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Corrupção: difícil de medir, mas a Itália é menos corrupta do que se pensa

Corrupção entre a percepção e a realidade: uma resposta às observações críticas da tese contracorrente por nós defendida segundo a qual "os italianos são comparativamente menos corruptos do que se percebem" - Pesquisa do Professor Picci da Universidade de Bolonha - Corrupção à medida que o PIB cresce tende a diminuir: a Itália em 19º lugar entre 152 dos países menos corruptos.

Corrupção: difícil de medir, mas a Itália é menos corrupta do que se pensa

Em vários artigos (resumidos e documentados no Postagem do FIRSTonline localizada aqui) argumentamos que os indicadores de corrupção usualmente utilizados dizem respeito à percepção do fenômeno, e superestimam sua gravidade na Itália em comparação com outros países. Em essência, os italianos são comparativamente menos corruptos do que imaginam ser. É uma tese contracorrente e não é de estranhar que, a par de alguma apreciação, tenham surgido reacções críticas ou mesmo apenas descrença. Para todos eles, parece útil referir-se aos expressos neste post pela senadora Lucrezia Ricchiuti que nos censura por subestimar o problema da corrupção e, mais especificamente, por ter negligenciado vários trabalhos científicos sobre o assunto. Respondemos que quase todas as fontes citadas são histórias de importantes episódios de corrupção ocorridos na Itália e em outros países - ou opiniões de magistrados competentes. Não consideramos essas fontes porque, se houvesse uma narrativa convincente e comparável entre os países (por exemplo, número de condenações por corrupção ou o valor das propinas pagas), elas já teriam sido utilizadas por organizações internacionais que estudam o fenômeno, como Transparency, Banco Mundial, OCDE etc. A razão pela qual as pesquisas são usadas é que se acredita que comparações baseadas em dados objetivos não são possíveis.

Entre os relatados pelo Sen. Embalado há um porém un lavoro em particular sobre o qual julgamos útil nos determos, o do Prof. Lucio Picci da Universidade de Bolonha. Segundo o senador, esse trabalho “mediria – citamos – o diferencial entre os custos da corrupção na Itália e os da Alemanha em 586 bilhões por ano”. Na postagem do senador, essa afirmação não tem outra qualificação e leva o leitor a pensar que a referência é ao custo da corrupção para a AP. Claro que isso é impossível, dado que o gasto público total é de 826 bilhões, incluindo juros e salários. As duas áreas de gastos expostas à corrupção (investimento público e compras de bens e serviços) somam cerca de 200 bilhões. É, portanto, óbvio – mas deve ser esclarecido! – que os 586 bilhões não dizem respeito ao custo para a AP: lendo o artigo do prof. Picci, na verdade, estamos falando dos efeitos distorcidos da corrupção sobre o PIB, o que é outra coisa.

Mas mesmo assim não compensa. De facto, 586 mil milhões correspondem a uma diferença de quase 10.000 euros per capita. Isso implica, como afirmou novamente o próprio Picci, que "se o nível de corrupção na Itália fosse igual ao alemão, a renda per capita italiana passaria (dados de 2014) de 26.600 euros para cerca de 36.300 euros, ou até superior à alemã produto per capita que em 2014 mal atingiu os 36 mil euros”.

Esta é uma figura absolutamente fantástica. Tanto que, como um estudioso sério como Picci sem dúvida é, ele mesmo se pergunta: “Esse resultado é realista? Obviamente é legítimo duvidar. Além disso, ele argumenta, como todos os estudiosos do fenômeno, que medir a corrupção é um exercício quase impossível, a ponto de ter que afirmar: "suponhamos que resolvemos magicamente o problema de medir a corrupção...". Estas frases esclarecem que o autor está a fazer o que muitas vezes se faz na investigação científica, ou seja, um exercício metodologicamente útil, ainda que heróico e, sobretudo, ainda à procura de um autor – ou seja, alguém que resolva o problema básico da medição. Para tentar nos orientar nos números fizemos o seguinte cálculo. Aplicamos a mesma metodologia utilizada por Picci ao Afeganistão, um dos países que segundo o índice CCI (Indicador de Controle de Corrupção) do Banco Mundial está entre os mais corruptos do mundo, alcançando um resultado ainda mais surpreendente. Se a corrupção no Afeganistão caísse para o nível da Alemanha, o PIB per capita do país aumentaria em mais de US$ 35, ultrapassando não apenas o da Itália, mas também o da Alemanha. Um resultado semelhante vale para quase todos os países em desenvolvimento na Ásia, África e América Latina – o que é, no mínimo, bastante curioso. Provavelmente, à medida que o PIB cresce, a corrupção tende a diminuir: os países ricos tendem a ter menos corrupção. Mas isso não significa que basta combater a corrupção para ficar rico. A corrupção é um obstáculo ao desenvolvimento econômico, mas certamente não é o único.

Acrescentamos que o Prof. Picci também se refere a uma medida de corrupção de certo interesse que merece ser analisada mais a fundo. Essa medida, conhecida como PACI (veja aqui), utiliza dados de casos de corrupção envolvendo empresas multinacionais ocorridos efetivamente no exterior. De acordo com este ranking (ver coluna 3 da tabela 4) os países menos corruptos são os países avançados com economias de mercado modernas: Canadá, Suíça, Austrália e quase todos os países da Europa Ocidental. Os mais corruptos são os países da África, Ásia e América Latina. A Alemanha está em décimo primeiro lugar e a Itália em décimo nono entre 152 países: não estamos muito bem, portanto, mas estamos mais ou menos no nível de países como Noruega, Estados Unidos e Áustria. Estamos acima de todos os antigos países da Europa Oriental, bem como de todos os países emergentes ou em desenvolvimento. Parece-nos que mesmo estes dados tendem a confirmar a nossa tese.

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