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Finmeccanica, sem gestão de topo de Monti: Siemens renuncia à Ansaldo Energia e Pansa ganha terreno

Monti cancela cimeira de amanhã na Finmeccanica devido ao pôr do sol da fusão Bae-Eads mas os ventos de guerra mantêm-se - Siemens joga a toalha à Ansaldo Energia: a linha Grilli-Passera venceu, apoiada na espera por Alessandro Pansa, que sobe posições cimeira e abre caminho para o consórcio público-privado italiano – A quota de mercado sobe.

Finmeccanica, sem gestão de topo de Monti: Siemens renuncia à Ansaldo Energia e Pansa ganha terreno

ANSALDO ENERGIA, SIEMENS JOGA NA ESPONJA. NA FINMECCANICA +2,5% O PESO DA PANSA CRESCE

A Bolsa comemora, mas os ventos de guerra na sede da Finmeccanica (+2,5%) estão longe de se dissipar. Em resumo, esta é a primeira reação dos mercados à blitz anunciada na última sexta-feira: a descida à liderança do consórcio italiano (fundo estratégico, grupo Camozzi, Acciaierie Venete e Davide Usberti da Gas Plus) para a compra de 30% da Ansaldo Energia.

Uma jogada que responde a vários objetivos: 1) proteger o "espírito italiano" do grupo, mantendo 55% nas mãos da Finmeccanica e FSI; 2) agregar um núcleo conspícuo de pequenas e médias empresas em torno do Fondo Strategico Italiano sem infringir o estatuto que proíbe a FSI de adquirir ações majoritárias; 3) manter uma participação de 25% na própria Finmeccanica permitindo contudo ao grupo cobrar uma quota em numerário (cerca de 400 milhões contra os 700 oferecidos pela Siemens por 55%) e, sobretudo, desconsolidar as dívidas da Ansaldo Energia (1,2 mil milhões de facturação em 2011) do grupo.

Uma solução "política" que a concorrente Siemens já percebeu. Segundo o Financial Times, aliás, a partida já está decidida: "Siemens renuncia à operação italiana", escreve o jornal a fontes da sede de Munique, onde se anuncia que o grupo alemão não tem intenção de levantar a oferta inicial de 1,3 mil milhões já objeto de negociações conduzidas com o pessoal do presidente Giuseppe Orsi.

Vista pelos olhos da Siemens, que juntamente com a General Electric controla o mercado de turbinas, a operação da Ansaldo Energia tinha um sabor defensivo, explica o analista Martin Prozesky da Bernstein Research. “A razão para proceder a esta aquisição, a mais importante desde 2007 – explica – não foi tanto a abertura de novos mercados na zona mediterrânica, mas a preocupação dos impedir que qualquer concorrente de países emergentes coloque as mãos no know-how e na tecnologia da empresa italiana.

Além do valor industrial, a operação tem um valor político preciso. A entrada em cena da FSI marca um ponto a favor de Alessandro Pansa, gerente geral da Finmeccanica mas também membro do conselho de administração da FSI, contra o presidente Giuseppe Orsi, protagonista das negociações com os alemães da Siemens. Uma última peça no delicado jogo de xadrez que tem como palco a defesa italiana: Orsi é defensor da linha de transferências de participações "no core" (Breda, Ansaldo Energia, Sts) a qualquer custo, sem qualquer hesitação em relação a estrangeiros compradores. Uma linha que o ministro Corrado Passera não compartilha e que está na base do consórcio formado pelo FSI (com a colaboração ativa da Pansa).

Mas a divergência é muito mais profunda. Não é segredo que o presidente Orsi, promovido ao topo da holding por pressão da Liga, então no governo, não conta com a confiança do ministro da Economia, Vittorio Grilli. As notícias judiciais também não ajudaram a restaurar um clima de normalidade. Orsi, em conversa no restaurante com o ex-presidente do IOR, Ettore Gotti Tedeschi, interceptado pelos investigadores, trouxe à tona Grilli alegando que a ex-mulher do ministro teria obtido assessoria da Finmeccanica, afirmação desmentida pelos resultados do inquérito mesma auditoria interna da Finmeccanica mas, estranhamente, nunca tornada pública por Orsi (uma escolha que enfureceu o ministro).

Neste contexto, parecia que o confronto deveria acontecer amanhã no Palazzo Chigi, em reunião convocada para avaliar os possíveis cenários para a Finmeccanica após o casamento entre Bae e EADS. Mas, uma vez que a herança entre os grandes nomes da defesa europeia se esvaiu,  a urgência de elaborar um quadro de novas alianças na Europa e além desapareceu. Pelo menos aparentemente porque o mal-estar da Finmeccanica, que afeta a governança, as finanças, as opções de investimento industrial e as alianças, não é menos urgente.

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