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Giorgio La Malfa: "Se a dívida pública não for reduzida, não há saída para a crise: desinvestimentos imediatamente"

ENTREVISTA COM GIORGIO LA MALFA - "É um erro perseguir freneticamente os mercados e visar apenas a redução do déficit" - Em vez disso, é necessário "um vasto plano de privatizações" - Menos impostos sobre o trabalho e mais IVA, mas ativos apenas sobre imóveis - "Deixe Berlusconi que Tremonti não tenha mais credibilidade política"

Giorgio La Malfa: "Se a dívida pública não for reduzida, não há saída para a crise: desinvestimentos imediatamente"

“Temos que enfrentar uma emergência muito séria, mas se continuarmos a perseguir os mercados freneticamente, corremos o risco de adicionar confusão à confusão até chegarmos ao verdadeiro caos. Estamos diante de um governo irresponsável que não preparou absolutamente nada para enfrentar racionalmente a crise e também a intervenção ontem à noite do presidente Napolitano corre o risco de pressionar por um novo pacote de medidas que, no entanto, no final, não poderá dar os resultados desejados. ” Giorgio La Malfa há mais de um ano deixou o PDL em polémica com a paralisação do Governo na frente das reformas, para se juntar ao terceiro polo, do qual é parlamentar. Ele confirma sua crítica a Tremonti, que recentemente declarou que nunca foi otimista e, no entanto, "se comportou como um otimista" tanto que nesses três anos nada fez para enfrentar uma possível crise, e quando ela pegou completamente despreparado.

PRIMEIRO Online – Mas talvez a origem e o ponto central da fraqueza da Itália não estejam claros nem para o governo nem para parte da oposição.

Jorge La Malfa
– A delicadeza da nossa situação não reside tanto no défice anual ou no baixo crescimento, mas sobretudo na enorme dívida pública acumulada ao longo dos anos e que temos de refinanciar nos mercados de todo o mundo. Quando as operadoras começaram a ter dúvidas sobre a capacidade de nosso país pagar suas dívidas, a crise explodiu de repente. O problema reside no facto de o Governo estar a tentar resolver este problema apenas do ponto de vista da contenção do défice anual, sem qualquer iniciativa para reduzir drasticamente o montante da dívida. têm muitas falhas, levam a economia à depressão, ou seja, provocam uma redução ou pelo menos uma estagnação do PIB. Isso, por sua vez, piora a relação dívida/PIB e, portanto, nos faz entrar em uma espiral em que sempre são necessárias novas manobras que, por sua vez, acentuam a depressão da economia. E, portanto, a confiança dos mercados não é recuperada por esse caminho e a economia italiana é destruída.

PRIMEIRO Online – Então, por onde devemos começar para tentar sair da crise?

Jorge La Malfa
– Em primeiro lugar, é necessário tentar reduzir significativamente a dívida através de um plano imediato de alienação de bens públicos, tanto do Estado como das autarquias locais. Tanto as empresas controladas pelo Tesouro (Enel, Eni, Bancoposta) como as controladas pelas Regiões e Municípios devem ser prontamente colocadas no mercado, assim como grande parte dos ativos imobiliários que muitas vezes não são utilizados ou são mal utilizados. Isso não apenas permitiria que a relação dívida/PIB caísse rapidamente abaixo de cem por cento, mas também teria um efeito racionalizador e moralizador na vida política, porque tiraria das mãos dos romanos e dos políticos locais os centros de poder que são muitas vezes usado apenas em forma de patrocínio.

PRIMEIRO Online – Muitos pensam que esta operação de redução da dívida poderia ser realizada com um ativo da parte mais rica da população italiana que poderia render 200 ou 300 bilhões de euros, além de ter um efeito equalizador entre as várias categorias sociais dos sacrifícios que são exigidos para remediar a situação.

Jorge La Malfa
– Não creio que uma empresa imobiliária possa dar esse valor. Isso nunca aconteceu no passado conosco ou em qualquer outro país. Sejamos claros, um imóvel com taxas moderadas sobre imóveis seria um complemento útil e adequado à alienação de bens públicos e permitiria, possivelmente em conjunto com o aumento do IVA, aliviar a carga fiscal dos trabalhadores e das empresas de forma a repor algum competitividade à nossa economia. Relativamente aos bens móveis (dinheiro e valores mobiliários), para além da dificuldade de encontrar todos os detentores, se incluir obrigações do Estado, assemelhar-se-ia muito a um incumprimento não declarado e não teria efeitos positivos no restabelecimento da confiança do mercado que precisamos muito.

PRIMEIRO Online – Mas nestas horas tenta-se fortalecer a manobra com intervenções nas pensões e outros cortes propostos pelo terceiro pólo. Seria o suficiente?

Jorge La Malfa
– As emendas do Terceiro Pólo estão corretas, mas é uma manobra que substitui em grande parte a do Governo. Neste momento, receio muito que o Governo venha a adicionar desesperadamente outras medidas pouco estudadas sobre as pensões ou sobre o IVA porque isso teria um efeito ainda mais depressivo sobre o PIB e, portanto, afastaria uma recuperação efetiva do país. Repito que precisamos começar pelo endividamento e, portanto, por um programa de ampla e rápida alienação do patrimônio público.

PRIMEIRO Online – Mas mesmo que a dívida fosse reduzida, não seria necessária uma nova governança para mudar os mecanismos do gasto público, de forma a garantir que a dívida não se repita em pouco tempo?

Jorge La Malfa
– Claro que sempre disse que o federalismo, ao multiplicar os centros de gastos, teria levado a um déficit público maior. Precisamos revisar todo o sistema e atribuir responsabilidades precisas a cada centro de despesas.

PRIMEIRO Online – Mas será que tudo isto pode ser feito por um governo que foi apanhado despreparado e que por várias razões perdeu muito da sua credibilidade?

Jorge La Malfa
– Temos que navegar em águas realmente tempestuosas. O euro tem se mostrado uma construção estruturalmente frágil e certamente inadequada para lidar com uma grave crise global como a atual. Surpreende-me que até Delors, um dos pais do euro, tenha manifestado dúvidas sobre o destino da moeda europeia. Isso não significa que não tenhamos que enfrentar nossos problemas subjacentes. O primeiro é o da massa de dívida pública que arrastamos há anos sem fazer nada. E é claro que este governo não está mais em condições de fazê-lo. Tanto Tremonti quanto Berlusconi não têm mais credibilidade política. A Liga está em crise e talvez já não esteja em harmonia com o norte do país. Alfano não parece capaz de enfrentar com determinação uma situação tão dramática. Mas como criar um novo governo que veja juntos o Pd, o Terceiro Pólo e pelo menos mais um responsável do Pdl? Os católicos que estão no PDL são capazes de assumir a responsabilidade de favorecer uma evolução do quadro político, nem que seja para enfrentar a emergência e salvar a Itália de uma verdadeira catástrofe econômica e social?

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