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Roma, Marino escorrega em Acea

ENTREVISTA COM INNOCENZO CIPOLLETTA – “Acredito que o melhor caminho para o Município é vender a sua participação (hoje igual a 51%) no todo ou em parte, mantendo-se assim como utilizador da empresa de abastecimento de água e electricidade. A venda ajudaria a recompor o orçamento”: o economista, ex-diretor geral da Confindustria, Marino Sticks.

Roma, Marino escorrega em Acea

Agora que o decreto para salvar Roma da falência foi assinado pelo Quirinale, o prefeito Ignazio Marino tem 90 dias para apresentar um plano de recuperação do orçamento do município, que deve passar pela reestruturação ou venda das empresas deficitárias, melhor aproveitamento de pessoal e melhoria de todos os serviços para aumentar a arrecadação dos cofres municipais. O que o prefeito decide fazer em vez disso? Ataca uma das poucas empresas controladas pelo Município que vai bem e que de facto melhorou significativamente as suas contas, nomeadamente a Acea.

Marino gostaria de reduzir o conselho de administração a cinco membros e mudar de presidente e CEO, com a ideia de que assim pouparia duzentos ou trezentos mil euros, uma cifra irrisória para uma empresa que capitaliza em bolsa mais de dois mil milhões. Outras razões não foram expressas e não parecem existir no momento.

Innocenzo Cipolletta, economista, ex-gerente geral da Confindustria e presidente dos Fs, julga equivocada e contraproducente a atitude de Marino, que deveria dedicar sua atenção a muitas outras empresas da galáxia controladas pela Prefeitura de Roma, que registram terríveis déficits orçamentários. 

“Em primeiro lugar – afirma Cipolletta – Marino não considera que a Acea seja uma sociedade cotada onde existem muitos outros pequenos e grandes accionistas, e que por isso não pode ser tratada como se fosse qualquer repartição do Município, sob pena de haver o risco de criação de perturbações de mercado com perda de valor da empresa”.

Além disso, nos últimos 12 meses, o valor de mercado da Acea mais que dobrou (+113%) e houve melhorias significativas em termos de eficiência operacional e resultados econômicos.

“Além disso – lembra Cipolletta – o CEO Gallo está no cargo há menos de um ano e, ao contrário do presidente, foi escolhido profissionalmente e não por filiação política. Creio que o melhor caminho para o Município é vender a sua parte (hoje igual a 51%) total ou parcialmente, mantendo-se assim como utente da empresa de distribuição de água e electricidade, evitando assim a velha e odiosa prática de subdivisão política, e o potencial conflito de interesses objectivamente existente entre quem é simultaneamente proprietário e um dos maiores clientes do serviço prestado. A venda da participação, por outro lado, ajudaria a repor o orçamento da autarquia e também daria meios para realizar aqueles investimentos e reformas essenciais para a revitalização da cidade”.

Cipolletta cita, por exemplo, o caso da valorização da área da antiga Fiera di Roma no Colombo, mas também é urgente pensar na reestruturação de Atac e Ama, que têm níveis de eficiência simplesmente escandalosos. E os acordos sindicais para um corte modesto nos salários dos executivos, que são, aliás, em número desproporcional, certamente não são suficientes para nos fazer acreditar que a recuperação começou. 

Em última análise, parece que Marino, perante a dramática necessidade de lançar um plano de recuperação das finanças municipais que deverá reduzir as despesas em pelo menos 5 ou 600 milhões por ano, tenta jogar areia nos olhos dos cidadãos, para evitar enfrentar os problemas mais espinhosos. Resta esperar que o Ministério da Economia, que por lei terá de aprovar o plano de reequilíbrio financeiro de Roma, mantenha os olhos abertos e não se contente com meras medidas de fachada, que na verdade podem ser prejudiciais.

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