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Governo e burocracia: quem realmente manda na Itália? Sapelli e Giavazzi levantam o caso Canzio

Depois de Sapelli na entrevista de ontem ao FIRSTonline, Francesco Giavazzi também levanta o caso do Contador Geral do Estado, Mario Canzio no Corriere della Sera - A relação entre política e burocracia está esquentando e depois dos problemas de implementação das reformas enfrentadas pelo governo Monti o prazo no final do mês sobre as nomeações torna-se decisivo.

Governo e burocracia: quem realmente manda na Itália? Sapelli e Giavazzi levantam o caso Canzio

“Uma das razões, talvez a principal, pela qual o governo liderado por Mario Monti não cortou os gastos públicos foi a escolha de manter no lugar, quase sem exceção, todos os grandes burocratas que dirigem os ministérios”. Assim começa o editorial de Francesco Giavazzi publicado esta manhã no Corriere della Sera, indo direto ao cerne dos problemas. Quem adverte: “O novo governo tem até 31 de maio para decidir se confirma os altos dirigentes dos ministérios: chefes de gabinete e de gabinetes legislativos, chefes de departamentos, diretores-gerais. Quem não for explicitamente confirmado caducará automaticamente. É uma das escolhas mais importantes das próximas semanas”.

Giavazzi tem toda a razão e a do governo Monti - muitas reformas anunciadas mas poucas efetivamente implementadas devido à sabotagem da burocracia ministerial - é um caso de escola. Um caso que levanta um problema que não é novo, mas sempre preocupante: Quem realmente manda na Itália? Política ou burocracia? O Governo ou os superburocratas muito poderosos e imóveis?

A questão já havia sido levantada ontem por Giulio Sapelli que, ementrevista concedida ao FIRSTonlinehavia reclamado o primeiro lugar com o problema da Contadoria Geral do Estado, uma espécie de estado dentro do estado, e a oportunidade de mandar para casa seu dono, Mario Canzio. Nada pessoal, claro, mas um problema político e institucional do tamanho de uma casa, que hoje também dispensa Giavazzi. 

O que se atribui a Canzio e aos superburocratas? “Ter sabotado conscientemente – são as palavras de Sapelli – as decisões políticas tomadas pelo Governo e Parlamento em matéria de desenvolvimento”.

“Mario Canzio, o atual Contador Geral do Estado – escreve hoje Giavazzi no Corriere – ingressou no Departamento de Contabilidade em 1972, há 41 anos, como funcionário da Inspetoria Geral do Orçamento, órgão que controla os gastos públicos. Desde então, a despesa pública líquida de juros cresceu (a preços de hoje) cerca de 200 mil milhões, passando de 32 para 45% do PIB. Desde que foi nomeado Contador Geral, há oito anos, cresceu mais de 30 bilhões. 

Obviamente a culpa não é só do contador geral, mas há dois pontos que Giavazzi levanta com razão e que merecem ser trazidos à mesa: 1)"O monopólio da informação é a verdadeira razão do poder da burocracia”, mas esse monopólio tem de ser quebrado e quem tem de decidir – Governo e Parlamento – tem de possuir todos os elementos cognitivos para poder fazer as suas próprias escolhas no interesse do país; 2) O Contador Geral é uma nomeação vitalícia e isso também é um problema que precisa ser resolvido.

Numa época em que a substituição é exigida e por vezes realizada na política e em muitos setores da vida do país, ainda não é o momento de trazer um sopro de renovação e transparência até mesmo para a alta burocracia com um perene rodízio de superburocratas de um ministério para outro? O caso da Contabilidade talvez seja o mais marcante, mas não é o único. Queremos falar sobre Ministério dos Negócios Estrangeiros ou o Ministério do interior?

Sejamos claros: uma tecnoestrutura especializada e competente é essencial para uma boa governação e uma boa administração, mas as escolhas políticas não cabem aos superburocratas. E se, como não poderia deixar de ser, temos que acender os holofotes todas as castas, a da burocracia certamente não pode ser excluída.

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