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Crise, De Nardis (Nomisma): "A Europa joga o jogo da galinha"

Entrevista com o professor Sergio De Nardis, economista-chefe da Nomisma: “Alemanha, Grécia e Europa estão jogando o jogo do frango, como em 'Rebelde Sem Causa': quem freia primeiro é o frango e o outro ganha a corrida” – “Precisamos união bancária, e depois união fiscal, ou seja, Eurobonds” – “Minhas economias? Estão todos nas BTPs”.

Crise, De Nardis (Nomisma): "A Europa joga o jogo da galinha"

“Alemanha, Grécia e Europa estão jogando o jogo da galinha, aquele que lembramos no filme 'Rebelde Sem Causa'. Neste jogo, dois sujeitos se jogam a XNUMX por hora contra uma parede. Quem frear primeiro é o frango e o outro ganha a corrida. Mas continuando assim, corre-se o risco de que tanto o euro como a União Europeia se choquem contra esse muro”. Sergio De Nardis, economista-chefe da Nomisma, usa a teoria dos jogos para fotografar a situação atual. Infelizmente, porém, o que estamos vendo não é uma ficção, é uma história real e o futuro de muitos milhões de pessoas está em jogo. O Nomisma vem estudando possíveis estratégias de recuperação para a Itália nas últimas semanas, mas neste contexto toda reflexão econômica dá lugar a uma finança que domina a cena e segura o banco. 

Professor o que pode ser feito para sair dessa situação?

Infelizmente, este jogo carece de um coordenador superior para evitar desastres. Os mercados hoje reagem muito rapidamente a medidas que consideram insuficientes e tardias, como a dos bancos espanhóis. Trata-se de uma intervenção tampão, esperada e devida, que deixa todo o contexto inalterado e não resolve os nós da fragilidade do euro. É preciso mais do que isso para convencê-los. Primeiro a união bancária com seguro de depósito, depois a união fiscal, ou seja, Eurobonds e depois os mecanismos que equilibram a Europa. Hoje, a Alemanha tem um superávit comercial em comparação com outros países europeus que têm um déficit comercial e apenas os países deficitários estão pagando o preço. Um reequilíbrio desta situação é essencial.

Como pode ser feito?

Precisamos reduzir as políticas deflacionárias que vêm ocorrendo há anos, porque elas produzem economias deprimidas e desemprego, especialmente entre os jovens e os desempregados de longa duração. Hoje a inflação média da UE é de 2% e é resultado de 3% na Alemanha e 0% em países como Itália, Espanha, Grécia, Portugal ou Irlanda. A Alemanha deveria aceitar 4% de inflação, o que não é culturalmente fácil para os alemães digerirem, para que outros países subam para 1% e a média europeia fique em 3% por alguns anos.

A Alemanha se beneficia dessa situação?

Os alemães têm duas vantagens. O primeiro chegou junto com o euro e é o câmbio fixo. No contexto atual, o marco alemão se valorizaria em relação a outras moedas europeias e os países concorrentes teriam uma desvalorização competitiva. Em vez disso, estamos todos na mesma moeda e nossas mãos estão atadas. Não há dúvida de que após a unificação a Alemanha fez uma série de escolhas acertadas, pois após a queda do muro era o homem doente da Europa. Ele se esforçou muito, focando na manufatura e criou uma riqueza que não distribuiu em salários. É verdade que são maiores que os nossos, mas são menores do que poderiam ser se os trabalhadores recebessem um bônus de produtividade. Existe evidentemente um acordo com os parceiros sociais neste ponto. Soma-se a essa situação a enorme vantagem de uma moeda fraca, o euro, que impulsiona as exportações alemãs. 

Essa análise também mostra que o fim do euro prejudicaria a Alemanha…

Sim, de fato. Mas a população não percebe isso, o cidadão alemão não olha para além da fase atual. Embora a Alemanha, se o euro acabasse, também pagaria o penhor com os bancos, porque está exposta à Grécia, Espanha e Itália.

Então o que?

Então ela joga o jogo da galinha, nos leva ao abismo, convencida de que sempre podemos nos salvar antes de cair. Isso, ele pensa, nos força a comportamentos virtuosos que de outra forma não respeitaríamos. Na verdade, o único país que não respeitou seus compromissos foi a Grécia, que alterou suas contas. Tivemos um desempenho muito bom e até 2007 conseguimos até melhorar a relação dívida/PIB, talvez menos do que poderíamos, mas conseguimos. Aí veio a crise mundial e a dívida voltou a crescer.

Em suma, a Alemanha seria uma mãe rígida, mas ainda assim uma mãe?

Mas até as mães podem errar, pode haver um ponto sem volta neste jogo e o chão pode desabar sob nossos pés, quando a mãe alemã não espera ou não pode fazer mais nada. Por outro lado, há quem pense que Merkel vê apenas o horizonte eleitoral e não coloca outros problemas senão o crescimento do consenso interno.

De volta à estaca zero, o que pode ser feito?

Há outra pergunta que devemos fazer: por que os mercados atacaram a Espanha, que tem uma relação dívida/PIB menor do que a Grã-Bretanha? Porque os britânicos estão fora do euro e o banco central pode imprimir dinheiro. Os especuladores não estão apostando na libra, porque a Grã-Bretanha pode colocar liquidez no mercado. Basta uma ameaça de problema de liquidez para que os especuladores se retirem. A coisa mais importante a fazer então, além do que já disse, é uma mudança no papel do BCE, que passa a ser o emprestador de última instância. O BCE deve estabelecer como meta baixar as taxas de juros na Espanha e na Itália e comprar títulos no mercado secundário. Já o fez, mas sempre como medida excecional, a não repetir. Em vez disso, deve ser um comportamento normal para que os comerciantes saibam que especular sobre essas ações não é lucrativo.

Quanto você apostaria no euro?

É difícil responder. O coração mais do que a cabeça me leva a acreditar no euro. Fica uma observação, porque todas as minhas economias estão aqui, nas clássicas BTPs, portanto, no meu coração, quero acreditar que ele vai conseguir.

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