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Máfia, Governale: “Já sabíamos de tudo. Porque a máfia resiste e tivemos que lutar contra ela antes"

O ex-diretor do Dia explica como e por que o fenômeno da máfia prevaleceu por muito tempo na classe dominante. Uma pesquisa útil para compreender e avaliar seu real significado

Máfia, Governale: “Já sabíamos de tudo. Porque a máfia resiste e tivemos que lutar contra ela antes"

Quando você aborda um livro que trata do tema da máfia a primeira pergunta espontânea é: o que acrescenta à quantidade considerável de relatórios das Comissões Parlamentares, dos livros e artigos já publicados, dos filmes e dos debates que se multiplicaram e estratificaram nas últimas décadas do século passado e nos três primeiros do atual?

Para responder, creio ser oportuno começar buscando o leitmotiv do livro escrito pelo General do Corpo de Exército Carabinieri, José Governale, uma vida profissional inteiramente passada naquela Arma com crescentes responsabilidades operacionais, incluindo a direção do ROS - Grupo de Operações Especiais e do DIA - Direcção de Investigação Anti-Máfia. Uma pesquisa útil para apreender e avaliar adequadamente seu real significado e, sobretudo, o valor da mensagem que dela se pode inferir.

"Já sabíamos de tudo": história e atualidade do crime organizado

De facto, neste caso, a meu ver, como veremos mais adiante, parecem existir dois fios condutores. A primeira, já identificada no título do livro ("Já sabíamos de tudo") é indicativa de uma convicção do autor, segundo a qual o tema da máfia certamente não é novo, mesmo com todos os seus aspectos evolutivos e inovadores, e sua avaliação tem sido e (talvez) continue a oscilar entre a de tipo estético, que pode ser rastreada até o homem de letras José Pitre, que viveu no virar do século XIX e seguinte, e outro de tipo funcional, essencialmente ligado a um exercício feroz de poder. Interpretação, esta última, pontualmente apoiada por documentos de um passado relativamente longínquo (século XIX) e posteriormente reconfirmada várias vezes nos últimos tempos por outros escritos, o que é relatado no livro.

O estilo, ágil e decididamente agradável, facilita a leitura, tornada ainda mais agradável pela inclusão de inúmeras memórias pessoais do autor, que não só relatam episódios de sua vida profissional, como também tocam em momentos da vida privada da adolescência e primeira infância. jovens em termos de educação recebida e, de forma mais geral, de formação.

Os papéis controversos da classe dominante na luta contra a máfia

O texto também é enriquecido por referências significativas a documentos históricos e/ou eventos em alguns casos tragicamente conhecidos, que permitem ao leitor entender bem como a opinião pública, a classe dominante e a política siciliana no quadro do fenômeno mafioso oscilaram entre duas avaliações aspectos mencionados acima. O resultado desta atitude alternativa materializou-se no contraste, bem documentado neste livro, entre o empenho, o rigor e o sacrifício de alguns políticos, padres, empresários e cidadãos individuais no desempenho das suas actividades, por oposição ao sentido de resignação, aquiescência, conivência e, em alguns casos, admiração demonstrada para com os expoentes da máfia.

O compromisso da Sicília e de seus cidadãos contra o crime

Há, então, um segundo fio condutor, que emerge de forma avassaladora dessa narrativa interessante e de certa forma convincente e que só se percebe depois de ler o livro: o profundo amor do autor pela terra siciliana e pela população que ali vive. Um sentimento que sustente o objetivo da redenção a ser compreendido e implementado em nossa história contemporânea para tentar libertar a realidade siciliana e o país dos fardos socioeconômicos e culturais da máfia; marcando assim um salto de qualidade decisivo na valorização do território e dos recursos físicos e humanos que nele potencialmente abundam.

Enfim, dois fios condutores que amplamente justificam a realização desta obra e estimulam a sua leitura, deixando a quem nela se imergir uma vigorosa e apaixonada mensagem de virtudes civis, das quais o Sicília e todo o país certamente passam necessidades neste período marcado, infelizmente, também pelo enfraquecimento moral e empobrecimento espiritual, fruto da crise pandêmica da Covid-19.

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