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Renda de cidadania e imposto fixo: tantas ilusões

A renda da cidadania e o imposto fixo são as grandes promessas com as quais o Cinco Estrelas e a Liga venceram as eleições, mas concretizá-las está longe de ser simples e o risco de um verdadeiro bumerangue está ao virar da esquina: é por isso

Renda de cidadania e imposto fixo: tantas ilusões

O diabo está sempre nos detalhes. O provérbio também se aplica no caso de uma possível programa de governo que mantém o M5S e a Liga juntos: uma solução em suma não só provável mas também desejável porque representa a forma mais rápida de se livrar desta estranha maioria cujos actos vão fazer com que, dentro de alguns meses, os italianos façam fila em frente às caixas automáticas para levantar os 50 euros por dia permitidos para você entende.

Digamos que neste programa existe uma maneira de combinar os dois "pontos fortes" (renda cidadã e imposto fixo) que levaram as forças populistas à vitória (pelo menos assim dizem os analistas), na opinião do escritor não será suficiente resolver apenas o problema dos enormes recursos a serem encontrados. As consequências práticas que essas medidas teriam no contexto real da sociedade e do mercado de trabalho italianos não são abordadas no debate.

Vamos começar com Renda básica. A essa altura, muitos - convertidos na estrada para Damasco - estão lutando para explicar que, na realidade, é um apoio condicional ao rendimento para a procura de emprego. No fundo, uma espécie de ornitorrinco que tem simultaneamente as características de medida puramente assistencialista e de instrumento de política activa de emprego. Tanto que a proposta da ''grillina'' prevê um reforço dos centros de emprego que, aqui, estão bastante desguarnecidos.

Levantamento da Comissão do Trabalho da Câmara, na legislatura passada, destacou os grandes limites quanto à efetiva capacidade de intermediação dos operadores devido à fragilidade do sistema de serviços de emprego, tanto do lado público quanto do privado: os serviços públicos contribuem para colocar apenas 3,1 por cento dos novos trabalhadores, contra uma média europeia de 9,4 por cento, enquanto as agências privadas colocam cerca de 0,6 por cento dos novos trabalhadores, contra uma média igual a cerca de 1,8 por cento. Os observadores, em primeiro lugar, sublinham os problemas organizacionais que caracterizam o sistema de serviços de emprego e, em geral, as políticas de emprego, constatando, em particular, o desalinhamento existente entre o sistema centralizado do INPS, que paga os subsídios, e o sistema descentralizado de centros de emprego, responsáveis ​​pela execução de políticas activas. Sem contar que a falta de reforma constitucional deixou as Regiões com poderes exclusivos em matéria de políticas ativas, anulando em grande medida o plano fundador da ANPAL.

Qual é o problema então? Uma operação tão substancial é gerenciável em um nível econômico (os subsídios são muito elevados e aumentam em relação ao núcleo familiar) caracterizada por uma condicionalidade muito frouxa (uma vez que os sujeitos protegidos conseguem escapar às ofertas de emprego) e por um aparato administrativo inadequado para implementar essa mesma condicionalidade, ainda por cima num país onde se estima que existam 3,5 milhões de trabalhadores não declarados? Tome-se como referência a experiência do Programa Garantia Jovem cofinanciado durante três anos a nível europeu e nacional: a 30 de setembro de 2017 registaram-se 1.239.833 inscrições, líquidas de todas as anulações oficiais. Face aos registos, os aceites pelos serviços competentes ascenderam a 81,1%. 55% dos encarregados referiam-se a jovens dos 19 aos 24 anos, 34,7% representavam mais de 25 anos e os restantes 10,3% a jovens até aos 18 anos. No que diz respeito à implementação do programa, 52,4% dos jovens atendidos pelos serviços foram iniciados em uma política ativa de intervenção. Foram ofertados 573.076, dos quais 61,5% são representados por estágios extracurriculares. Seguem-se os incentivos ao emprego com 21,2%. A formação é o terceiro caminho mais comum (12,6%). Referindo-se apenas às intervenções geridas a nível nacional, foram enviados para a Função Pública Nacional 7.974 voluntários, maioritariamente afectos a projectos na área da Assistência (45,7%) e Educação e promoção cultural (35%).

In ''Empreendedores em Crescimento'', subprograma específico, 1.986 jovens iniciaram o curso de formação voltado para o empreendedorismo. O fundo Empregado por conta própria admitiu o financiamento de 530 candidaturas à criação de empresas, comprometendo 17,2% do total do fundo rotativo. Comparativamente aos incentivos ao emprego, registaram-se 63.858 contratações incentivadas com o bónus profissional, as com o super bónus 10.945 (a diferença entre as duas formas de subsídio reside no grau de desvantagem apresentado pelo jovem).

Para o Incentivo ''emprego jovem'' foram 46.763 pedidos confirmados de emprego. 48,6% dos que concluíram uma intervenção estão empregados e 68,3% ainda tinham experiência profissional no final da própria intervenção.

Estes dados – referindo-se em todo o caso, na opinião do autor, a uma experiência não negativa – evidenciam as dificuldades que encontrariam em gerir milhões de pessoas, garantindo-lhes um rendimento respeitável durante a formação, integração ou recolocação no trabalho que teriam fica no dossiê de boas intenções.

Além disso, o projeto M5S prevê uma possível integração – até o nível estabelecido para a renda básica – de salários mais baixos. Isso poderia gerar manobras fraudulentas entre empregadores e trabalhadores, colocando parte do salário em detrimento da comunidade. Os defensores da medida observam que as práticas ilegais são punidas com severidade. Mas mesmo esse aspecto está incluído na dificuldade prática de administrar a operação. Não se pode esquecer que, durante o ano de 2017, os serviços de inspeção reportaram 240 situações de trabalho irregular, das quais 48 totalmente não declaradas.

Chegando a imposto fixo algumas observações precisam ser feitas, mesmo independentemente da questão da progressividade da tributação, conforme reafirmado na Constituição. Nesse sentido – além da óbvia insustentabilidade da proposta da Liga – têm sido apresentados projetos mais sérios (estou pensando no Instituto Bruno Leoni) que conferem ao tributo uma função de racionalização do sistema tributário. Para tal, não só se verificam reduções nas formas de abatimentos fiscais previstas na lei (para 54 mil milhões, dos quais 40 mil milhões a favor das pessoas singulares), como também aumentos significativos do IVA (para 25%), sem prejuízo às taxas reduzidas.

Em essência, a introdução do imposto fixo não seria um jantar de gala onde todos estão comemorando, mas uma redistribuição da carga tributária da renda para o consumo, com o acréscimo um alargamento da base tributável. Depois, há outra consideração a ser feita: 60% da receita do Irpef é paga pelos contribuintes cujos rendimentos são tributados à alíquota de 38% ou mais. Como é que a gente coloca se essa alíquota fosse reduzida, mesmo que só para 25%? Convém, então, agir com cautela e gradativamente para não provocar desequilíbrios que possam abalar os orçamentos públicos.

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