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Após dois anos de estagnação, a saída não está à vista

Segundo o centro de estudos REF Ricerche, a tendência à estagnação secular está se acentuando no mundo por uma série de razões e para a Itália, 2020 promete ser um ano difícil também para a economia

Após dois anos de estagnação, a saída não está à vista

2019 é um ano marcado por uma desaceleração progressiva da economia global. É o que confirma, mais uma vez, o último relatório do centro de estudos REF Ricerche, segundo o qual mesmo os indicadores mais recentes apontam para uma fase de crescimento moderado para a fase final do ano. Ainda não foi identificado um fator dominante que explique a recente desaceleração, quanto um conjunto de causas, das guerras tarifárias, ao Brexit, aos numerosos surtos de crise que afetaram vários países: Argentina, Venezuela, Turquia, Irã para citar os principais.

À hipótese da sobreposição de uma sequência de eventos adversosindependentes entre si, porém, há uma possível chave de entendimento que tende a trazer as tensões ao redor do mundo de volta a uma matriz comum, a emergência de um "risco político", a ser entendido como um aumento na frequência das escolhas de política econômica "extremo", ao qual foi atribuída baixa probabilidade de realização no passado recente. Ou seja, são as próprias políticas econômicas que constituem a origem da incerteza, gerando instabilidade e, portanto, uma prudência ainda maior das empresas nos investimentos.

Em última análise, de acordo com REF Ricerche, o resultado é uma redução na taxa de crescimento da economia mundial e também em seu potencial, acentuando assim a tendência para a estagnação secular. Não há explicação compartilhada dos fatores que podem ter levado à nova temporada política. Em parte, isso pode ser uma consequência direta das tensões sociais desencadeadas pela recessão de 2008-2009 e dos custos que isso acarretou para segmentos da população marginalizados no mercado de trabalho. Muitas análises apontam um motivo de mudança nas diferentes formas de participar da vida política por meio da troca de informações nas redes sociais.

Certamente a opinião pública é formada agora de uma maneira diferente do que antes quando a informação era veiculada principalmente pelos meios de comunicação tradicionais e o peso dos partidos ou outras entidades como sindicatos era maior. Em vez disso, outras análises tendem a traçar a mudança em curso para os diferentes contextos socioeconômicos em que estão inseridos. É o tema das desigualdades e do recuo das classes médias dos países ocidentais ocorrido nas últimas três décadas. As análises da distribuição dos rendimentos das famílias destacam como diferenciais de crescimento desfavoráveis ​​para as classes médias se sobrepõem a desempenhos pouco animadores em termos de taxas médias de crescimento, em benefício das famílias localizadas nos percentis de renda mais altos.

As explicações recorrentes sublinham vários elementos, entre os quais os efeitos da globalização e das mudanças tecnológicas com o afastamento de algumas profissões e uma gradual polarização da procura de mão-de-obra em benefício de trabalhadores com qualificações extremas: os mais escolarizados e aqueles, frequentemente trabalhadores imigrantes, que ocupam os degraus mais baixos da escada das qualificações. não por acaso o recuo das classes médias é frequentemente associado a sentimentos de aversão em relação aos imigrantes. A ser este o quadro, o aumento da incerteza política não se diz um facto transitório: provavelmente veremos as suas consequências nas tensões que afetam as sociedades ocidentais e na propensão das empresas para investir também nos próximos anos.

Até agora, a reação ao cenário de enfraquecimento da economia internacional tem sido confiada aos bancos centrais. A margem de redução das taxas de juro é limitada, até porque em vários países as taxas estão agora em valores zero ou negativos, e o canteiro de obras de políticas não convencionais precisa de ser reaberto. Por outro lado, a eficácia da política monetária num contexto de baixas expectativas de inflação é limitada. Além disso, diz-se que uma política monetária mais expansiva não será suficiente num quadro marcado pela quebra das expectativas dos empresários. Foi sobretudo Mario Draghi quem sublinhou nos últimos meses a necessidade não só de uma fase de taxas de juro muito baixas por um período alargado, mas também de apoio à procura das políticas orçamentais.

São chamados a intervir os países que dispõem de “espaço fiscal” adequado, ou seja, os que têm saldos superiores às metas europeias. De fato, com exceção da Alemanha, as grandes economias da zona do euro estão fora do jogo. Em todo o caso, o clima também mudou para a Itália. Tanto porque os receios de um agravamento da situação económica estão a levar a Europa a adoptar uma certa flexibilidade, como porque a queda das taxas de juro tem ajudado a rever em baixa as previsões para a despesa pública nos próximos anos. Além da queda das taxas internacionais, a queda do spread também ocorreu devido à maior capacidade de coordenação com as autoridades europeias após a mudança de governo.

A política orçamental visava estabilizar o equilíbrio, adoptando uma manobra de pequena escala. Acusado de falta de coragem por vários comentadores, é, no entanto, em nossa opinião, totalmente aceitável, precisamente porque reduz o risco das medidas e maximiza o rendimento da queda das taxas de juro. A estrutura da manobra assenta na “desativação” das cláusulas do IVA, bem como algumas outras intervenções expansionistas de montantes limitados, em parte cobertas por défice (face à tendência), em parte com menor despesa com juros e em parte com medidas de combate à evasão fiscal, bem como outras intervenções. Muitos destacaram o caráter incerto das receitas esperadas com as medidas de combate à evasão fiscal, ainda que se devam destacar os resultados concretos que já surgiram em 2019 neste aspecto.

A política orçamental implementada pelo Governo é globalmente neutra, embora ligeiramente expansiva se olharmos para o saldo primário estrutural, mas tem suportado a queda das taxas de juro e ajudado a melhorar as condições financeiras internas. É um avanço, mas dado o contexto internacional ainda muito frágil, insuficiente para tirar a economia dos bolsões de estagnação. 2020 também será um ano difícil.

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