A tecnologia que possibilita o reconhecimento facial também pode sinalizar a chegada do urso na bolsa. As bolsas de valores descobriram isso ontem, começando pela Nasdaq. O declínio acentuado de ontem foi desencadeado ontem depois que a Lumentum Holdings, uma empresa da Califórnia que fornece tecnologia de reconhecimento facial, anunciou que "um de seus principais clientes cortou um grande pedido". Em poucos minutos, a ação despencou até perder 33%, contagiando o restante do mercado quando foi confirmado que o cliente era ninguém menos que a Apple.
SEGURE O IPHONE PARA TRÁS, BAQUE DA MAÇÃ
As ações da Apple caíram até 5%, arrastando para baixo os outros fornecedores mais sofisticados do iPhone: a Corrus Logic fechou em queda de 14%, assim como a Qorio e a Skywors Solutions. O índice de semicondutores Soxx caiu 4,4%. A Japan Display, fabricante de telas sensíveis ao toque, caiu 7% em Tóquio esta manhã, depois de fornecer uma orientação muito decepcionante para o ano.
A onda de queda que atingiu os mercados dos EUA continuou esta manhã na Ásia. Bolsas do Japão (-2,5%) e da Coreia do Sul (-0,9%) e de Taiwan (-0,8%) perdem golpes. As bolsas da China subiram ligeiramente após o anúncio de que uma delegação de alto nível viajará aos EUA para renovar as negociações sobre tarifas.
A derrocada do Nasdaq (-2,78%) e dos demais índices americanos foi ainda mais profunda: Dow Jones -2,32%, S&P 500 -0,97%.
GOLDMAN SACHS INVESTIGADO NA MALÁSIA
Na verdade, o revés de Wall Street não foi causado apenas pelos problemas da Apple. Ainda mais pesada foi a queda do Goldman Sachs (-7,5%) após a notícia divulgada pela Bloomberg de que o primeiro-ministro da Malásia, Lim Guang Eng, decidiu processar o Banco sob a acusação de ter contribuído ativamente para desviar alguns bilhões de dólares da riqueza soberana do país fundo, favorecendo a ação penal do ex-primeiro-ministro. O próprio Lloyd Blankfein está pessoalmente envolvido no caso, até poucos meses atrás o número um no banco de investimentos.
A lista de quedas continua com a General Electric (-6,9%), pela primeira vez abaixo dos 8 dólares desde 2009: o CEO Larry Culp disse que o grupo terá de vender vários ativos "rapidamente" para evitar uma queda dramática.
TRUMP PARA A ARÁBIA: CONTINUE BOMBANDO BRUTO
Para completar o quadro, a nova descida de energia. A recuperação dos preços do petróleo durou pouco. Ontem, o presidente Donald Trump interveio pedindo à OPEP que não cortasse a produção apesar da queda dos preços, como a Arábia Saudita havia antecipado. Mas a desaceleração da economia, que também está travando as compras de compradores chineses e indianos, está causando a queda.
O Brent caiu abaixo de 70 dólares esta manhã para 69,17 (-1,4%), Wti abaixo de 60 dólares (59,06, -1,5%).
As ações do setor estão em baixa em Wall Street. Na praça Affari Saipem +0,11%, Eni +0,21% e Tenaris -0,81%.
EURO NO MÍNIMO POR 20 MESES. PESAGEM DE MANOBRA E BREXIT
Neste contexto, o euro está a recuperar, depois de -1% ontem face ao dólar, a cruz encontra-se esta manhã nos 1,124 (+0,2%). As bolsas europeias viveram uma sessão de alta tensão sob a pressão da venda do euro, que caiu para o seu nível mais baixo desde junho de 2017 face ao dólar a 1,124. Vários fatores, tanto econômicos quanto políticos, contribuíram para a queda da moeda única, assim como das cotações de ações. Há um constrangimento de escolha, desde a confusão sobre o Brexit (os conservadores se levantam contra o plano do governo) até as terríveis perspectivas do confronto entre Roma e Bruxelas. Mas também o alarme sobre fichas e, em chave doméstica, a incerteza sobre Carige.
ENTRE BOND USA E BUND A SCISS DE 354 PONTOS
Criou-se assim uma situação paradoxal: o diferencial de rentabilidade entre o título do Tesouro dos EUA a 2 anos (2,92%) e o Bund alemão a 2 anos (-0,62%) atingiu um máximo de 354 pontos base. Um nível não visto desde os anos 80. Isso significa que, a taxas de câmbio constantes, investir em títulos do governo dos EUA gera um prêmio de 354 pontos-base a cada ano em comparação com um investimento igual em títulos do governo alemão.
MILAN SE SEGURA, FRANKFURT PIORA, LEILÃO BTP HOJE
Nesse contexto, as listas de ações ficaram vermelhas. Milão -1,05% aproximou-se da barreira dos 19 pontos para baixo (19.056).
A queda em Frankfurt foi ainda mais forte: o índice Dax caiu 1,8%, dobrado pela queda simultânea de duas das trinta blue chips que o compõem: Infineon -7% e Sap -6%. Desde o início do ano, o índice perdeu 12,5%, desempenho quase em linha com o de Piazza Affari (índice FtseMib -12,0%).
Fracos Paris (-0,93%), Madrid (-0,64%) e Londres (-0,73%).
Os títulos de dívida estão sob pressão: o spread aumentou para 305 pontos-base, de 298 na sexta-feira.
No leilão de obrigações do Tesouro a um ano, a yield caiu ontem para 0,63%, o Tesouro colocou o montante máximo esperado de 5,5 mil milhões de euros e a procura melhorou.
Hoje será a vez dos títulos de médio-longo prazo: serão leiloados 5,5 bilhões de euros em BTPs de 3, 7 e 20 anos.
VOE TIM NA ONDA DO EMPREENDIMENTO COM FIBRA ABERTA
A rainha indiscutível da Piazza Affari foi ontem Tim, +2,8% no fechamento após registrar um salto de até 6% na onda de notícias sobre o plano do governo de apoiar a criação de uma rede única por meio de emendas ao decreto de simplificação. A perspectiva de um acordo entre a Tim e a Open Fiber foi endossado pelas declarações de Amos Genish, diretor administrativo, que se disse a favor da criação de uma rede única na Itália, mas com a condição de que a rede permaneça sob o controle de Tim. O aumento também foi impulsionado pela notícia de uma aliança com a Vodafone no 5G, para reduzir os custos da operação. Enquanto isso, Genish partiu para a China para se encontrar com a alta administração da Huawei.
Um dia atormentado pelo contrário para Stm, atingido pela crise das fichas. A ação perdeu 4,5% ante os +2% do início da sessão propiciada pelas boas contas da Infineon. Mesmo o grupo alemão, +3% na abertura, caiu para -5% na onda de notícias vindas da Nasdaq.
ACORDO PARA ASSISTIR O PLANO CARIGE
A incerteza em torno do caso Carige pesou sobre os bancos, suspensos durante toda a sessão a pedido da empresa. A administração aprovou ontem as contas dos primeiros nove meses, encerradas com prejuízo de 188 milhões após o pedido de novos ajustamentos solicitado pelo BCE e dado sinal verde para a operação de reforço do Banco em obrigações subordinadas Tier 2 e num posterior capital aumento de 400 milhões. Os principais accionistas (família Malacalza, Gabriele Volpi e Raffaele Mincione) demoraram mas a solução foi encontrada graças ao Regime de Intervenção Voluntária do Fundo Interbancário de Garantia que já aprovou um compromisso até 320 milhões. O CEO do Intesa, Carlo Messina, já antecipou o compromisso da instituição.
Os demais títulos do setor foram fracos: Unicredit -1,7%, Intesa -2%, Ubi -1,93%.
DESTAQUES LEONARDO E TERNA. ATLANTIA SOFRE
Moncler +0,8%. O canal de e-commerce está indo muito bem na China, diz o diretor administrativo Remo Ruffini.
A Leonardo (+2,1%) recebeu um pedido de 280 milhões de euros para 22 helicópteros Aw169.
Terna +1,08% e Snam -0,1%, ambos recompensados pela promoção de Ubs.
Atlantia -2%, após a notícia da suspensão do dividendo intercalar.
Vendas automotivas. Ferrari caiu -1,9% e Brembo -2,84%.