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Grécia, o drama da crise: desemprego, jovens em fuga, suicídios

Os inspetores da troika desembarcaram em Atenas e o primeiro-ministro Papademos tudo fará para os convencer: mas entretanto como é que o país reage a uma crise cada vez mais opressiva? Desemprego juvenil em 30%, fuga de cérebros e automutilação: o declínio cada vez mais inexorável de uma nação gloriosa

Grécia, o drama da crise: desemprego, jovens em fuga, suicídios

Era uma vez a Magna Grécia, o berço da cultura, da democracia e da ciência. No terceiro milênio, o país helênico vive cada vez mais sobre os escombros daquele passado glorioso e distante, assolado por uma crise que mortifica os trabalhadores, faz fugir os jovens e, em muitos casos, até leva pessoas a tirar a própria vida.

Para a Grécia, o tempo dos violentos motins que nos últimos meses incendiaram a vida social do país, deixando agora espaço para a resignação, parece ter terminado. Em novembro passado, o governo caiu, substituído, um tanto no estilo Monti, por um executivo técnico liderado por Lucas Papademos, ex-vice-diretor do BCE. Figura autoritária e confiável, assim como o referido colega italiano, mas também não sabe fazer milagres. Tanto é assim que o próprio primeiro-ministro declarou há algumas semanas: "Se não convencermos os inspectores da Troika a dar-nos ajuda, será incumprimento até Março".

Aqui estão eles, os famosos inspetores. Desembarcou ontem em Atenas para pressionar ainda mais uma nação que já está em suas últimas pernas. A receita dos Papademos é clara: reduzir os custos trabalhistas e diminuir o limite do salário mínimo, conforme sugerido em dezembro pelo FMI em troca de ajuda.

Os salários dos funcionários públicos já foram reduzidos, agora o setor privado está na mira. Desde 2000, os custos salariais das empresas gregas cresceram 35%, bem acima de 19% da média da zona do euro e quase dez vezes mais do que a parcimoniosa e perspicaz Alemanha (4%). Vacas gordas mal geridas, e que agora terão de passar necessariamente por uma dieta rigorosa e imediata: cortes salariais, ou, como preferem os sindicatos, redução dos impostos pagos pelo empregador. De qualquer forma, como no setor público, a abolição dos dias 13 e 14 está a caminho. O projeto é: pagar menos e flexibilizar o trabalho, evitando assim toda a supressão de empregos que eles têm levou o desemprego a atingir 2011% em setembro de 19, quatro pontos a mais que no ano anterior.

Mas os jovens não acreditam nisso – o desemprego juvenil é de fato mais de 30% – e preferem fugir para o exterior. As estatísticas oficiais não mostram esse fenômeno (segundo dados da OCDE, a emigração não aumentou), mas há muitos indícios. No ano passado, o Goethe Institute em Atenas teve um aumento de 70% nas matrículas, enquanto o Athens News em outubro informou que uma agência de empregos da Irlanda do Norte até ofereceu "profissões" a meninos gregos, como colher cogumelos. Ou ainda, o número de currículos enviados da Grécia para o Eures, o portal europeu de emprego, duplicou em 2011 face a 1993, ultrapassando os 15.

A fuga da juventude também significa fuga de cérebros: já em 2007, no alvorecer da crise, 12,2% dos graduados gregos viviam e trabalhavam no exterior, ou seja, quase um milhão de pessoas. Para efeito de comparação, o número é o dobro dos espanhóis graduados (outro país com desemprego juvenil muito alto), enquanto os franceses que emigram para o exterior em busca de trabalho são apenas 1,3%.

Esses dados, além de tristes, também podem ser particularmente prejudiciais para as estratégias futuras do país: a elite dos jovens qualificados é de fato a futura classe alta, ou seja, aqueles que por acederem a um elevado salário vão pagar (ou teriam pago) os impostos mais substanciais, contribuindo assim significativamente para os cofres de Atenas. Mas não é só: também ao crescimento, à pesquisa e à inovação, sem os quais o futuro de um país não pode ser exatamente cor de rosa.

E talvez acabe que alguém, por desespero, perca a vida. Os dados, também retirados do Wall Street Journal, são aterradores: desde 2009, os suicídios dobraram na Grécia, em um país historicamente relutante a tais soluções (não estamos no Japão) e que de 1990 a 2009 foi o que apresentou o menor índice de automutilação da Europa.

A Klimaka, uma associação de caridade, até criou um número de telefone de emergência para prevenir suicídios: novamente de acordo com o WSJ, as ligações aumentaram dez vezes desde o início da crise (100 por dia contra 10). A faixa etária mais afetada? Homens entre 35 e 60 anos.

A Grécia não é um país para jovens, nem para quem já não é jovem.

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