo europeu que acolhe nacionalistas conservadores e soberanos, incluindo poloneses e italianos, superando assim o isolamento imposto ao Fidesz.

“PAÍS E FAMÍLIA” LIDERAM OS NACIONALISTAS NA CAMPANHA ELEITORAL

Mas o plano polaco-húngaro baseado no oportunismo político da União Europeia já tinha sido sancionado em 2016, precisamente nos Cárpatos. Naquele encontro histórico, os dois países uniram suas respectivas retóricas sobre políticas anti-imigração que os teriam levado a erguer muros de arame farpado e a realizar campanhas eleitorais anunciando novas limitações às liberdades individuais, a começar pela de imprensa. Tudo isto para justificar um desvio que nada tem a ver com uma união de intenções pró-europeia, mas apenas com reivindicações oportunistas ligadas aoacumulação de fundos estruturais europeus.

Portanto, não deve ser surpresa que o Polonia, com grande timing, em 6 de abril obtido da Comissão Europeiaao abrigo do Quadro Temporário dos Auxílios Estatais, um pacote de assistência econômica. O executivo comunitário explicou que a Polónia vai fazer uso do novo regime que permite a contratação de seguros garantias públicas no valor máximo de 22 mil milhões de euros. O apoio consiste na prestação pelo Banco Nacional de Desenvolvimento da Polónia de garantias públicas sobre empréstimos de investimento e empréstimos de fundo de maneio. Os fundos estarão disponíveis para médias e grandes empresas polonesas ativas em todos os setores. Do ponto de vista das empresas, é um auxílio eficaz para cobrir necessidades imediatas de capital de giro e investimentos, garantindo liquidez suficiente para a continuidade da produção. Medida semelhante à que na crise de 2008 permitiu à Polónia, que é o principal destinatário dos fundos europeus, ser o único país da UE a não entrar em recessão.

De qualquer forma, mesmo o governo polonês - como o húngaro - não brilha nos direitos civis de mulheres e meninas. De fato, na próxima semana, o parlamento de Varsóvia discutirá dois projetos de lei: um prevê mais restrições ao acesso ao aborto, enquanto o outro pretende criminalizar educadores sexuais, comparando-os a pedófilos. Quanto às eleições presidenciais polacas marcadas para maio, parece agora certo que serão adiadas.

Enquanto isso, 10 anos se passaram desde a queda do avião em Smolensk, na qual o falecido presidente Lech Kaczynski se destacou entre as 96 personalidades falecidas. Os russos continuam investigando essa tragédia e estão mantendo os restos da aeronave Tu-154 Siły Powietrzne.

O Kremlin observa os movimentos de poloneses e húngaros com grande atenção para as implicações óbvias que podem ter no enfraquecimento político e financeiro da UE. Não faltam suspeitas de que Moscou também estendeu o financiamento aos partidos anti-euro para Varsóvia e Budapeste, que nos últimos 5 anos chamaram a atenção das instituições europeias.

Diante de tudo isso, Bruxelas deve suspender definitivamente qualquer tipo de apoio financeiro perante países que, em vez de estarem numa expectativa espasmódica de adesão à Zona Euro, dançam uma dança macabra sem se afastarem de pedidos sem lógica nem ética.

Olhando mais de perto, e por falar em oportunismo, no debate europeu de hoje - além dos pedidos dos soberanistas da "Mitteleuropa que foi" - a atitude do supercompetitivo também se choca Holanda, que se confirma como um paraíso para as holdings graças ao direito societário particularmente simplificado e à tributação mínima sobre os lucros.

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