comparatilhe

Onofri: "A desaceleração alemã não é surpreendente, mas precisamos entender as causas: se a China desacelerar, é doloroso"

Para o economista da Prometeia o abrandamento alemão e europeu já era esperado mas se isso dependesse do abrandamento da China “seria um sinal de alerta para todo o mundo” - Em 2011 o PIB italiano “não passará dos 0,7-0,8%” – “ Para voltar a crescer, a primeira coisa que a Itália precisa é recuperar a confiança da classe política”.

Onofri: "A desaceleração alemã não é surpreendente, mas precisamos entender as causas: se a China desacelerar, é doloroso"

“O abrandamento no segundo trimestre da economia alemã e consequentemente da Europa não me surpreende tanto porque estava previsto, mas o que importa mesmo é perceber as razões que só ficarão claras daqui a algumas semanas: se tudo dependesse pela redução das exportações nos países emergentes e em particular pelo abrandamento do crescimento da China e dos países asiáticos então todos devemos estar preocupados, porque seria um sinal de alarme para todo o mundo, para a Europa e naturalmente também para nós”. Esta é a primeira leitura imediata dos dados econômicos de hoje sobre a Alemanha e a Europa por Paolo Onofri, um dos melhores economistas que existe, professor titular de economia política na Universidade de Bolonha e autor de um apreciado relatório de previsões para a Prometeia, que há muito é um ponto de referência para todos. Aqui está o que ele disse ao Firstonline.

PRIMEIRA LINHA – Professor Onofri, no segundo trimestre do ano a economia alemã manteve-se estagnada (+0,1%) e a europeia abrandou (+0,2%). Das duas notícias, qual é a mais surpreendente e qual é a mais preocupante?

ONOFRI – O abrandamento da Alemanha e consequentemente da economia europeia não me surpreende tanto porque era esperado mas o que importa mesmo é perceber as razões: se o abrandamento alemão se deveu à quebra de confiança ou à dinâmica do sector da construção depois o boom do primeiro trimestre, não importa. Se, por outro lado, o abrandamento na Alemanha dependesse da quebra das exportações para os países emergentes e em particular do abrandamento do crescimento da China e de outros países asiáticos, então seria um sinal alarmante e seria doloroso para todos, para todo o mundo, para a Europa e claro também para nós.

PRIMEIRA LINHA – Quais serão as consequências para a Itália da desaceleração alemã?

ONOFRI - Depende da causa. Repito: se a desaceleração da Alemanha depende da crise de confiança interna ou da queda do consumo ou da dinâmica do setor de construção, não há com o que se preocupar. Se, por outro lado, tudo dependesse das exportações e da desaceleração da China, haveria problemas. A questão é se a resposta chinesa à expansão monetária dos EUA e a tentativa da China de desacelerar seu crescimento para conter os perigos de importar inflação dos EUA estão ou não por trás dos dados econômicos alemães. Enquanto se espera apurar as causas do abrandamento alemão, é claro que os dados de hoje estimulam uma reflexão mais geral e não apenas sobre a Itália.

PRIMEIRA LINHA - Qual?

ONOFRI – Na classe política, nos meios de comunicação e na opinião pública há pouca consciência de que a crise que vivemos é completamente diferente das outras vividas desde o pós-guerra porque é uma crise que tem origem financeira, é transmitida ao economia real e rendimentos das finanças e que, com base nos dados estatísticos recolhidos sobre crises deste tipo vividas por países individuais, tem inevitavelmente uma longa duração.

PRIMEIRA LINHA – Quantos anos leva para voltar ao PIB pré-crise?

ONOFRI – Pelo menos sete anos em média porque, repito, esta é uma crise diferente e, além disso, agora é uma crise generalizada. Ainda estamos na metade do caminho. Saímos da crise quando todos os operadores financeiros reduziram a sua alavancagem financeira, ou seja, a sua dívida. Mas a miopia política que vimos ultimamente sobre a Grécia ou sobre a dívida americana corre o risco de piorar as coisas e alongar os prazos de pagamento.

PRIMEIRA LINHA – Explique-nos melhor.

ONOFRI – Até agora vimos os dois primeiros atos da crise: a queda da demanda das famílias como resultado da transmissão da crise financeira para a economia real e a tentativa dos Estados de compensar a dívida privada com a dívida pública. Vivemos agora o terceiro acto: a redução demasiado acelerada da dívida pública corre o risco de ter efeitos depressivos sobre o crescimento. É como um gato correndo atrás do rabo.

PRIMEIRA LINHA – Seja como for, a Itália continua na retaguarda do crescimento na Europa: depois da desaceleração da economia internacional e depois da nova manobra do governo, como terminamos 2011?

ONOFRI – Não creio que a Itália consiga atingir a meta de crescimento de 1,1% estabelecida pelo governo para 2011. Segundo estimativas do Prometeia, a previsão mais confiável até o momento é que nosso PIB em 2011 esteja entre 0,7 e 0,8% e que em nos dois anos seguintes, na ausência de políticas corretivas, cairá entre 0,5% e 0,8%.

PRIMEIRA LINHA – Um horizonte italiano nada modesto que beira a estagnação.

ONOFRI – Não estamos em recessão, mas há uma desaceleração em todo o mundo. Razões internacionais e razões internas tornam o nosso desempenho particularmente decepcionante, que corre o risco de ficar um pouco acima do limiar da estagnação.

PRIMEIRA LINHA – Quais são os efeitos da nova manobra do governo sobre a economia italiana.

ONOFRI – As contas exatas poderão ser feitas quando o decreto for aprovado pelo Parlamento mas desde já se pode dizer que a manobra corre o risco de deteriorar ainda mais a já baixa confiança dos operadores económicos e dos cidadãos. 

PRIMEIRA LINHA – Entre as muitas medidas imagináveis ​​para estimular o crescimento da economia italiana, qual é a que pode ter efeitos mais imediatos?

ONOFRI – Não esqueçamos que, para além dos problemas ligados à dinâmica da produtividade, existem razões demográficas específicas ligadas ao envelhecimento da população que reduzem o crescimento provável para cerca de 1-1,5%. Se melhorarmos a produtividade do sistema e recuperarmos a capacidade produtiva não utilizada, poderemos vislumbrar um horizonte de crescimento da ordem de 2% ao ano. Mas tudo isso não acontece automaticamente.

PRIMEIRA LINHA – Qual é a primeira coisa que seria necessária para crescer mais?

ONOFRI – A prioridade é a recuperação da confiança da classe política, de quem ouvi disparates sobre a redução de impostos mesmo quando as crises irlandesa ou grega estavam no auge. Em segundo lugar, precisamos recuperar a confiança na dívida pública italiana porque se os rendimentos dos nossos títulos do governo não caírem abaixo de 5% sem a intervenção do BCE, os efeitos negativos sobre os empréstimos às empresas são inevitáveis.

Comente