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Eficiência energética: como mudar usos e hábitos

Discurso do DIRETOR EXECUTIVO DO GRUPO HERA – Melhorar o uso de energia, não só nas residências, mas também nas empresas e na administração pública, exige inovação tecnológica e medidas comportamentais: as resistências iniciais devem ser superadas. Incentivos úteis, mas não devem entrar em conflito com outros benefícios. Nós da indústria 4.0

Eficiência energética: como mudar usos e hábitos

Um pouco como a folha de relva, que não cresce a partir das pontas mas sim através das suas partes intermédias, o desenvolvimento da eficiência energética requer também um compromisso generalizado em que contexto, graças a uma abordagem holística, todos os actores - individuais e colectivos, grandes e pequenos – tornam-se protagonistas da mudança. Somente se certos comportamentos conseguirem se enraizar em larga escala, de fato, será possível contribuir de fato para conter as emissões de gases que alteram o clima.

"Na prateleira", por outro lado, não existem produtos tecnológicos cuja mera adoção a eficiência energética possa ser alcançada diretamente com certeza e em larga escala. A tecnologia pode ajudar, mas não basta: a todos os níveis, quem quer fazer a diferença deve sobretudo mudar práticas e hábitos estabelecidos, aliando criativamente inovação tecnológica e medidas comportamentais.

Isto é verdade dentro de casa, onde pequenas atenções destinadas a limitar o consumo de água e energia podem gerar benefícios iguais aos derivados da instalação de caldeiras de condensação de última geração.

Mas também se aplica ao setor industrial, onde a concentração de pontos de consumo é maior do que nos tradicionais setores doméstico e terciário. Certamente muito foi feito na Itália, sobretudo sob a pressão dos altos custos de energia que caracterizam historicamente nosso setor produtivo, mas o potencial inexplorado ainda é muito vasto. Em muitos casos, aliás, trata-se de intervenções relativamente contidas: embora envolvam uma percentagem mínima do consumo total da empresa, de facto, conseguem ser significativas em valor absoluto, favorecendo o alcance de importantes metas de eficiência que, uma vez alcançadas, tornariam um contribuição apreciável para a redução das emissões de CO2 e a parcela do efeito estufa que dela depende. Basta dizer que uma empresa química de médio porte, capaz de reduzir seu consumo de energia em apenas 2%, poderia economizar energia primária em quantidades semelhantes ao consumo anual de 130 residências. Melhor programação das linhas de produção, eliminação de desperdícios de produção, redução da operação ociosa, otimização da regulação são apenas alguns exemplos de medidas comportamentais que podem render frutos mesmo com poucos equipamentos físicos.

No entanto, para o efeito são necessárias competências transversais e multidisciplinares, capazes de construir lógicas de modulação, digitalização dos processos produtivos e gestão estratégica dos dados adquiridos, também com adoção de modelos de inteligência artificial. O desafio é, portanto, complexo e não há atalhos para superá-lo, principalmente no que diz respeito ao eixo do tempo.

Consistente com o papel de habilitação que as multiutilidades são chamadas a realizar a favor da mudança, o Grupo Hera atua em diversas frentes, clientes residenciais, empresas e Administração Pública. No entanto, ainda há um longo caminho a percorrer, até porque nem todos os players estão a enveredar pelo caminho da eficiência energética com a mesma convicção. Não há, em retrospectiva, uma resposta única para explicar esses atrasos.

Podemos começar, acredito, com uma consideração de natureza psicológica. De facto, sobretudo se for exigente e complexa, uma ação não é realizada tanto por razões de princípio mas sim, como demonstram os estudos de Richard Thaler (2014) sobre ocomportamentos economicos, com base em outros fatores, incluindo a atenção ao que os outros estão fazendo e a chamada “aversão à perda”, que no caso da eficiência energética leva a lamentar o gasto devido ao consumo insuficientemente eficiente. As hipóteses de Thaler, confirmadas por uma experiência realizada na Califórnia sobre o consumo de energia de 300 famílias, assentam em pressupostos semelhantes aos que oportunamente se orienta o sistema comunitário europeu que, já com a Diretiva 2012/27/UE, demonstrou ter claras o potencial decorrente da mera modificação do comportamento de consumo de energia.

Infelizmente, apenas alguns dos Estados-Membros começaram a traduzir tudo isto em políticas de estímulo coerentes e a construir o que o próprio Thaler define como a "arquitectura das escolhas", ou seja, aquele conjunto de condições que favorecem a adopção de medidas comportamentais funcionais à eficiência energética. Deste último ponto de vista, uma feliz exceção é representada pela Itália, que expressa posições de vanguarda sobre o assunto. Estou a pensar na instalação massiva de contadores electrónicos para medir o consumo doméstico, mas penso também – na indústria – no lançamento do programa europeu de auditoria energética, todas medidas essenciais para estimular eficazmente mudanças de comportamento. Adicionalmente, com o decreto de 11 de janeiro de 2017, o nosso país estabeleceu que a adoção de medidas comportamentais visando a eficiência energética é também uma das ações que podem aceder aos contributos previstos no regulamento dos certificados de eficiência energética (TEE).

Demonstrando grande clarividência, o legislador evitou então limitar o domínio das medidas comportamentais apenas aos utilizadores domésticos, abrindo-o assim à sua declinação também para outros domínios como o industrial, cujo potencial ainda está largamente por expressar. A intuição está correcta, até porque a arquitectura das escolhas em que se insere um empresário é mais articulada do que aquela em que se desenvolve o comportamento de um utente doméstico, para o que podem bastar algumas indicações claras. No momento, para muitas empresas, os investimentos em eficiência energética estão fora do chamado “caminho de menor resistência” que os executivos costumam seguir.

Mais uma vez, existem várias razões. Certamente pesa muito a falta de competências transversais, graças às quais se possam identificar e implementar medidas de eficiência, maioritariamente compostas, não estandardizáveis ​​e irredutíveis à mera aquisição de um determinado dispositivo. Acrescente-se a isso que as iniciativas de eficiência energética - além de não conseguirem reduzir drasticamente os custos operacionais por conta própria - são percebidas como uma fonte potencial de interrupção da continuidade da produção e lutam para atender aos limites de rentabilidade exigidos, que são muito superiores aos aceitos para as atividades core, considere bom ter.

Por estas razões, continua a ser essencial um incentivo estruturado e credível, não só para vencer as resistências à partida, mas também porque se tratam de intervenções que só produzem um retorno aceitável ao longo do tempo. No entanto, é fundamental que não se crie um conflito, por exclusão mútua, entre incentivos relativos a objetivos complementares: as isenções fiscais previstas pelo programa Indústria 4.0, por exemplo, impulsionam uma modernização tecnológica que não persegue necessariamente objetivos de eficiência e de fato, em alguns casos, também pode levar a um aumento na intensidade energética. Nesse sentido, seria oportuno relançar o tema da certificação ISO 50001, que hoje diz respeito apenas a uma pequena parte das fábricas italianas: ao implementar os procedimentos exigidos por essa certificação, de fato, criam-se arquiteturas de escolhas que favorecem sistematicamente ações visando o melhor aproveitamento possível da energia.

Sujeitos como Hera continuarão a apostar na eficiência energética, mas é fundamental que a sua ação seja apoiada por bons “arquitetos de escolhas”, capazes de construir “caminhos de menor resistência” dentro dos quais as iniciativas de eficiência energética finalmente encontrarão lugar, assim tornando-se determinantes para o desenvolvimento sustentável a que todos somos chamados.

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