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Brasil e Peru: um grau de investimento bilateral

Se a economia do Brasil está sentindo os efeitos das políticas restritivas com queda de 1,2% no PIB, no Peru a sólida posição externa e fiscal sustenta a credibilidade do país, apesar da tendência econômica negativa em matérias-primas.

Brasil e Peru: um grau de investimento bilateral

O economia brasileira registou três trimestres consecutivos de tendência de queda do PIB. O crescimento do PIB quase parou em 2014, situando-se em modestos 0,1%, que compara com 2,7% no ano anterior. Economia brasileira sente os efeitos das políticas monetária e fiscal restritivas visando combater a inflação, a queda da taxa de câmbio e a deterioração das finanças públicas. As previsões mais recentes apontam para uma queda do PIB real de 1,2% para este ano, seguindo-se uma recuperação contida (+1% em 2016). Essas projeções estão em linha com as contidas no World Economic Outlook (WEO) do FMI de abril, que estima que o PIB do Brasil cairá 1% em 2015, enquanto para 2016 projeta crescimento de 1%.

Em abril de 2015, a taxa de inflação anual subiu para 8,2%, o nível mais alto desde 2013, mantendo-se pelo quarto mês consecutivo acima do limite superior do intervalo da meta (4%, +/-2,5%). A inflação deverá manter-se no topo do intervalo ao longo do ano, terminando nos 8,2%, antes de abrandar significativamente no próximo ano, terminando 2016 nos 5,5%. Nesse contexto, nos primeiros meses do ano, o Banco Central deu continuidade ao ciclo de política monetária restritiva iniciado em meados de 2013. Além disso, entre janeiro e maio de 2015, o real desvalorizou mais 14% em relação ao dólar norte-americano. De abril de 2013 até o final de 2014, o real perdeu metade de seu valor em relação ao dólar, passando de 2 para 3 reais: 1 USD, onde o FMI destacou uma sobrevalorização da taxa de câmbio real efetiva no final de 2014 (igual a 85) entre 5% e 15%. Durante o primeiro trimestre deste ano, a taxa de câmbio efetiva real desvalorizou 10%, enquanto no médio-longo prazo, a moeda deverá receber suporte das políticas de ajuste de desequilíbrio lançadas recentemente pelo Governo.

Em 2014, o setor público registrou déficit primário de 0,6% do PIB, ante superávit de 1,9% no ano anterior. Para o ano corrente, o governo estabeleceu como meta um superávit primário de 1,2% do PIB. Apesar da fragilidade da demanda interna, o déficit em conta corrente subiu para 4,2% do PIB em 2014 (US$ 104 bilhões), ante os 3,4% anteriores. Durante o mesmo período, o superávit da conta financeira subiu para US$ 110,7 bilhões, apoiado pelo IED (dos quais 60% devido a empréstimos intercompanhias) e carteira de investimento estrangeiro, impulsionado pela subida das taxas de juro e pela abolição do imposto sobre os fluxos de capitais de curto prazo. No final de março de 2015, o Brasil acumulava reservas em moeda estrangeira no valor de 354,7 bilhões de dólares, contra uma necessidade de financiamento externo estimada em 221 bilhões (rácio de cobertura de reservas de 1,6).

Todas as três principais agências continuam a classificar a dívida soberana do Brasil como "grau de investimento" (BBB- para S&P, BBB para Fitch com perspectiva negativa e Baa2 para Moody's com perspectiva negativa).

O cenário muda e Intesa Sanpaolo nos leva aos Andes, do lado peruano. ano passado o crescimento real do PIB de 2,4%, foi menos de metade dos +5,8% registados em 2013, influenciado sobretudo pela fraca conjuntura externa, nomeadamente no que diz respeito ao mercado das matérias-primas. Diante do enfraquecimento da economia, As autoridades peruanas tomaram uma série de medidas para apoiar a demanda nos últimos meses, incluindo cortes de impostos, investimentos em obras públicas e cortes nas taxas de juros. O impacto destas medidas na procura interna deverá ser mais sentido nos próximos trimestres. Analistas esperam que o PIB real suba 3,9% este ano. Espera-se que o crescimento acelere ainda mais em 2016 (+5% de acordo com o FMI) graças a investimentos anteriores em mineração. No entanto, essas previsões parecem excessivamente otimistas sem uma recuperação real do ciclo de matérias-primas e da demanda doméstica.

Durante a maior parte de 2014, a taxa de tendência da inflação manteve-se acima do limite superior do intervalo da meta (2±1%), fechando o ano em 3,2%. O Banco Central espera que a tendência caia em torno do valor central da banda-alvo até o final do ano. A principal instituição de crédito manteve inalterada a taxa directora, tendo reduzido por diversas vezes o rácio das reservas obrigatórias sobre os depósitos em moeda local (o último em Maio passado), elevando-o para os actuais 7,0%, face a 11,5% há um ano. Nos últimos dois anos, o nuevo sol perdeu mais de um quinto de seu valor em relação ao dólar, passando de 2,60 PEN 1 : USD em meados de 2013 para os atuais 3,15 PEN. No mesmo período, a taxa de câmbio efetiva real desvalorizou cerca de 5%, para 103, embora tenha permanecido acima de sua média de longo prazo (99).

Em 2014, o Orçamento do Estado registou um défice de 0,1% do PIB (face a um superávit de 2% registrado no ano anterior) pela primeira vez desde 2010. Este ano o défice deverá subir para 2% do PIB na sequência das medidas de estímulo. A dívida pública, que tem vindo a diminuir continuamente nos últimos anos, encontra-se contida, igual a 20% do PIB em 2014. Balanço de pagamentos do Peru mostra déficit em conta corrente (3,1% do PIB a média dos últimos cinco anos), determinado principalmente pela remuneração do capital estrangeiro investido no país. Em 2014, os fluxos de capitais não foram suficientes para cobrir todo o déficit atual e o balanço de pagamentos fechou com déficit de 2,1 bilhões ante superávit anterior de 2,9 bilhões. No final de dezembro de 2014, as reservas cambiais caíram de 60,3 bilhões para 63,2 bilhões. As reservas cobriram amplamente as necessidades financeiras externas de 2015, estimadas pela EIU em 20,4 mil milhões (rácio de cobertura das reservas de 3).

Aqui está então que, apesar da tendência negativa das matérias-primas, uma política económica consistente, credível e flexível, sólida posição externa e fiscal (graças a uma baixa dívida pública e externa em relação ao PIB), a elevada cobertura da exigência externa garantida pelas reservas cambiais e pela disponibilidade no Fundo Soberano, suportam a notação de investimento não especulativo (A3 para Moody's, BBB+ para S&P's e Fitch) atribuídos por agências de rating à dívida soberana em moeda peruana.

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