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Berta (Bocconi): “A FCA agora precisa de um parceiro. E ele tem que se apressar."

ENTREVISTA com GIUSEPPE BERTA, professor da Bocconi, historiador econômico e guardião da memória da Fiat. “Marchionne fez vários milagres e cumpriu sua missão: cancelar a dívida”. Mas hoje enfrentar a revolução da mobilidade “estar sozinho é ainda mais difícil, na verdade impossível”. No entanto, a solução para a FCA não passa pela Europa ou mesmo pela Ásia. O destino ainda está na América. aqui porque

Berta (Bocconi): “A FCA agora precisa de um parceiro. E ele tem que se apressar."

"Temo que uma nuvem negra está se formando sobre a FCA: o desaparecimento de Sergio Marchionne, o alerta de lucro, os questionamentos sobre as qualidades da equipe de ponta, sem dúvida órfã de seu líder, são os sinais de que o grupo corre o risco de reviver uma fase de incerteza extremamente prejudicial, a menos que…”. A menos que? “Não devemos perder tempo. O importante é se movimentar rápido porque o tempo corre o risco de jogar contra você”.

Fala assim José Berta, historiador da economia, professor da Bocconi mas também veterano da Fiat, guardião da memória no Arquivo Histórico da Fiat entre 1996 e 2002, anos da primeira, infeliz, tentativa de casamento com a General Motors. Então, como agora, está em discussão o modelo de um futuro autônomo para a empresa que, depois de aterrissar em Detroit com a Chrysler, é hoje diametralmente diferente daqueles tempos. “Mas hoje – comenta – estar sozinho é ainda mais difícil, impossível mesmo”. É a convicção que Berta consolidou depois de uma longa missão de estudos aos EUA, como convidada de Bill Ford, herdeiro de uma dinastia automóvel "que hoje, nas palavras do Sr. Ford, já não se trata de automóveis mas sim de mobilidade, uma conceito complexo que serve para indicar uma revolução que já aconteceu, não apenas anunciada. Nem me atrevo a pensar nos custos e no tempo necessários para arrancar de raiz uma plataforma eletrónica como as que vi na Ford”. 

Daqui a necessidade de se apressar. “Em seis meses a situação pode ser difícil. Marchionne cumpriu a missão que se propôs: cancelar a dívida e deixar uma empresa financeiramente forte, mas disfuncional, toda voltada para jipes e carneiros, com duas marcas como Fiat e Chrysler em frenagem rápida”.

Poderia ter sido diferente?

“Marchionne, em seus 14 anos à frente do grupo, realizou vários milagres, a começar pelas negociações com a General Motors, nas quais surgiram pela primeira vez suas excepcionais qualidades de negociador. Entre 2004 e 2007, revolucionou a empresa ao cortar os gestores que não conseguiam entregar resultados e conseguiu motivar o ambiente já deprimido e mortificado”.

Depois veio a América.

“A Grande Intuição. Ninguém queria a Chrysler e ele fez uma oferta que os outros não puderam recusar. Traga experiência e tecnologia e não gaste dinheiro. Aqui o gerente com rosto humano, simpatizante da esquerda, torna-se o vilão, determinado a revolucionar as relações nas fábricas. Perguntei-lhe o porquê de certas escolhas marcadas pela intransigência. O problema é que os americanos fizeram esse acordo com a condição de que Itália e América operem em perfeita paridade e transparência. As fábricas têm que trabalhar da mesma maneira."

No final, a julgar pelos resultados, ele estava certo.

“Mas não completamente. Ele não conseguiu acertar as duas operações que realmente tornariam seu sonho realidade. A primeira diz respeito à Opel. O projeto inicial concebido por Marchionne, um grande visionário, previa uma tríplice aliança da qual a Opel, na época grande fã da casa GM, faria parte, juntamente com a Fiat e a Chrysler. Se bem-sucedida, nasceria um grupo de 6 milhões de veículos, entre americanos e europeus, com forte presença no mercado e em tecnologias. Mas Angela Merkel, sob pressão da indústria alemã, incluindo o sindicato, disse que não. A aliança com Obama não foi suficiente para convencer a corporação alemã. E a Opel caiu num abismo do qual só saiu quando foi oferecida a Carlos Tavares da PSA uma oportunidade semelhante à que Marchionne pediu”.

A propósito, esse desenho poderia ser revivido hoje no PSA?

“Li que o Tavares disse que estava disposto a voltar a falar sobre uma aliança com a FCA, que já foi discutida várias vezes. Seria uma perspectiva interessante não fosse o fato de haver uma grande participação acionária na Peugeot  Chinês. Não acho que Trump possa aceitar isso."

Mesmo que a guerra comercial não ecloda no final…

“Ainda é cedo para entender o alcance de um possível acordo que certamente é caro a Merkel e que pode contar com o apoio dos grandes americanos, que não têm interesse em iniciar um confronto hoje, em um momento de crescentes dificuldades no setor, engajados na busca de sinergias para evitar gastos suicidas. É um acordo patrocinado por Merkel no interesse dos fabricantes alemães. Vamos ver".

A solução para a FCA vem da Europa?

“É possível, mas, com exceção do PSA, não vejo possíveis parceiros. Difícil de passar pela Ásia, salvo acordos parciais. Mas a China está cortada, dada a situação política".   

O destino sempre passa pelos EUA, enfim.

“Como ficou claro para Machionne que em 2015 ele tentou sua obra-prima: o casamento com Gm. Primeiro lá tentou a negociação total, envolvendo não só a empresa, mas também os stakeholders, a começar pelo sindicato. Depois, diante do impasse, acariciou a grande aventura: não mais um gestor, mas um empresário capaz de reunir as forças necessárias para lançar uma OPA de empresas maiores, como a General Motors. No entanto, a operação foi interrompida e a partir desse momento Marchionne era um homem mais cansado, quase entediado. Com uma única empresa capaz de fornecer parcialmente os estímulos que este homem excepcional, farto de trabalho e também de muito fumo, precisava: sempre no avião, dormindo algumas horas por noite, talvez mesmo no avião sem nem saber se era dia ou noite”.

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