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Circolo Ref Ricerche – Ainda assim, a indústria pode se recuperar

REF RESEARCH CIRCLE, EDITADO POR GIACOMO VACIAGO – Não foi apenas uma recessão, muito menos uma crise puramente financeira: a crise que atravessa a economia italiana é estrutural, ou seja, muitos efeitos já ocorreram e são permanentes. Ou seja, a prioridade hoje é "reconstruir" a capacidade produtiva.

Circolo Ref Ricerche – Ainda assim, a indústria pode se recuperar

Desindustrialização 2008-2013

A contração do PIB durou 6 anos, e só em 2013 parece ter parado. Na Itália, a chamada "Grande Recessão" significou uma queda geral de mais de 8 pontos percentuais no PIB entre 2007 e 2013. Se considerarmos o PIB per capita, a perda é de 11 pontos percentuais, maior tanto na Alemanha quanto na França , e em comparação com a média europeia.

A produção industrial, que nos anos do pós-guerra teve um contributo fundamental para o desenvolvimento económico do país, diminuiu em 2013 cerca de um quarto face aos níveis anteriores à crise. Uma das principais consequências é que a capacidade de produção é superior às atuais necessidades de produção ditadas por uma demanda muito fraca e decididamente inferior àquelas que orientaram as decisões de investimento no passado. Esta situação, aliada às dificuldades de acesso ao crédito, tem conduzido a uma revisão em baixa das despesas de investimento.

Em parte porque o número de empresas diminuiu, em parte porque as decisões de investimento foram consideravelmente reduzidas, os gastos com investimentos em 2012 foram quase 23% menores do que no período anterior à crise. A crise marcou, assim, uma importante descontinuidade no processo de acumulação de capital, em particular para o setor industrial: perdas nos níveis de produção levaram a desinvestimentos, desinvestimentos de capital, fechamento de fábricas e negócios. Um período tão prolongado de falta de investimento tem efeitos importantes sobre o potencial de crescimento da Itália, porque há o risco de perder uma ou mais ondas de inovação, fator crucial para uma economia já caracterizada pela desaceleração da produtividade.

No fundo, o apoio do crédito bancário e da procura interna em particular, da procura pública (que corta encomendas e nem paga o que compra), está a diminuir, restando apenas o apoio da procura externa. O consumo está a diminuir sobretudo no sector dos bens duradouros (automóveis, electrodomésticos,…), devido à quebra do rendimento disponível das famílias que gastam menos e poupam mais. As decisões de gastos das famílias também são influenciadas pela situação dramática no mercado de trabalho. O emprego é uma das poucas variáveis ​​que ainda não parou de cair: em 2013 o número de pessoas empregadas diminuiu 2.5% face a 2012, resultando em menos 585 mil postos de trabalho e afetando sobretudo os mais jovens.

Na indústria, em comparação com os níveis pré-crise, há 600 trabalhadores a menos. Adicionalmente, aumentou o número de trabalhadores inscritos no fundo de despedimento, que no primeiro trimestre de 2013 estava estimado em 4% dos trabalhadores do setor industrial. Crescem também as formas precárias de trabalho, como os contratos por prazo determinado e por projetos, que aumentam a incerteza das famílias. A renda familiar continua em queda e em 2013 voltou aos níveis do final dos anos 80.

Quanto disso será remediado pela próxima recuperação que, não surpreendentemente, continua sendo recebida com descrença? Muito depende do que a "seleção darwiniana" dos últimos 6 anos já fez ou ainda tem que fazer.

Due diligence no final de 2013

A queda da procura interna e o racionamento do crédito (global no final de 2008, após o desaparecimento do Lehman; e apenas na periferia europeia desde 2010, após a falência da Grécia) provocaram aquela "selecção" da indústria italiana que melhor países governados (a Alemanha de dez anos atrás!) eles haviam antecipado por anos.

Suponha que somos um "banco inteligente" que tem de decidir se deve ou não financiar a próxima recuperação de uma de nossas empresas industriais. Como ele sabe se aquela empresa tem futuro?

Três parecem ser os principais fatores a serem considerados. Juntos eles ajudam a entender a probabilidade de uma empresa, ainda hoje ativa, ter também um futuro.
 
O primeiro fator relevante é o tamanho. Por uma série de razões (fundo de ganhos; reações políticas e sindicais; apoio de credores bancários) a possibilidade de uma empresa ainda ser viável hoje é relevante quanto menor for seu tamanho (ou seja, significa que o grosso dos pequenos negócios tem já fez).

O segundo fator refere-se ao setor ao qual pertencem. Como se pode verificar no quadro anexo, há sectores onde a produção industrial teve a maior queda, mas já está a recuperar (tipicamente: meios de transporte; borracha e plástico), e outros que, pelo contrário, caíram ligeiramente, mas continuar a cair (normalmente comida).

O terceiro fator diz respeito à dependência (direta ou indireta) da demanda interna ou externa. É o que já vimos nos últimos anos e continua relevante também para o futuro: as empresas que dependem da demanda externa têm um cartão a mais do que aquelas que atendem apenas a demanda interna. Nos últimos trimestres, a demanda externa manteve-se estável e as exportações apresentaram leve melhora. No entanto, existem fortes limites e riscos em confiar em uma recuperação impulsionada pelas exportações. Além das limitações habituais da baixa produtividade italiana e dos riscos associados a possíveis desvalorizações de moedas estrangeiras, como já ocorreu com o iene japonês e evidenciado por uma leve valorização do euro frente ao dólar, existem outros fatores que colocam em dúvida a a competitividade dos produtos italianos.

Segundo a REF Ricerche, um dos principais obstáculos é a especialização geográfica: ainda estamos pouco presentes nos mercados mais dinâmicos, como os emergentes asiáticos. A participação das exportações direcionadas a esses mercados é pouco mais da metade da alemã, sendo também inferior à da França. A escassa presença na Ásia deve-se a vários fatores, entre os quais a reduzida dimensão média das empresas italianas, que torna mais complexa a presença em mercados tão distantes, mas também a uma especialização da produção em alguns aspetos mais semelhante à dos produtores asiáticos. Olhando para o futuro, a falta de presença nos mercados asiáticos pode ser um problema, já que estes devem crescer ainda mais rápido do que o resto da economia mundial.

O Governo poderia (supondo que haja) fazer mais?

Com base no que foi dito nos dois parágrafos anteriores, temos um cenário provável para 2014 que não é muito otimista: nos confortamos em saber que a queda está acabando, e que o grosso do ajuste já ocorreu.

Existe algo na política econômica já decidida que, se implementada nos próximos meses, leve a um maior otimismo? O Diretor Geral Adjunto do Banco da Itália, Luigi Federico Signorini, já relata sua primeira opinião, que está resumida no Relatório Aprofundado.

Em primeiro lugar, devemos reiterar (como sublinhou Matteo Bugamelli, Banco da Itália) que a recuperação da economia italiana não pode prescindir do renascimento da indústria. A indústria representa uma contribuição fundamental para a inovação e as exportações italianas. A estratégia necessária assenta em dois pilares. A primeira visa melhorar a alocação de recursos por meio de reformas estruturais em redes de segurança social e políticas ativas de trabalho, sistema financeiro, concorrência e combate à corrupção e à ilegalidade.

Já o segundo visa a redução dos custos das empresas, atuando na redução da carga tributária e previdenciária, e dos impostos e encargos do sistema que pesam sobre o custo da energia. Acrescem-se as reformas destinadas a eliminar a complexidade do quadro regulamentar das empresas, as ineficiências da Administração Pública e da justiça civil; a incerteza do quadro regulamentar e a falta de serviços públicos e algumas infraestruturas.

Em conclusão, mais do que da retoma agora iniciada, a possibilidade de recuperar os níveis de produção industrial que ainda tínhamos há seis anos depende apenas da implementação daquele conjunto de reformas que estamos habituados a considerar complementares: fazer o mercado funcionar melhor e modernizar e/ou reduzir tudo o que é público.

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