comparatilhe

EUA, se houver acordo sobre teto, relação dívida-PIB chegará a 60% após mais de 100 anos

Muitos estão confiantes de que, pouco antes do abismo, será encontrado um acordo para aumentar o teto da dívida. Mas a situação está se tornando explosiva: o nível de endividamento cresceu enormemente nos últimos anos. A cota de 100% do PIB será facilmente superada, aproximando-se dos níveis alcançados durante os anos da Segunda Guerra Mundial.

EUA, se houver acordo sobre teto, relação dívida-PIB chegará a 60% após mais de 100 anos

Faltam quatro dias e o acordo do teto da dívida ainda não está lá. Washington divulgou um plano de emergência em que, em caso de falta de acordo, são estabelecidas as prioridades: as primeiras a serem omitidas seriam o pagamento de pensões e salários públicos, para proteger os investidores que possuem títulos públicos americanos. Ontem, os presidentes dos 14 principais bancos americanos assinaram um apelo, convidando o Congresso e o presidente a encontrar uma solução o mais rápido possível. Os mercados também estão começando a ficar alarmados e estão monitorando a situação com muito cuidado. Mas, verdade seja dita, eles ainda não mostram sinais sérios de tensão. Indica que eles confiam em um acordo de última hora. Parece também que os saldos de caixa permitiriam ao Tesouro adiar o prazo de 2 de agosto alguns dias depois, talvez até o dia 10. De qualquer forma, o Congresso contabilizou os dias para evitar o risco de moratória que paira sobre o país.

O Artigo 1 da Seção 8 da Constituição, de fato, reserva o poder de emprestar dinheiro em nome dos Estados Unidos ao Congresso. Que autorizou separadamente cada emissão de dívida única desde a sua fundação até 1917, quando, para garantir maior agilidade no financiamento das operações militares durante a Primeira Guerra Mundial, estabeleceu um limite global para a quantidade de títulos de dívida que poderiam ser emitidos. Limite que até 2 de agosto terá que ultrapassar o patamar de 14.300 trilhões de dólares, fixado hoje e que já foi ultrapassado. Fica em segundo plano, caso o acordo no Congresso falhe, também a hipótese de ação unilateral pelo presidente Obama, com base na décima quarta emenda à Constituição americana, segundo a qual a validade da dívida pública nunca pode ser questionada.

No entanto, as polêmicas dos republicanos não dão sinais de parar. Seu plano de obstrução até prevê disputas internas sobre estratégias de recuperação de déficit. De fato, os partidários do Tea Party declararam inadequada até mesmo a proposta do líder de seu partido, John Boehner, um republicano mais moderado, que, sabendo que não tinha números para aprová-la, decidiu retirá-la. A proposta previa um aumento do teto da dívida em 900 bilhões imediatamente e 1.600 no próximo ano, além de cortes de gastos de aproximadamente 1.000 bilhões imediatamente e 1.800 no próximo ano, mas considerados insuficientes pela ala conservadora. Os democratas, por sua vez, já haviam afirmado uma possível rejeição da proposta no Senado, onde são maioria.

A antipatia dos republicanos é principalmente política, embora potencialmente capaz de causar sérios danos à economia do país. O objetivo básico é, de fato, atingir o presidente Obama de forma a garantir sua derrota nas eleições de 2012. A teimosia em afirmar a insustentabilidade do aumento do patamar da dívida e a necessidade de cortes imediatos não se explica de outra forma. considerando que a dimensão das medidas necessárias para evitar a inadimplência acarretaria sérios riscos para a recuperação da economia.

E mesmo historicamente é difícil entender por que tanta hostilidade a uma medida, a de aumentar o teto da dívida, que, embora ninguém negue que deveria ser apenas o prelúdio de uma reforma tributária estrutural, é considerada por muitos como inevitável. De facto, desde que em 1917 foi fixado pela primeira vez um limite máximo para a dívida pública americana, o aumento desta tem-se feito regularmente. Tanto que em 94 anos são: 102 discursos no total, mais de 70 desde a década de 60, cerca de dez na última década, 18 do presidente Reagan, 7 de George W. Bush, o último de Obama em 12 de fevereiro de 2010, quando o Congresso votou para aumentar o limite em quase US$ 2 trilhões, para os atuais US$ 14,3 trilhões. Por outro lado, a elevação do teto da dívida é necessária para permitir o pagamento de despesas já aprovadas pelo Congresso e pela Presidência da República e não diz respeito a programas de gastos futuros de longo prazo.

Porém, olhando bem para a evolução histórica do teto da dívida, talvez deva surgir alguma preocupação (ver foto). O teto estabelecido em 1917 era de US$ 11,5 bilhões, que ajustado pela inflação é agora de cerca de US$ 193 bilhões. Longe dos 14,3 trilhões que não são mais suficientes. É claro que a inflação não é suficiente para explicar o aumento contínuo do recurso à dívida. A dinâmica então está longe de ser linear, parecendo mais uma curva exponencial. O teto de mil bilhões foi de fato atingido há apenas 30 anos, em 1982. Mais interessante ainda é a dinâmica da relação dívida pública/PIB (ver foto). Isso nos permite comparar quanto os Estados Unidos tomam emprestado versus o que produzem, isolando o efeito da inflação. Como mostra o gráfico, a relação dívida pública/PIB aproxima-se perigosamente da marca dos 100%, nunca alcançada desde a Segunda Guerra Mundial. Se o Congresso chegar a um acordo para o aumento, um aumento de US$ 700 bilhões será suficiente para que a dívida pública supere a estimativa do PIB para o primeiro trimestre do ano.

Portanto, embora se espere que o Congresso consiga chegar a um acordo sobre o aumento do teto da dívida até 2 de agosto, as dúvidas levantadas pelos republicanos sobre sua tendência de longo prazo não devem ser subestimadas. É verdade que a sua ação é puramente estratégia política, concretizando-se como o primeiro passo para a campanha nas eleições presidenciais de 2012. E é verdade que os próprios republicanos deveriam fazer alguma autocrítica, considerando que um dos principais culpados desta situação é George W. Bush, durante cujo mandato a dívida cresceu 80%. No entanto, a América está tomando empréstimos como se estivesse em uma guerra mundial. No entanto, não é. Daqui emerge a absoluta necessidade de sanar a dependência do recurso ao endividamento, trabalhando quanto antes um sério programa de redução da futura despesa pública.

Comente