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Presbítero: a consolidação da dívida proposta por Fratianni e a lição da Jamaica

COMPARAÇÃO SOBRE A PROPOSTA DE FRATIANNI – Andrea Presbitero, da Universidade Politécnica de Marche, reflete sobre as vantagens e dificuldades da proposta de Fratianni de estender a duração dos títulos do governo italiano à luz das experiências internacionais (do plano Brady à Argentina, do Uruguai para a Jamaica)

Presbítero: a consolidação da dívida proposta por Fratianni e a lição da Jamaica

Um dos aspectos fundamentais para poder analisar as possíveis saídas da crise da dívida na Europa é a necessidade de ter uma série de opções de política, cada uma das quais apresenta de forma clara e definida, na medida do possível, os custos e benefícios.
Se a solução temida é alcançar um orçamento equilibrado, quais serão os custos em termos de crescimento potencial? Quais são as diferentes consequências de agir do lado das despesas ou das receitas? É realmente realista pensar em um contrato fiscal expansionista e em que condições? Quanto custaria realmente uma possível saída do Euro, e quem arcaria mais com os custos? Quais seriam os custos de uma reestruturação parcial da dívida para o sistema financeiro e para os detentores de títulos públicos? Existe realmente um custo de longo prazo, em termos de diferencial de taxa de juros, devido à inadimplência parcial ou os mercados, como sugerido pelo artigo, tendem a ter memória curta?

Parece-me que o artigo de Michele Fratianni ("É hora de consolidar a dívida pública: aqui estão as vantagens de estender os títulos do governo" no FIRSTonline de 25 de outubro de 2011) vai no sentido de esclarecer os custos e benefícios das opções possíveis , com foco em uma possível consolidação da dívida. No entanto, existem dificuldades. Como determinar, por exemplo, até onde é preciso ir para reduzir a dívida? Há um problema de credibilidade: basta os mercados demonstrarem que podem reduzir a relação dívida/PIB em 20% ou em 50%? Outra escolha prende-se com a possibilidade de actuar sobre a dívida externa ou interna, fazendo com que a manobra "remunere" sobretudo os residentes ou o sector externo.

Para tentar se orientar entre as opções possíveis, seria aconselhável olhar para o que foi feito em outros lugares, em um passado mais ou menos recente. As experiências do plano Brady, da crise argentina e da consolidação da dívida uruguaia podem nos ensinar algo. Mais recentemente, podemos observar a experiência da Jamaica, embora seja uma economia muito diferente em termos de níveis de desenvolvimento, tamanho e estrutura econômica das europeias.

Na Jamaica, nos últimos anos, a dívida pública ultrapassou 130% do PIB e os gastos com juros atingiram 25% do PIB, provocando uma forte contração do investimento público e do gasto social, uma desaceleração da produtividade e a consequente estagnação econômica. Em 2010, o governo, juntamente com o Fundo Monetário Internacional (FMI), implementou um plano de reestruturação da dívida (Jamaica Debt Exchange – JDX), visando reduzir o prazo médio da dívida interna e a taxa média de juros aplicada aos novos títulos. O plano, destinado a preservar a estabilidade do sistema financeiro (detentor de grande parte da dívida interna), envolveu quase a totalidade do stock da dívida elegível (65% da dívida interna) e traduziu-se numa redução das despesas com juros, na ordem dos 3% do PIB. Globalmente, trata-se de uma manobra que não resolve totalmente o problema, uma vez que a dívida ainda se encontra em níveis elevados que comprometem a sua sustentabilidade futura (ver Artigo IV do FMI de 2010 e um documento mais crítico do CEPR). No entanto, o que é relevante para a experiência europeia é a possibilidade de desenhar planos de reestruturação o mais eficientes possível.

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