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Berta: "O capitalismo italiano acabou na Série B: vai subir de novo?"

ENTREVISTAS DE FINAL DE SEMANA – O historiador econômico Giuseppe Berta se pergunta em seu recente livro “O que aconteceu com o capitalismo italiano?” publicado por "il Mulino", como e por que "desde 90 a Itália tentou se conectar ao trem da Serie A" mas, depois da grande crise e do impasse na Europa, "acabou em um beco sem saída" - explica o avanço americano de Renzi, mas não esquece a tradição de independência de La Pira – a Itália – diz Berta ao FIRSTonline – pode voltar atrás, mas deve inventar um novo modelo após o declínio da grande empresa

Berta: "O capitalismo italiano acabou na Série B: vai subir de novo?"

Que relação existe, se é que existe, entre a evolução do capitalismo italiano e nossas escolhas de política externa? “Obviamente a relação existe, e sempre existiu. Mesmo que seja um aspecto negligenciado na maioria das vezes”. ele responde assim Giuseppe Berta, professor Bocconi de história econômica, um atento observador da evolução da economia italiana no último século que acaba de publicar um ensaio de cunho muito crítico e com o título: “O que aconteceu com o capitalismo italiano?”. Ele caiu, sim, voltou para a Série B, responde Berta, mas não é um drama. Desde que saibamos estar cientes do novo local. Mesmo no contexto das balanças internacionais.

“Nosso desenvolvimento a partir de 45 – diz Berta – é resultado do resto do alinhamento com a estratégia americana. É sob a égide do Pacto Atlântico que o grande capital italiano angaria os meios necessários ao seu desenvolvimento, como nunca havia acontecido, nem mesmo na era Giolitti. É neste quadro que prevalece a opção pela grande indústria em detrimento da visão de Luigi Einaudi para quem, como escreve, "a nação italiana é uma nação de camponeses proprietários ou aspirantes à propriedade da terra, uma nação de artesãos com grandes mas não dominantes manchas de proletariado nas cidades”. Uma sentença que percorreu o debate na Câmara no pós-guerra: apenas Vittorio Valletta para a Fiat e Oscar Sinigaglia alinhavam-se para um futuro da grande indústria.

“Sinigaglia é fruto da grande época do nascimento do IRI, concebido por Alberto Beneduce, grande inimigo de Einaudi, em nome de Mussolini. O capital americano oferecerá à Itália pós-fascista a oportunidade do grande salto na indústria. Uma época feliz…”. Certo. Mas provavelmente irrepetível depois da queda do Muro de Berlim que fez decair o valor estratégico da Itália, já um posto avançado da Guerra Fria”. A consequência? “A Itália joga a cartada europeia, embora esteja ciente do fosso que nos separa da chamada Europa central. O homem-chave desta transformação é Guido Carli que trata das modalidades de nossa entrada que prevê mudanças substanciais. A fórmula da economia mista está chegando ao fim, nossas instituições se deparam com estruturas mais sólidas. Não se dá o devido destaque à dívida pública que começa a aumentar nesses anos".

Chegamos ao presente. “A partir da década de 2008, a Itália tentou entrar no trem da Série A. Um objetivo que, até a eclosão da crise de 09/XNUMX, parecia possível, depois a empreitada tornou-se cada vez mais difícil. Hoje há uma sensação de que chegamos a um beco sem saída: conciliar a recuperação com os parâmetros exigidos pela Alemanha para permanecer no movimento europeu é cada vez mais difícil. Aos olhos de muitos muito difícil”. Daí o descontentamento da opinião pública e a virada de Matteo Renzi para Washington. “Há método nas últimas ações do governo. Até agora já foi reconhecido que uma solução europeia para Monte Paschi não existe ou, de qualquer forma, não é apoiada pela UE. A Itália, como sempre sedenta de capital, encontra-o na China, no Oriente Médio ou nos bancos dos Estados Unidos – cada vez menos na Europa”. De volta à escolha atlântica? "Com algumas novidades: a oposição a novas sanções contra a Rússia, por exemplo, é uma manifestação de independência na tradição de La Pira, prefeito de Florença querido pelo primeiro-ministro".

Como essa narrativa se reflete no capitalismo italiano? “No livro tento explicar como a geografia do novo capitalismo californiano mudou, em nosso detrimento. Os vários Googles ou Apples controlam o software e gerenciam a fabricação em escala globalem busca das melhores condições. As estruturas piramidais do velho capitalismo estão em crise. Um mundo atomizado de trabalho está sendo desenhado. Enquanto isso, à medida que se afasta dos centros das empresas tecnológicas, passa-se da alta tecnologia para o trabalho de baixo custo. E se pergunta que chances terão os sistemas econômicos dos países que, pouco a pouco, tendem a deslizar do centro para as periferias da nova economia-mundo?”. Parece uma foto desesperada. “Não quero ser um médico miserável – responde o historiador de Mirafiori e da indústria que foi -. Quando, como hoje, num país como a Itália 20% das empresas produzem 82% do produto interno bruto, é preciso refletir sobre a missão e a função dos 80% que apenas vegetam, como um exército de zumbis. Seguindo em frente assim, o futuro é realmente difícil”.

No entanto, a Itália tem pontos fortes inegáveis ​​em empresas de médio porte, aqueles que o Mediobanca registra em sua análise do quarto capitalismo e nas realidades dos bairros, objeto de pesquisas periódicas do Intesa San Paolo. “Mas o capitalismo leve – objetou Berta – não é o antídoto para a decadência econômica”. São empresas, explica, que estão à vontade numa faixa inferior aos grandes jogos globais, os da Série A. São a nossa força, mas não são e não podem ser a versão italiana de um capitalismo que se move, com extrema rapidez enorme capitais. É um pequeno cosmos que luta menos (mas ainda luta…) para manter o ritmo em termos de produtividade e lucros. Na última década, portanto, o número de médias empresas caiu para menos de 4.000 unidades (1.330 a menos que o pico de 2007, antes da crise), mas a participação das empresas manufatureiras controladas no exterior dobrou, de 14,3 para 26,7%. Não é um fenômeno negativo.

“As multinacionais – comenta Berta – são agentes ativos de mudança: é melhor se fundir em realidades maiores do que desaparecer”. Seja como for que se inverta a questão, em suma, surge a necessidade de recuperar um novo modelo para a Itália, reconhecendo que o do grande negócio, tão caro aos grandes nomes numa curta e já esgotada temporada (de Guido Carli, a Avvocato Agnelli e além) deu lugar agora à outra Itália, já apreciada por Luigi Einaudi, que tanto amou aquela Itália "feita de terra, lavradores e suor" que hoje se apresenta de novo sob a forma de uma economia intermédia e “que precisa – conclui Berta – de enquadramentos e infraestruturas a construir de raiz, a partir de plataformas digitais”. A Itália de Adriano Olivetti e Giorgio Fuà capaz de combinar modernidade e território, desconfiada do capital que se concentra no controle de jornais e bancos, com a constante tentação de contornar regras e reguladores fracos.

O plano 4.0 do ministro pode servir conforme necessário "desde que não se limite à superdepreciação". Mais ainda, porém, é urgente que a economia reencontre estruturas capazes de representá-la. “Os sindicatos deveriam abandonar os esquemas atuais para ouvir uma demanda que surge, inédita, do mundo do trabalho”. E a Confindustria? “O Boccia foi eleito por grupos de poder interno e por grupos públicos. Dificilmente representará as vozes mais vivas do empreendedorismo”, aquelas que poderiam dar força à Itália do Einaudi 2.0. Talvez menor, menos ambicioso (ou menos irrealista) que o passado recente, mas justamente por isso capaz de retomar um caminho interrompido antes mesmo da grande crise.

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