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Giannola: “O gasto dos fundos da UE é lento. Mas não depende apenas das Regiões Sul”

Entrevista com o presidente da Svimez, Adriano Giannola: "É necessário um diagnóstico completo das verdadeiras razões dos atrasos" do Leste Europeu".

Giannola: “O gasto dos fundos da UE é lento. Mas não depende apenas das Regiões Sul”

“Não, não é justo colocar toda a culpa nas regiões do sul se tal atraso se acumulou na utilização dos fundos estruturais europeus. Os motivos são muitos e as falhas, se houver, devem ser atribuídas a vários sujeitos. Mas a questão básica é que, se os tempos de utilização desses recursos são longos o suficiente para se considerar concreto o risco de perda de parte substancial deles, torna-se imprescindível uma avaliação aprofundada dos reais motivos da lentidão. Uma operação que não é realizada porque não parece haver nenhuma estratégia sobre o assunto por parte do governo”.

O presidente da Svimez Adriano Giannola não hesita - nesta entrevista ao "Firstonline" divulgada no final da apresentação das antevisões do Relatório 2014 sobre a economia do Sul que o instituto de investigação publicará na segunda quinzena de setembro - ao apontar que são, na sua opinião, as verdadeiras razões dos atrasos das regiões do sul na aplicação dos Fundos Estruturais. Atrasos que tornam ainda mais problemática qualquer intervenção para, pelo menos, tentar reduzir o fosso, "já estrutural", segundo Svimez, entre o Sul e o Centro-Norte.

PRIMEIRA LINHA – Presidente Giannola, o subsecretário da presidência do Conselho Graziano Delrio acaba de recordar que até o final do próximo ano a Itália deve contabilizar o uso de 21 bilhões de euros relativos aos orçamentos europeus de sete anos anteriores. E que, destes, 16 se referem ao Sul. Como você pode evitar perdê-los?

GIANNOLA – “O primeiro passo, repito, deveria ser tentar entender as razões dessas lentidões crônicas. Porque, se o diagnóstico estiver errado, a terapia provavelmente estará errada."

PRIMEIRA LINHA – Presidente, o senhor pretende dizer que as Regiões do Sul estão isentas de responsabilidade?

GIANNOLA - "Absolutamente não. As regiões do sul têm sua parcela de culpa, não há dúvida. E, na presença de responsabilidades esclarecidas, talvez seja adequada a intervenção de uma autoridade nacional. Mas também seria apropriado perguntar se as regras sobre a utilização e reporte dos fundos europeus são suficientemente simplificadas. Se assim fosse, as responsabilidades seriam, pelo menos, partilhadas com Bruxelas. E isso não é tudo..."

PRIMEIRA LINHA - O que mais está lá?

GIANNOLA – “Há que uma estratégia para uma utilização mais correcta dos fundos estruturais deve abordar com a UE e os seus parceiros europeus uma questão que não pode continuar a ser esquecida. E isso contribui muito para manter o nosso Sul na ponta”.

PRIMEIRA LINHA - Qual?

GIANNOLA – “Dumping fiscal, ou seja, uma espécie de concorrência substancialmente desleal (embora formalmente respeitosa das regras do jogo), por parte de outros Estados membros da UE”.

PRIMEIRA LINHA – Presidente, a que se refere?

GIANNOLA – “À competição implacável de alguns países, especialmente da Europa Oriental, contra o nosso Sul. Concorrência legítima se for em igualdade de condições. Mas por um lado existe uma zona débil, o Sul de Itália, com os constrangimentos legitimamente impostos a todo o país pela adesão ao euro, com custos laborais também dependentes de proteções particularmente fortes, mas também com um excedente primário estrutural. E do outro, o Estado X – por exemplo, digamos a Polônia? – que tem uma moeda nacional na qual pode operar para apoiar as exportações, em que o custo da mão de obra não passa da metade do italiano, e um regime tributário muito mais vantajoso que o nosso. Se assim for – e esta é a realidade – a competição entre o Estado X e o nosso Sul pode ser definida em igualdade de condições?”.

PRIMEIRA LINHA - Então o que fazer?

GIANNOLA – "Uma forte ação da Itália em relação à UE seria essencial para restabelecer, pelo menos em parte, um equilíbrio que não existe".

PRIMEIRA LINHA – Por exemplo, bater os punhos na mesa para, pelo menos, conseguir que as despesas de investimento público cofinanciadas por Bruxelas sejam excluídas do cálculo do défice?

GIANNOLA – “Este pode ser um dos caminhos a seguir. Acrescentaria que também seria necessário fazer pesar a comparação com os nossos parceiros europeus o facto de, no cálculo do dar e receber com a Europa, a Itália ser um contribuinte líquido”.

PRIMEIRA LINHA – E por que, na sua opinião, essas estradas não são percorridas?

GIANNOLA – “Isso deveria ser pedido ao governo. O que provavelmente responderia colocando a obrigação de cumprir o pacto de estabilidade interna, que não permitiria uma vantagem fiscal, por exemplo, da Sicília sobre a Lombardia. Mais ou menos o que a Europa contestava (o Comissário da Concorrência era Mario Monti) motivando o não a um regime fiscal mais atractivo a favor do Sul, à semelhança do autorizado para uma área mais pequena e menos populosa que era a 'Irlanda' .

PRIMEIRA LINHA – Não há esperança nesta frente, então?

GIANNOLA – “Receio que haja muito pouco. Mas você pode tentar perguntar. E também para fazer outra pergunta, que o ex-Ministro da Coesão Territorial Carlo Trigilia se fez numa entrevista muito recente. Para perceber se são fidedignos os rumores na imprensa segundo os quais o Governo pensa reduzir a quota de cofinanciamento nacional para fechar o jogo dos fundos estruturais parcialmente não utilizados. Um truque – aqui concordo com Trigilia – que, se confirmado, assumiria a forma de uma espécie de manobra financeira disfarçada”. 

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