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A poupança das famílias italianas está caindo: a contração da renda devido à crise pesa muito

O primeiro relatório do Observatório da Poupança de Investimentos Pioneiros da Unicrédito constata que desde 1995 a poupança nacional sofreu um declínio contínuo e inexorável: de 21,9% do rendimento disponível para um mínimo de 12% em 2011 - A riqueza mantém-se, mas depois da crise a recuperação dos valores é mais lento do que em outros países – Jovens são os grandes excluídos

A poupança das famílias italianas está caindo: a contração da renda devido à crise pesa muito

Pesquise no Google por economia e risco. Você encontrará 16 milhões de resultados. Pelo contrário, o par poupança e retorno totaliza apenas 2,5 milhões: nos últimos anos, a experiência do poupador está cada vez mais ligada a uma experiência de perigo. A crise que vivemos superou e distorceu as certezas do passado e eliminou o conceito de investimentos sem risco. Os títulos do governo, que antes eram vistos como um porto seguro para a poupança, tornaram-se, após a crise, a mina na qual o sistema se arriscou. Assim, poupar tornou-se uma questão cada vez mais complexa para as famílias italianas espremidas entre a compressão da renda gerada pela crise e o medo de errar (ou “trapacear”). O resultado é que a poupança nacional não só está em lento declínio devido ao lento crescimento do país e à redução da renda, mas também que a recuperação dos níveis de riqueza após a crise é mais difícil do que em outros países. É o que sublinha o Primeiro relatório do Observatório da Poupança da Unicredit Pioneer Investments, apresentado ontem em Milão, e relança a necessidade de investir na educação financeira dos jovens já na escola.

A EROSÃO DE RENDIMENTOS PENSA NA POUPANÇA

ONADO: A TRANSFORMAÇÃO É RADICAL, MEDIDAS DE INCENTIVO SÃO NECESSÁRIAS

“Desde 1995 até hoje, a poupança nacional sofreu um declínio contínuo e inexorável: no espaço de quase vinte anos, a taxa de poupança bruta das famílias (em % do rendimento disponível, nota do editor) passou de 21,9% em 1995 para um mínima de 12% em 2011 e as previsões para 2012 não parecem apontar para uma inversão de tendência”, lê-se no relatório. Claro, ainda não podemos nos definir como cigarras, também olhando para a comparação com outros países europeus: embora a taxa bruta das famílias italianas tenha diminuído ao longo do tempo (para 12%, poupança bruta das famílias como % da renda disponível bruta), ela mantém-se na média com as principais economias desenvolvidas, ligeiramente abaixo da Alemanha (16,7%), França e Áustria, acima de Espanha, EUA e Grã-Bretanha (a mais baixa com 7,7%). Até porque, pelas informações colhidas no relatório, não parece que os italianos tenham decidido que economizar não vale mais a pena. Pelo contrário: nos últimos anos, até cresceu a proporção de pessoas que acreditam que é adequado reservar recursos para o futuro. O problema é que está cada vez mais difícil gerar novas poupanças. As famílias italianas estão economizando cada vez menos principalmente porque estão experimentando uma erosão gradual da renda, não por escolha específica e voluntária. Não é por acaso que se regista a queda mais acentuada da poupança desde 2007, ano da eclosão da crise económica que pesou sobretudo nos rendimentos do trabalho e do capital. “Nos últimos cinco anos – explica o relatório – a redução significativa do rendimento disponível parece dever-se sobretudo a uma compressão dos rendimentos do capital e do emprego, com um nível de tributação que certamente não ajudou. Estes fatores, aliados a famílias relutantes em mudar de estilo de vida ou em todo o caso caracterizadas por uma elevada quota de consumo incompressível, explicam a quebra da poupança”. O que significa que a poupança está caindo porque estamos sujeitos a um empobrecimento substancial. Claro que a riqueza acumulada ainda nos coloca numa posição forte: líquidos de passivos financeiros, estamos nos 8,5 mil milhões de euros, cerca de 140 mil euros per capita, mais de 7,8 vezes o rendimento disponível bruto e 5,4 vezes o PIB. Mas a tendência agora se inverteu.

"A principal mensagem do relatório - explica Marco Onado, professor de Economia dos intermediários financeiros da Bocconi que falou na mesa redonda de apresentação do relatório - é a da transformação que a crise trouxe". O stock de poupança ainda é elevado porque depende do passado mas desde 2007 em apenas três anos registou-se uma redução de 4% na poupança (Poupança Nacional Bruta em % do Rendimento Nacional Bruto Disponível), enquanto entre 2005 e 2007 apenas um leve contração é testemunhada. A Itália é a única caracterizada por um declínio tão acentuado. “Esta é uma transformação radical da paisagem. De 95 para hoje, o contraste entre a família que poupou e a que erodiu a riqueza inverteu-se: o saldo líquido entre a primeira e a segunda era de 12,5 pontos, hoje é negativo em 11,1. Estamos nos colocando em uma ladeira perto dos EUA e da Grã-Bretanha. Claro que ainda somos formigas mas o país talvez tenha cedido demasiado à forte posição da poupança nacional, o único país ocidental que nunca tomou medidas de incentivo à poupança e agora é o momento de tomar medidas deste tipo”.

DOMÉSTICOS ESTÃO SÓLIDOS, MAS AGORA A MISTURA NO PORTFÓLIO É CRUCIAL
SINISCALCO: AGORA O DESAFIO É USAR MELHOR A ECONOMIA EXISTENTE

Se os dados de 2011 sobre a riqueza das famílias dão um retrato de um país que ainda está entre os mais ricos das economias ocidentais, com riqueza que não sofreu grandes flutuações e menos dívida do que outros países, os italianos estão empobrecendo e várias questões críticas estão surgindo , sobretudo no que respeita à alocação da poupança numa perspetiva de longo prazo no domínio das aplicações financeiras. “O problema parece surgir sobretudo nos anos mais recentes – lê-se no relatório – que viram os ativos financeiros das famílias perderem valor, tanto que as estimativas no final de 2012 parecem ser inferiores (em termos reais) às ativos de 1999, voltamos 13 anos!”. É claro que as finanças foram assoladas pelo tsunami da crise e nem mesmo as famílias de outros países sobreviveram ilesas à turbulência, aliás o impacto do colapso do mercado foi considerável. “No entanto – observa o Relatório – já em 2009 sua riqueza começou a crescer e em muitos casos, como França, Alemanha e Reino Unido, até 2011 os níveis pré-crise já haviam sido superados. As famílias italianas, por outro lado, foram das menos afetadas pela perda de valor dos ativos em 2008, porém, após essa data viram seus ativos financeiros perderem valor gradativamente ao longo do tempo e a recente crise da dívida na Europa certamente não ajudou”. Segundo o Relatório, o diferente mix de ativos parece ser responsável por essa tendência diferente.

As carteiras italianas têm, em média, um alto estoque de títulos (20%), observa o relatório, dos quais cerca de metade são títulos do governo com baixa emissão por emissor. A isto acresce um elevado stock de riqueza investida diretamente em ações, 20% de ativos financeiros, dos quais apenas 8,4% respeitam a ações cotadas, sendo o restante maioritariamente constituído por participações em participações em empresas não cotadas, aspeto ligado à forte presença de PME. A gestão de ativos representou 2011% do total de ativos domésticos em 20 (40% na Alemanha, França e Estados Unidos). Da mesma forma, a parcela relativa aos fundos de pensões parece estar subponderada face a outros países. Para a Unicredit, neste contexto, “acima de tudo a preocupação é a escassa diversificação e o baixíssimo peso dos fundos de pensões”.

“A poupança como estoque está indo muito bem em comparação com o que poderia ir e se manteve – comentou Domenico Siniscalco, presidente da Assogestioni durante o debate – O desafio é que precisamos ajudar os italianos não tanto a economizar mais, porque também é verdade que há momentos em que você precisa consumir mais. O desafio é economizar melhor. Estou impressionado com o quão pouco o país pensa em poupança de longo prazo, muitas vezes deixando as economias que temos para toda a vida sob a égide de poupança de curto prazo.”

Por outro lado, aponta Siniscalco, hoje os formuladores de políticas estão otimistas com a estabilidade alcançada, há dois meses o barco entrou na água, depois do programa OMT de Draghi foi possível acalmar os mercados e uma série de grandes investidores estão trazendo o dinheiro de volta para a Europa, incluídos em nosso Btp. “Se eu fosse um treinador – diz Siniscalco – estaria mais preocupado em ter fundos que não compensam. Há agora um impulso na Europa para considerar o crescimento importante, então o desafio agora é ajudar as economias a fazer melhor uso de suas economias. Acredito que na Itália faltam canais entre a poupança e os investidores para um melhor uso da poupança. Fala-se muito sobre a listagem de PMEs quando, no entanto, as empresas não querem ser listadas. Por que toda essa atenção a esse tópico? É melhor criar um mercado de obrigações que permita às PME emitir valores mobiliários cotados. Além disso, é preciso conjugar uma Europa do crédito com uma Europa da poupança, o que significa facilitar o fluxo dos rendimentos para os investimentos”.

JOVENS OS GRANDES EXCLUÍDOS

Por último, na comparação geracional da poupança, o relatório revela uma polarização cada vez mais acentuada da riqueza nas mãos dos maiores de 55 anos, que no final de 2011 detinham 70% da mesma, enquanto os clientes com menos de 34 anos detinham pouco menos de 4% do total ativos financeiros. Uma desproporção que também é confirmada pelos dados do Banco da Itália (relatório anual de 2012): as famílias com chefe de família com mais de 55 anos detinham mais de 2010% do total de ativos financeiros em 60, enquanto aquelas com menos de 35 anos menos de 4%. Se uma disparidade por idade é plausível, o que chama a atenção é a forte desproporção e o agravamento nos últimos anos. Ainda de acordo com o Banco da Itália em 1991, há pouco mais de dez anos, os domicílios com chefes de família com menos de 35 anos detinham mais de 10 pontos percentuais a mais do que o observado em 2010.

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