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Descarbonização sem custos: o caso dos combustíveis residuais

Andrea Ballabio, Donato Berardi, Antonio Pergolizzi e Nicolò Valle redigiram este relatório para REF Ricerche que destaca que a contribuição de fontes renováveis ​​não é suficiente para alcançar os objetivos do Acordo de Paris e que, portanto, é necessário encontrar soluções alternativas na luta às mudanças climáticas – Aqui estão os

Descarbonização sem custos: o caso dos combustíveis residuais

Para atingir as metas estabelecidas no Acordo de Paris de 2015 sobre emissões de gases de efeito estufa, a contribuição de fontes renováveis ​​não é suficiente. Como explica um relatório recente da Fundação Ellen MacArthur, a energia verde pode - no máximo - contribuir para 55% da redução de poluentes até 2050, mas não mais. É necessário encontrar soluções alternativas, capazes de apoiar o combate às alterações climáticas. Entre as opções disponíveis está aquela que envolve algo que nossa sociedade produz e possui em abundância e com o qual tem que lidar constantemente: desperdício.

A adoção de métodos de tratamento que, ao invés da disposição em aterros, privilegiam a reciclagem realizada com sistemas tecnologicamente avançados apresentam excelentes resultados em termos de menor poluição do planeta. Segundo a União Européia, se esse caminho fosse seguido, A Itália sozinha evitaria lançar algo como 111 milhões de toneladas de gases de efeito estufa na atmosfera. Uma “lição” que aprendemos como cidadãos particulares com a obrigatoriedade da recolha seletiva a nível doméstico. No entanto, a reutilização de materiais através da reciclagem (do vidro se obtém mais vidro ou do alumínio mais alumínio e assim por diante) não é a única opção disponível para obter benefícios ambientais do que não é mais necessário.

Há outra com grande potencial: transformar o que é descartado em uma nova fonte de energia, menos poluente, para substituir os combustíveis fósseis (carvão, petróleo ou gás). Se ao menos esse "combustível" mais limpo fosse utilizado para alimentar a produção e, sobretudo, as atividades industriais, hoje responsável por uma parcela igual a 21% das emissões globais, pouparíamos toneladas de CO2 e muitos milhões de euros. Como costuma acontecer, há boas e más notícias. A boa notícia é que não estamos diante de um cenário “laboratorial”, com testes e experimentos ainda em andamento; na verdade, o "combustível" do tratamento de resíduos já existe, está pronto para uso e se chama CSS, sigla para Secondary Solid Fuel.

À semelhança da mais conhecida digestão de resíduos orgânicos e lamas (aeróbica e/ou anaeróbica), o CSS é outro sistema de recuperação de energia térmica e elétrica; este combustível de baixo teor de carbono é constituído pela fracção seca e pela fracção bio-seca resultante do tratamento mecânico-biológico de resíduos urbanos ou da combustão de fracções secas/húmidas combinadas de diversas formas. Vamos ao que interessa: até hoje o CSS é pouco utilizado, mal compreendido e muitas vezes contestado. O principal setor de utilização é o da indústria cimenteira. Os dados não deixam dúvidas: se o setor utilizasse CSS em vez de combustíveis fósseis, seriam 700 milhões de euros de poupança e 10 milhões de toneladas de CO2 evitadas todos os anos.

Ainda assim, há vários fatores que impedem a adoção total dessa solução. Vamos ver alguns deles.

  • Um elemento não negligenciável põe em causa o quadro regulamentar que é pouco claro e complicado. Nesse sentido, por exemplo, pesa muito o fato de serem reconhecidos dois tipos de CSS: um que é definido como resíduo (regido pelo artigo 183, parágrafo 1º, letra do código civil) do Decreto-Lei 152/06) e outro , por outro lado, é considerado não resíduo (ou seja, o CSS Combustível regulado pelo artigo 184 ter do Decreto Legislativo 152/06 mais conhecido como TUA). Embora ambos desempenhem a mesma função de combustível, portanto de valorização energética das frações de resíduos, o primeiro continua a ser um resíduo especial para todos os efeitos, enquanto o segundo perdeu essa qualificação merecendo o estatuto de verdadeiro combustível/produto. Uma ambiguidade lexical que contribui para criar confusão sobre como usá-lo, além das leis e normas que regulam o CSS e sua produção (como a Portaria n.22/2013).
  • Outro fator de frenagem é o procedimento que leva à obtenção do CSS que pode ser utilizado como combustível e que diz respeito aos tratamentos necessários aos resíduos que saem do MBT, processo que permite a valorização de materiais a partir de resíduos indiferenciados. De facto, apenas 13,8% dos resíduos urbanos que saem das fábricas de MBT (equivalente a 1,3 milhões de toneladas) são encaminhados para tratamentos posteriores como a refinação para produção de CDR ou bioestabilização (dados de 2017). Além disso, apenas uma fração das fábricas de MBT em operação possui as devidas autorizações e tecnologia para produzir CDR (tanto como resíduo quanto como produto). Isso significa que, em 2017, das 130 usinas em operação pesquisadas em todo o país, apenas 30% produziram SSF de forma genérica.
  • Há também um fardo de procedimentos burocráticos de autorização complexos, demorados e caros que levam até mesmo os usuários em potencial a desistir. Uma dessas preocupações o procedimento de renovação e revisão da Autorização Ambiental Integrada (AIA) e o - adicional - para obtenção do 3º Estudo de Impacto Ambiental (VIA). Este último é um requisito particularmente difícil de alcançar, o que é motivo suficiente para muitos gerentes de fábricas de cimento desistirem de seus planos de usar CSS.
  • Outro obstáculo para uma difusão real do CSS é representado pela descompasso entre oferta e demanda. Quem produz CSS tem um fluxo de entrada constante e a necessidade de encontrar um lugar rapidamente. Tudo isto colide com as flutuações do ciclo económico a que está exposto o lado da procura (fábricas de cimento). Soma-se a isso a situação internacional. No geral, portanto, as margens econômicas para a produção de combustível CSS são muito pequenas.
  • Por fim, não falta a oposição da opinião pública que, muitas vezes confundida por uma legislação excessivamente complicada, tem se manifestado contra o uso de CSS, considerando-o prejudicial à saúde. Uma oposição que em alguns casos convenceu até organismos públicos que, explorados ou temerosos de perder o consenso, se curvaram às posições dos comitês do "NÃO". Este breve panorama deixa a amargura que se sente diante de um projeto que tem todas as características para dar certo e que, no entanto, por motivos totalmente externos não consegue decolar. O DM n.22/2013 que regulamentou seu uso, mais de cinco anos após sua entrada em vigor, tornou-se um exemplo de quanta dificuldade a economia circular faz para encontrar espaço em um sistema de país engessado por lógicas e modelos baseados no modelo linear economia, com muitos preconceitos e crenças errôneas sobre desperdício e energia.

O CSS, sobretudo na sua variante end of waste (EoW) de combustível de alta qualidade, deveria ter dado respostas concretas tanto no sentido de fechar o ciclo integrado do lixo como de substituir os combustíveis fósseis por outras alternativas. Não somente. Poderia ter ajudado a reduzir a dependência energética do exterior do nosso país, produzindo energia a custos reduzidos e com baixo teor de carbono para ser utilizada em substituição às fontes fósseis. . Os atuais insucessos não devem conduzir ao abandono desta solução, mas sim ao seu relançamento numa base diferente.

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