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A economia do futuro? Será baseado na polifonia corporativa

Publicamos um trecho de uma reedição editada por Guerini e goWare de um livro escrito há vinte anos por Giulio Sapelli ("Por que as empresas existem e como se fazem") em que imaginamos que empresas privadas, públicas, cooperativas e terceiros setor coexistirá lado a lado dando origem a um circuito virtuoso que hoje falta

A economia do futuro? Será baseado na polifonia corporativa

A empresa como sujeito histórico

Giulio Sapelli, já estabelecido, é um dos estudiosos mais importantes do mundo da história e teoria dos negócios. A International Bibliography of Business History (Reino Unido) colocou nosso Giulio entre os fundadores da história dos negócios em todo o mundo.

Há poucos dias a editora Macmillan (uma das cinco grandes do mundo) publicou seu livro intitulado Além do Capitalismo. Machines, Work and Property (publicado na Itália com o mesmo título pela Guerini/goWare em 2018; porém, a edição em inglês possui conteúdo adicional que em breve será disponibilizado ao público italiano).

Sapelli, com Enrico Quintavalle que trabalha na área de PME, publicou, novamente em 2018 e novamente com Guerini/goWare, um livro de grande interesse sobre o sistema italiano de PME, Nulla è come prima. Pequenas empresas na década de grandes transformações. A grande recessão e a revolução tecnológica trouxeram à tona as características de um novo paradigma conceitual e operacional nas pequenas e médias empresas. O livro discute justamente esse tema em nível teórico e prático.

área de atuação da Sapelli

Outrora peregrina nos estudos históricos, a história da empresa está a tornar-se mainstream, não só nos países de tradição anglo-saxónica, mas onde quer que ainda exista História com “S” maiúsculo.

O fato de os estudos de Sapelli poderem ter valor internacional só pode surpreender alguns ingênuos. O intelectual de Turim transita com a desenvoltura do especialista entre economia, história, sociologia, relações internacionais, história da cultura, doutrinas políticas. Difícil encontrar uma polifonia semelhante em um panorama de estudiosos cada vez mais estruturados em silos.

Além disso, Sapelli conhece, por experiência direta, não apenas a Itália e a Europa, mas também outras regiões do mundo, como a América do Sul, uma área de desenvolvimento humano que geralmente falta nos currículos de muitos analistas e estudiosos de assuntos internacionais e de economias não capitalistas.

Sapelli não fala de empresas apenas por erudição de livros ou por ter ouvido falar delas. Ele é apenas um insider. Trabalhou em vários níveis em empresas exercendo atividades tanto puramente operacionais como gerenciais e gerenciais. A sua atividade juvenil em Olivetti, onde chegou de uma experiência no sindicato de Turim, marcou toda a sua visão do mundo, da economia e do trabalho em sentido humanístico.

Além da empresa capitalista neoclássica

Uma visão que voltou com força à tona em todos os círculos que também importam no financiamento de fundos de hedge e na indústria de tecnologia. Ray Dalio, fundador da Bridgewater Associates e cabeça de pensamento, disse recentemente à CNBC que a empresa capitalista modelada no pensamento de Milton Friedman é um trem lançado em direção a Cassandra Crossing. Marc Benioff, fundador da Salesforce, em um longo discurso no "New York Times" escreveu o elogio a esse tipo de capitalismo, convidando o mundo dos negócios a se tornar mais inclusivo e aberto às comunidades. Questões que não devem ser deixadas apenas para a política, mas permeiam a própria natureza dos negócios. É uma espécie de imperativo ético que envolve a própria casca da empresa capitalista moderna.

O Business Roundtable, clube que reúne os líderes corporativos americanos como Mary Barra, Tim Cook, Jeff Bezos, Jamie Dimon e muitos outros, decretou, há poucos meses, o fim da primazia dos acionistas e estabeleceu novos objetivos para o papel da empresa no mundo de hoje.

A economia polifônica

Sapelli há muito soube interpretar e ser o porta-voz do espírito de nosso tempo em uma continuidade de pensamento e ação que demonstra a independência intelectual e a originalidade do estudioso de Turim.

Hoje em dia, Guerini e goWare republicaram um estudo de 1999. Por que as empresas existem e como elas são feitas remonta a antes da bolha da Internet e antes da grande recessão. Vinte anos depois, este estudo contém análises de uma grande modernidade cujas reverberações podem ser rastreadas no atual debate internacional sobre a crise do capitalismo.

Publicamos a seguir o capítulo 6 dedicado ao que Sapelli chama de economia polifônica, que será a economia do futuro. Nesse futuro, empresas privadas, empresas públicas, empresas cooperativas e o terceiro setor coexistirão lado a lado, dando origem a esse círculo virtuoso atualmente ausente no cenário global.

O estudioso de Turim traça as características de um dos componentes da economia polifônica, a empresa cooperativa. Diante das dificuldades das empresas privadas e públicas em responder ao desafio de nosso tempo, que é nivelar as desigualdades, muitos olham para a forma cooperativa de forma diferente do passado. Talvez seja realmente a forma mais moderna de empresa, mesmo no setor de tecnologia avançada. Uma forma que Sapelli estuda há 40 anos.

Boa leitura e inspire-se!

O modelo da empresa cooperativa

Outro fenómeno historicamente decisivo que sintetiza bem a polifonia da música que emana da emergência da companhia como fenómeno da modernidade é o crescimento que a caracterizou entre a segunda metade do século XIX e o século XX. Ou seja, empresas com nome social não tanto fundadas no capital, mas sim nas pessoas, como é o caso das sociedades cooperativas.

Na minha opinião, a verdadeira alteridade ou a verdadeira alternativa histórica que se apresentava na arena dos mercados e da solidariedade política não era a da empresa pública, como comumente se acredita. Até mesmo a empresa pública, de fato, configurou-se historicamente, em todos os lugares e sempre que se manifestou com irreversibilidade mais ou menos marcante, como uma empresa de capital. Uma empresa sobredeterminada pelo imperativo do lucro e da lucratividade, tanto em condições de monopólio quanto em condições de competição.

O modelo de empresa pública

Historicamente, centralizou-se, nos primeiros tempos do século XX, o crescimento económico, seguindo os modelos de distribuição dos direitos de propriedade e a prevalência mais ou menos forte das economias de mercado.

Os monopólios naturais são o núcleo fundador da empresa pública, que tem suas raízes nas experiências européias do mercantilismo e absolutismo dos séculos XVII e XVIII. Desenvolveu-se primeiro na Europa e depois na América do Sul nos anos trinta (que são os, não esqueçamos, da grande depressão).

Na África e na Ásia desenvolveu-se após a Segunda Guerra Mundial, sob a pressão tanto dos poderosos nacionalismos econômicos que cresceram no século XX, quanto das pressões políticas das forças socialistas e social-cristãs e populistas que conquistaram o poder político no plano nacional. ou municipal.

As forças históricas que sobredeterminam a sua constituição são o espírito do poder nacional e a circulação das elites políticas que governam a distribuição e redistribuição do imposto e a contribuição que se pede, ou se impõe aos cidadãos, na democracia ou nos regimes autoritários.

A empresa pública como empresa política

Quanto à sua morfogénese, a empresa pública é uma «empresa política». Ou seja, distribui de forma mais ou menos coercitiva os custos de determinadas produções destinadas à obtenção de bens ou serviços entre os integrantes da unidade do povo, que pode ser o Estado ou o município. A força coercitiva necessária para atingir esse objetivo é o poder político.

No entanto, a sociedade anônima de maioria pública ou o órgão público, que normalmente controla aglomerados de sociedades anônimas, deve atuar, e em muitos casos tem atuado, de acordo com os processos típicos de gestão empresarial racional, segundo modelos e lógicas de comportamento semelhantes às das empresas privadas.

O papel imposto à empresa pública

Historicamente, em países caracterizados pela prevalência de pequenos negócios ou empreendimentos atrasados ​​em termos de gestão, a empresa pública se difundiu, devido às suas grandes dimensões e à sua localização em posições estratégicas de produção de bens primários e de capital, gerenciais e gerenciais conhecimento e insumos baratos para as indústrias privadas dos respectivos países.

Basta pensar na Itália dos anos XNUMX e XNUMX e na Turquia de Atatürk no período entre as duas guerras mundiais, ou no Brasil dos últimos cinquenta anos.

Entretanto, as classes políticas têm normalmente imposto às empresas públicas objetivos extraeconômicos incompatíveis com os objetivos econômicos, segundo um processo para entender que é mais útil estudar Vilfredo Pareto e Gaetano Mosca (meus queridos professores) do que os economistas das «teorias dos jogos» ou «da agência».

As consequências deste estado de coisas 

Ao fazer isso, as classes políticas agravaram a coerção fiscal sobre a comunidade e principalmente nas gerações futuras, esmagadas pela dívida pública em virtude do déficit dessas empresas. O estado desejado e as classes políticas recapitalizaram continuamente as empresas públicas. 

Não é por acaso que, quando esse fenômeno aparece, o estado jurídico-racional administrativo se transforma no estado das partes consensuais-clientelistas. Assim, as empresas públicas deixaram de ser regidas por gestores. Pelo contrário, é uma «tecnoestrutura mista», ou seja, fiel não tanto à empresa e ao Estado jurídico-racional que os governa. 

Assim como são os clãs partidários que determinam sua ascensão no sistema corporativo, corrompendo profundamente a institucionalização e, portanto, a autonomia da própria empresa. 

A reação liberal 

Esse fenômeno histórico, muito difundido, levou a uma onda de reação liberal nos últimos trinta anos. Não é por acaso que coincidiu com a crise das economias baseadas na substituição de importações, nas barreiras alfandegárias, na prevalência do nacionalismo econômico sobre a competição do mercado internacional implantado. 

Além disso, a crescente erosão da soberania econômica estadual-nacional tem questionado amplamente a experiência da empresa pública no século XX. 

Todos os fenómenos, estes, que levaram à privatização ou a uma profunda reclassificação da sua influência económica e política. Isso também é determinado pelas novas taxas de crescimento do comércio mundial nos últimos vinte anos, que afastaram os ventos da crise da indústria privada. 

Após a crise de 29 

Os mesmos ventos que, por outro lado, em muitos países a levaram, na década de XNUMX, à falência e ao retrocesso que não por acaso coincidiram não só na Europa com a ascensão da mão pública na economia nos setores estratégicos do crédito e bens primários. 

De fato, após a grande depressão de 1929, nos países com as mais fortes tradições estatistas e mercantilistas, a criação de complexos de empresas controladas e de propriedade do Estado se estabeleceu herdando e racionalizando as falhas do setor privado. Isso aconteceu sob a pressão de razões nacionalistas e sociais e, portanto, conectado com as razões de consenso político. 

As raízes da empresa cooperativa 

A empresa que, por outro lado, se apresenta historicamente como a alternativa mais radical à iniciativa privada por não se basear em direitos de propriedade individualistas, é a empresa cooperativa. Acompanha em sua história o progresso do sistema capitalista. Isso acontece desde o Reino Unido (e a Commonwealth) e da Europa mais industrializada do século XIX, às duas Américas dos séculos XIX e XX, à África e à Ásia coloniais, primeiro, e depois marcadas pela descolonização e desenvolvimento capitalista após a segunda Guerra Mundial. 

A empresa cooperativa difunde-se por ideais religiosos e motivações políticas, assumindo nas suas origens sobretudo o aspecto de um dos fenómenos mais interessantes da "questão social". Isso tem suas raízes no utopismo socialista, na profecia messiânica judaica, na teodiceia protestante e católica, no filantropismo liberal. 

A natureza da empresa cooperativa 

A cooperativa é uma parceria de pessoas, não de capital, e responde às falhas tanto do mercado quanto da empresa capitalista. Persegue de forma associada a obtenção de bens (trabalho, consumo, créditos, assistência) que não seriam alcançáveis ​​de forma individualista. Manifesta uma alteridade também em relação à empresa pública. A cooperativa é expressão da propriedade coletiva de grupos mais ou menos vastos, e não fruto de uma decisão de soberania política, como é o caso, precisamente, das formas diversificadas de empresa pública. 

O fim da cooperação não é o lucro e a apropriação do excedente, mas a busca do lucro como instrumento regulador da gestão. Visa a continuidade da busca associada dos bens de trabalho, consumo, crédito e assistência. O objetivo da cooperação é a preservação e ampliação do vínculo social que deu origem à empresa. 

Um laço social, uma solidariedade específica que sobredetermina cada desempenho da cooperação. Um elo não sindicalizado, porque visa criar uma organização que atue de forma estável nos mercados. Um vínculo que não é simplesmente "benevolente" e nem simplesmente sem fins lucrativos, quanto à estrutura de sua regulação econômica e social. 

A cooperativa é uma forma específica de empresa, socialmente dirigida e com fins sociais, que não pode ser combinada com as atividades ditas daquelas organizações que são chamadas de "terceiro setor" ou economia solidária. 

A gestão da cooperativa 

O elemento da dádiva, da gratuidade da troca, enxerta-se num mecanismo de gestão muito delicado e precioso na empresa cooperativa. A participação nas decisões se dá por meio de sistemas democráticos de designação dos gestores (o que não pode acontecer na empresa capitalista) e de controle meritocrático e tecnocrático de sua gestão pelos donos coletivos do grupo: os membros. 

Estes mecanismos de gestão exigem o confronto com o mercado e no mercado para mudar a sua fisionomia, não para dele fugir deixando-o agir, e falhar, imperturbável, relegando assim a cooperação a um papel marginal. 

Negócios e movimento social ao mesmo tempo 

Por essas razões, a cooperação é tanto um empreendimento quanto um movimento social. Solidariedade, inspiração ideal, continuidade solidária não são elementos secundários, mas inerentes à forma específica de sua gestão. 

A cooperação entre empresa e movimento social é a prova de que a economia é fruto de uma historicidade personalista e é um complexo de relações entre pessoas e não entre mercadorias, reificando e alienando. E esse complexo é polifônico e não monofônico: diferentes instrumentos podem contribuir para configurar os mercados e as regras que os determinam. 

O "rápido crescimento da empresa cooperativa no desenvolvimento capitalista" teve o efeito de expandir sua escala e participação no mercado. 

Tudo isto num período de tempo muitas vezes tão concentrado, um pouco por todo o mundo, que não permitia a formação equilibrada de todas as funções de gestão e uma relação efectiva e democrática entre estas e os accionistas no seu conjunto. 

Os diferentes tipos de empresa cooperativa 

A cooperação pode alcançar eficácia e democracia porque os conflitos sociais de natureza proprietária presentes na empresa capitalista não existem dentro dela. Os conflitos sociais têm natureza organizacional, funcional e meritocrática e, portanto, podem ser resolvidos ampliando e não restringindo a participação. 

Esta situação, comum a toda a Europa em particular, mas também à cooperação extra-europeia, caracteriza de formas diversas os vários países e a cooperação não pode e não deixará de sofrer por isso. A transformação mais evidente que se pode hipotetizar neste momento é uma redefinição das classificações tradicionais dos empreendimentos cooperativos. 

Ao lado, ou melhor, abaixo da subdivisão tradicional (produção, consumo, serviços, crédito) outra está surgindo na economia real. O que eu definiria provisoriamente entre cooperativas tradicionais, cooperativas hereditárias e cooperativas emergentes. Os primeiros são aqueles que estamos acostumados a ver crescer e operar diante de nossos olhos após a Segunda Guerra Mundial, seja qual for o setor em que atuam. 

cooperativas hereditárias 

As cooperativas hereditárias são o produto da crise e da consequente transição de uma empresa capitalista para uma empresa cooperativa. Os bens da forma social anterior são repassados ​​à cooperativa. Ela herda, ao invés das virtudes, os vícios da empresa capitalista e com ela seus problemas internos e seu posicionamento no mercado. 

Os gargalos da situação exigem que as empresas cooperativas acelerem e persigam, sob pena de mortalidade generalizada, um caminho de racionalização "impiedosa" de recursos. Ao fazê-lo, essas cooperativas são a personificação do desafio que a cooperação representa para o mundo dos negócios. 

Ou seja, a de viabilizar uma "estratégia democrática - participativa para o alcance da eficiência e eficácia". 

A orientação para o mercado torna-se a cultura a ser firmemente implantada nessas unidades econômicas hereditárias. Isso não pode deixar de ser feito mesmo com alto conflito organizacional, que muitas vezes envolve diretamente os próprios apoiadores da escolha cooperativa. 

cooperativas emergentes 

As cooperativas emergentes são a aposta «do futuro» numa sociedade assente na centralidade que irão gradualmente assumir na complexa força de trabalho, na elevada intensidade do valor (não na quantidade!) do capital fixo, na flexibilidade organizacional. Também socialmente terão novos protagonistas: técnicos, quadros médios e jovens altamente qualificados, orientados para um trabalho de grande responsabilidade e criatividade. 

O setor terciário avançado pode ser cooperativo? Este é o outro desafio inerente a esta mutação genética estrutural do mundo cooperativo. 

E o outro desafio é aquele que emana das terríveis provações pelas quais a vida humana deve passar nas difíceis condições de sobrevivência em que a pessoa se debate em grande parte do mundo subdesenvolvido ou muito desigualmente desenvolvido. Lá a cooperativa é mais movimento social do que empreendimento, mais ação coletiva solidária do que ação econômica irreversível em mercados imperfeitos. No entanto, o papel que o cooperativismo pode desempenhar é de extrema importância, para o desenvolvimento da ação social e para o crescimento econômico em conjunto. 

Uma forma eficiente e justa 

Essencial é a presença, mesmo nessas novas formas cooperativas de empresa, do fato de que o excedente ou lucro cooperativo é distribuído na forma de abatimentos, salários e investimentos de capital fixo, e se torna condição primeiro de sobrevivência e depois de desenvolvimento da o negócio. 

Na verdade, é geneticamente o resultado da transferência de tensões da mobilização coletiva para a criação de unidades econômicas que maximizam a continuidade organizacional. Isso ocorre na presença da unificação social (não funcional, claro) da propriedade (a assembléia de acionistas) e do controle (a tecnoestrutura). O benefício do emprego ou aquisição de produtos ou créditos é a utilidade a ser alcançada a qualquer custo, por meio da distribuição do excedente, em detrimento de abatimentos e salários e em proveito de investimentos. 

Um processo completamente diferente daquele da maximização da renda em detrimento do emprego, ou, no nível macroeconômico, da prevalência do desenvolvimento do emprego cooperativo apenas na presença de recessão. Os investimentos planejados são assim definidos como aqueles necessários para a sobrevivência da empresa e seu desenvolvimento na fase de crescimento. 

Isso ocorre principalmente pelo fato de que a disponibilidade dos meios de produção não está toda cristalizada em um recurso que pode ser alocado com base em escolhas que podem ser externas à própria estrutura da empresa (como no caso do capital das sociedades anônimas), mas sim, em um recurso que é ele mesmo o fundamento da estrutura: o trabalho dos membros que possuem os meios de produção. 

O desafio cooperativo 

Economia e política, portanto, estão inseparavelmente unidas na história e na teoria do empreendimento cooperativo. No sentido de que sua constituição é fundada em uma forma específica de propriedade coletiva. Constitui o protagonista dessa forma de empreendimento, como muito bem apreendera a reflexão desenvolvida no século XIX. 

Nesse personagem principal estava a causa daquela "perturbação" e "desorientação" das mentes dos economistas liberais e sobre a qual alguns dos intérpretes desse fenômeno social discutiram na virada do século XX, ainda insuperável em profundidade analítica, não obscurecida pela paixão com que favoreciam (ou se opunham!) à cooperação. 

A cooperação incorpora as propriedades típicas do «capitalismo gerencial», apesar da identidade social de propriedade e controle. Afinal, não é talvez o caráter fundador, «apropriação de materiais e meios de produção por grupos de trabalhadores», que gera os pressupostos político-organizacionais da cooperação? 

Estou pensando no voto por pessoa e no sistema de representação sindical predominantemente subcultural-político, que interagem para garantir a participação democrática nas decisões (que é indevidamente identificada com a autogestão) e a continuidade da solidariedade orgânica internalizada como recurso. 

O "desafio cooperativo" da empresa capitalista está agora prestes a enfrentar seu período histórico mais importante e difícil: aquele que se abriu no final do século XX com a globalização da economia e a globalização da sociedade. A economia polifônica será capaz de resistir a este teste? 

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