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ENTREVISTAS DE FINAL DE SEMANA - Bossi (Ifis): "Um banco saudável e inovador é bom para a Itália"

ENTREVISTAS DE FINAL DE SEMANA - Fala Giovanni Bossi, CEO do Banca Ifis, que cresce 20% ao ano sem agências e tem um histórico de mercado de ações de 2002% desde 700: "Nosso sucesso tem 3 drivers: controle de liquidez, capitalização e rentabilidade. Conciliar os interesses do banco e dos clientes com os da economia. Compras? Se houver uma oferta vantajosa, avaliamos. Renzi fez muitas reformas, mas é preciso mais coragem".

"Ser um banco de forma sustentável e satisfazer os pedidos dos clientes: é assim que servimos a economia italiana". Quem poderia imaginar que na esplêndida Villa Fürstenberg em Mestre, onde em 1849 o marechal de campo austríaco Radetzky assinou a rendição de Veneza, existe a sede de um banco sem agências, mas com performances estelares como o Banca IFIS, que vale mais do que um bilhão em bolsa e meio de euros com um histórico de mais de 700% de 2002 até hoje? Mas é onde Giovanni Bossi, diretor administrativo do banco independente presidido por Sebastien Egon Fürstenberg que a fundou em 1983 e detém cerca de 51% dela, concedeu ao FIRSTonline uma entrevista repleta de novidades mas também surpresas. 

Ainda mais do que os números do balanço e da bolsa que atestam uma evolução orgânica ininterrupta, que em breve poderá experimentar outros impulsos, é a marcante filosofia empresarial da Banca IFIS e que se resume no objectivo de fazer o seu trabalho para ao máximo, conciliando os interesses do banco e de seus clientes com os do país.

PRIMEIRO on-line – Senhor Bossi, a Banca IFIS fechou o ano de 2015 com um resultado líquido de 162 milhões de euros, uma valorização de 68,9% e uma valorização bolsista superior a 110%: é certamente um ano a enquadrar para o seu banco, mas será um ano excepcional que irá ser difícil de superar ou é um ano repetível? 

BOSSI - Vou respondê-los com números. Desde que estava em seu ponto mais baixo na bolsa de valores em 1995 e tinha uma capitalização de 10 bilhões de liras antigas, o estoque cresceu 300 vezes, multiplicado por 30 por cento e agora vale 1.500 milhões de euros. Desde 2002, o histórico foi de 700%. Isto significa que o nosso projeto é apreciado pelo mercado e tem uma excelente perspetiva de crescimento a longo prazo, estando ainda a meio caminho. Quanto às demonstrações financeiras, o exercício de 2015 beneficiou certamente de uma mais-valia irrepetível devido à liquidação progressiva de obrigações do Estado, em que tínhamos acreditado e investido massivamente em 2010, mas a nossa tendência de desenvolvimento mantém-se em torno dos 20% ao ano graças ao lucratividade ordinária que deriva do crescimento orgânico. E assim esperamos que seja em 2016 também.

PRIMEIRO on-line – Qual é o segredo do sucesso do Banca IFIS? O modelo de negócio, o estilo de gestão ou a fragilidade da concorrência?

BOSSI - Temos a extraordinária vantagem de não ser um banco tradicional e de estarmos totalmente focados em três drivers: o
controle de liquidez, controle de capitalização e controle de rentabilidade. Esses três elementos centrais da nossa estratégia são a base do mantra do Banca IFIS, que opera visando objetivos que são bons para o banco e seus clientes e bons para o país. Ou seja, procuramos fazer bem o nosso trabalho agregando valor à economia do país. Sei que parece um equilíbrio impossível, mas conciliar nossos interesses com os da economia italiana pode ser feito, e nossa realidade o prova.

PRIMEIRO on-line – O que significa que você não é um banco tradicional?

BOSSI - Somos um banco sem agências e isso nos torna ágeis e competitivos: hoje a agência bancária não é mais o instrumento certo para bancar porque não permite a comunicação direta entre o banco e o cliente e é apenas um intermediário caro e ineficiente. As instituições generalistas estão percebendo isso e, depois de correrem para comprar balcões a preços estonteantes, hoje são obrigadas a reduzi-los ou a inventar produtos não para o cliente, mas para o balconista. "Sportelite" é a doença senil dos bancos
tradicionais e felizmente estamos completamente livres deles.

PRIMEIRO on-line – Sem agências, o Banca IFIS atende clientes apenas online?

BOSSI - Não somente. A digitalização é parte integrante do nosso modelo de negócios, mas não existe apenas a Internet: a comunicação direta também é feita com o caro telefone antigo ou o aperto de mão. O importante é se colocar a serviço do cliente e poder atendê-lo da melhor forma possível em todos os momentos, atendendo realmente às suas necessidades, seja uma empresa, uma família ou um investidor.

PRIMEIRO on-line – A superação da recessão no país irá favorecer ou abrandar o seu ativismo na compra e gestão de carteiras de crédito malparado no setor do crédito ao consumo que, a par do financiamento das PME, é o core business do seu banco?

BOSSI - Estamos experimentando uma estabilização substancial da nossa economia. Não estamos mais em queda, mas o crescimento ainda é fraco e precisamos apimentar nossa economia com inflação mais alta, como Mario Draghi está tentando fazer com a flexibilização quantitativa. Nesta situação, os atrasos na recuperação dos créditos bancários vão continuar e não nos faltará trabalho: o nosso negócio certamente não está a morrer, pelo contrário.

PRIMEIRO on-line – Como avalia o acordo entre o Governo italiano e a Comissão Europeia sobre a recuperação de crédito malparado através de bancos podres e com a garantia pública (Gacs) e como esta solução afetará o seu negócio? 

BOSSI - O Gacs é o máximo possível que o Governo italiano poderia obter da Comissão Europeia e o acordo entre o Governo e a UE está a movimentar o mercado ao eliminar as incertezas e retirar a hesitação dos bancos em vender empréstimos difíceis a 20% do seu valor original. Para nós é uma benção.

PRIMEIRO on-line – A intervenção nos créditos malparados, incluída no decreto em exame pelo Parlamento, não é o único ato do Governo Renzi sobre os bancos: primeiro reformou os bancos cooperativos, depois salvou 4 bancos em crise para vendê-los até o verão, agora está reformando os CCBs e o primeiro-ministro diz que a reestruturação do crédito deve ser concluída ainda neste ano, talvez aludindo às medidas de segurança para o MPS: como avalia a política bancária do governo implementada até agora? 

BOSSI - Pode-se argumentar o quanto quiser sobre a qualidade das intervenções, mas não há dúvida de que algo de bom finalmente foi feito. E a criação da superpopularidade entre o Bpm e o Banco Popolare, além das cotações dos primeiros tempos, é o sinal de que a política de reformas está produzindo seus efeitos. Tiro o chapéu para o sistema italiano.

PRIMEIRO on-line – E o que você acha da política monetária do BCE? Como novos cortes nas taxas e a nova LTRO afetam seus negócios? 

BOSSI - Certamente, a redução dos juros faz com que os bancos paguem um imposto, mas o efeito varia de acordo com a rentabilidade do modelo de negócio. Quem não é muito lucrativo sofre, quem é eficiente se defende melhor como acontece conosco. Líquidas de títulos do governo, que estamos reduzindo em nossa carteira, nossas margens - que partiram de patamares muito altos - vão se comprimir um pouco, ficando entre 8 e 9%: não estamos pulando de alegria mas tudo isso não sobe com certeza nossas contas. Ao julgar a política monetária do BCE, não se deve pensar que ela pode substituir a política econômica e é necessário que os estados demonstrem visão, mas o benefício de reduzir as taxas para países altamente endividados como a Itália é inegável. Por outro lado, uma maior estabilização de todos os países da União Europeia afasta os riscos e, no fundo, é uma vantagem para toda a zona.

PRIMEIRO on-line – No entanto, o BCE tem duas faces: por um lado, oferece uma política monetária inteligente e, por outro, freia os bancos com uma regulamentação excessiva que talvez seja o preço que Draghi terá de pagar ao establishment alemão. O que você acha? 

BOSSI - Aqui, também, há dois aspectos diferentes a considerar. Por um lado, a hiper-regulação certamente complica a vida dos bancos com prescrições às vezes obsessivas, muito complexas e muitas vezes pouco claras. Por outro lado, o BCE tende a tornar os bancos mais seguros e estáveis, pressionando-os a aumentar o capital e fortalecer sua base de capital, aproximando-o de um patamar de 15%, onde o Banca IFIS já está essencialmente presente. Tudo isso tem suas consequências.

PRIMEIRO on-line – Qual? 

BOSSI - Em primeiro lugar, é preciso que os bancos reconheçam definitivamente que lucrar no banco será cada vez mais difícil, sobretudo para quem tem pesadas heranças nas costas e para quem não tem gosto pela inovação. No entanto, também deve ser lembrado que os contribuintes na América e na Europa pagaram demais pela má administração dos bancos e, portanto, é bem-vindo o tempo em que os riscos são reduzidos e o capital dos bancos é aumentado. Só lamentamos que o sistema italiano se esforce para fazer valer a sua voz e para explicar a quem critica indiscriminadamente o nosso sistema bancário que as suas dificuldades não dependem apenas da má gestão, mas também de uma recessão que pôs de joelhos muitas empresas e que não conseguiu mas também pesam sobre os credores. O que é certo é que o estado real de saúde dos bancos italianos não pode ser medido pelo crédito malparado bruto, que ronda os 200 mil milhões de euros, mas é radiografado pelo montante do crédito malparado líquido, que é de 80 mil milhões quando seria ser fisiológica ascendeu a 40 bilhões. Estamos no meio do caminho, mas certamente não estamos na catástrofe.

PRIMEIRO on-line – Voltemos ao Banca IFIS: você é um banco especial e um banco sem agências, mas de onde vêm os lucros? 

BOSSI - Dos nossos principais negócios, o crédito a empresas italianas, da aquisição e gestão de carteiras de crédito malparado (NPL), e de um setor de nicho que nos vê como líder de mercado, porém, como créditos fiscais. Em particular, está a crescer o negócio de crédito malparado, que representa cerca de 20% dos lucros, outros 8-10% provêm da recuperação de créditos fiscais e os restantes 60-70%
dos empréstimos e serviços que oferecemos a pequenas e médias empresas.

PRIMEIRO on-line – Nos últimos tempos, você também lançou novas atividades e criou novos produtos, como a conta de depósito rendimax e a conta corrente contomax, ambas online: por quê? O que espera da diversificação da recolha e dos serviços e o que planeia para o futuro próximo? 

BOSSI - rendimax e contomax são filhos de nossa estratégia focada nos três drivers que mencionei no início e na visão geral do Banca IFIS, que está demonstrando em fatos cotidianos que a bancar de forma rentável para nós e para nossos clientes é perfeitamente conciliável com a interesses gerais do país. Sendo uma “fábrica de produtos”, um banco “maker”, procuramos colocar no mercado os mais adequados aos clientes sem os custos e intermediações burocráticas das agências bancárias tradicionais. Isso permite garantir uma rentabilidade média superior aos poupadores, como é o caso do rendimax para depósitos e do contomax para correntistas.

PRIMEIRO on-line – O Banca IFIS planeja aquisições na Itália ou no exterior e uma maior expansão territorial em nosso país? 

BOSSI - O Banca IFIS foca-se principalmente num crescimento saudável e orgânico que irá confirmar também em 2016. Não nego que muitos conselheiros batem frequentemente à nossa porta oferecendo-nos activos bancários de outros institutos porque nos vêem como um banco com excesso de capital. Há cerca de dez dossiês na minha mesa, mas eles permanecem na minha mesa. O que não significa que, caso surgisse uma oportunidade de compra muito vantajosa para nós, nos recusássemos a considerá-la.

PRIMEIRO on-line – É um anúncio de compras?

BOSSI - Não, absolutamente, é apenas uma hipótese teórica, e por enquanto nada mais.

PRIMEIRO on-line – Mas sua atenção está voltada para o exterior ou para o mercado italiano?

BOSSI - Só na Itália. Estes não são mais tempos em que se pode ir para o exterior levianamente.

PRIMEIRO on-line – Nos últimos anos, o Banca IFIS acostumou o mercado a resultados estelares, mas também terá alguns pontos críticos, como também acontece com as melhores empresas: quais são as do seu banco?

BOSSI - Não há uma criticidade específica, mas uma dificuldade que poderia ser definida como existencial ou pelo menos geral e consiste em
manter a energia e o dinamismo de todo o banco elevados num contexto cada vez mais complexo. Alcançamos resultados extraordinários, mas seria um crime viver dos louros e desistir da mudança contínua. Sei que é difícil, mas é a nossa missão como banco inovador e independente. 

PRIMEIRO on-line – A atividade do Banca IFIS vai ao cerne dos problemas que as famílias e empresas enfrentam hoje: de seu observatório, como você vê o estado da Itália hoje? Há sinais de melhora ou ainda não? 

BOSSI - Há sinais de mudança, mas não em todos os lugares. As zonas mais saudáveis ​​do país, que não coincidem necessariamente com as mais ricas, estão a habituar-se à mudança e à importância de uma relação dinâmica com uma realidade em constante evolução. É impossível não ver que as autoestradas estão novamente lotadas, mas acima de tudo que a velocidade diz respeito a outro aspecto da economia real: novos empregos estão sendo inventados, menos intensivos em capital do que antes e mais ligados à inovação tecnológica, do que do trabalho inteligente ao bem-estar corporativo há todo um florescimento de novas iniciativas. Não me refiro tanto às start-ups, que são um fenômeno multifacetado, mas a
criatividade que se desenvolve nas empresas e no trabalho por conta própria, como testemunham as Oficinas Digitais, um projeto que lançámos para dar a conhecer e digitalizar o melhor dos negócios artesanais.

PRIMEIRO on-line – Doutor Bossi, o Banca IFIS diz que quer servir o país, mas qual é a sua opinião sobre a política de reformas do governo?
Renzi e quais, na sua opinião, deveriam ser as prioridades do governo para melhor apoiar o crescimento? 

BOSSI - O governo Renzi está fazendo muito em termos de reformas e não se pode deixar de reconhecê-lo. Agora deve encontrar forças para movimentar e modernizar até mesmo os setores mais estagnados do país e onde as reformas impõem um custo político de curto prazo, mas podem render frutos maiores no futuro. Estou pensando na necessidade de desenvolver a concorrência com mais coragem (o Uber é bom ou ruim para os cidadãos?) e abrir novos mercados sem enfrentar lobbies e corporações. Sei que são desafios difíceis, mas são essenciais se não quisermos cair no caminho do declínio.

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