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A crise inverte os fluxos migratórios: da Europa voltamos às ex-colônias, mas para encontrar trabalho

São agora os talentos do Velho Continente, tomados pela recessão, que emigram para o Novo Mundo, e já não vice-versa - E assim os portugueses vão para o Brasil (ou Angola), os espanhóis escolhem a Argentina e os irlandeses escolhem a Austrália ou Nova Zelândia – Os gregos, sem ex-colônias, apostam na rica Alemanha – Os italianos? Em todos os lugares.

A crise inverte os fluxos migratórios: da Europa voltamos às ex-colônias, mas para encontrar trabalho

Ironia da história: os fluxos migratórios se inverteram, e assim são os talentos do Velho Continente, tomados pela crise, que emigram para o Novo Mundo, e não mais o contrário. E' a versão moderna da (re)colonização, que obriga os ex-conquistadores a regressar aos "lugares do crime", mas desta vez não para impor o seu poder mas para se refugiar, graças ao ponto de apoio da língua e da proximidade cultural, no novo El Dorado dos negócios.

Acontece, por exemplo, que a imprensa espanhola fala mesmo em "êxodo" para descrever a fenômeno da migração de jovens (e não só) ibéricos para a Argentina: em 2011, 50 pessoas deixaram sua mãe Espanha para chegar ao estado sul-americano, cuja economia funciona em ritmo recorde (é o segundo país do mundo na taxa de crescimento atrás apenas da China). As razões? Claro. Lá desemprego situação alarmante em que caiu o reinado de Juan Carlos: 20%, o mais alto da Europa. Sem falar na dos jovens, que chega a dobrar a média continental (40%), bem acima, por exemplo, dos 8% da Holanda. Além disso, em Espanha, 15% dos jovens entre os 15 e os 24 anos não trabalham nem estudam (10% da média da UE). Então, podemos tentar a aventura no exterior. 

Segundo a OCDE, inclusive acontece que cidadãos originalmente argentinos, emigrou para a Europa durante a crise de 2001 e espanhóis naturalizados, estão agora voltando para Buenos Aires e arredores.

O mesmo acontece com os países anglo-saxões. Não tanto a Inglaterra, mas A Irlanda, após a falência do Lehman Brothers, viu um aumento de "vazamento" no exterior a partir de 2009. No início, eram apenas os imigrantes poloneses que voltavam para casa, mas agora o fenômeno afeta os próprios irlandeses. Em 2011, ainda segundo dados da OCDE, 40 delas (incluindo uma percentagem impressionante de mulheres) optaram por seguir as pisadas de James Cook, mudando-se para o outro lado do mundo, para Austrália e Nova Zelândia.

Nem o apelo poderia faltar Portugal, escolhendo a opção mais lógica que havia: o Brasil. No último ano, setenta mil lusitanos fizeram o voo Lisboa-São Paulo, mas não só: alguém até optou por Angola, cuja capital, Luanda, é, ouça, uma das cidades mais caras do mundo (e com a menor qualidade de vida). Mas, apesar disso, o jogo vale a pena: o salário médio é tão superior ao português que permite aos imigrantes viver e até ter poupanças.

No entanto, o Brasil continua sendo o destino mais natural, também dada a política da locomotiva sul-americana, que para ir mais longe sua economia precisa de “cérebros” (engenheiros, técnicos, cientistas da computação, etc) que podem desenvolver infraestrutura e potencial energético. E, de fato, o governo de Brasília, geralmente hostil à concessão de vistos facilitados, está mudando sua estratégia para receber pessoal qualificado: de janeiro a setembro de 2011 emitiu o 32% mais autorizações de trabalho para estrangeiros (para um total de 51.353).

Não apenas trabalho embora. Como ele de fato apontou Tito Boeri, professor de Economia na Bocconi em Milão, o Brasil também é “de longe o país do mundo que mais atraiu recentemente mais estudantes, especialmente alunos de graduação e doutorado, com uma lacuna abismal em relação à China. Mesmo que os EUA e o Reino Unido permaneçam em primeiro lugar”.

E os italianos e os gregos, que não têm nenhuma ex-colônia para se apoiar? Os helenos, apesar da dificuldade da língua, ultimamente alvo sólido Alemanha (melhor ir sem falta..), enquanto não temos um destino preferido: você pode encontrar made in Italy em todas as partes do mundo.

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