Talvez seja mesmo verdade que nos piores momentos a Itália pode dar o seu melhor. Só numa hora dramática como a que vivemos é que pode surgir a ideia de um governo presidencial e o sonho de confiar a liderança da Itália a uma personalidade de grande prestígio e igualmente competente como Mario Draghi, um homem que nos faz sentir orgulho de ser italiano em todo o mundo.
O que for preciso, faça o possível: com apenas três palavras Mario Draghi já está na história por ter salvou o euro e a Europa num dos momentos mais difíceis dos nossos tempos. Agora ele é chamado a repetir o milagre para salvar e reconstruir a Itália, assediada pela pandemia, pela recessão, pela crise social e por uma crise política que até ontem parecia inextricável.
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A sua designação à frente da Itália é fruto de tudo isto, mas sobretudo fruto de determinação e clarividência de um Presidente da República como Sergio Mattarella, que mais uma vez colocou os interesses da Itália em primeiro lugar e apenas esses, anunciando o fim dos inapresentáveis jogos palacianos da maioria das forças políticas. E é também fruto - isso deve ser reconhecido sem espírito partidário - da coragem e tenacidade do líder do Italia Viva, Matteo Renzi, cujas movimentações inquietantes não foram o resultado de um capricho pessoal, mas o resultado de um desígnio lúcido visando interromper a combinação perversa de populismo e imobilismo e abrir um novo cenário político para relançar o país e colocá-lo de volta em plena harmonia com a Europa.
Mario Draghi não tem varinha mágica, mas é o homem certo na hora certa. Ele tem a experiência, a competência, o prestígio, a autoridade, a habilidade fazer e fazer rapidamente tudo o que é necessário para salvar, reconstruir, reformar e relançar o nosso país, reconectando-o plenamente à Europa, o que nos oferece uma oportunidade histórica com a Next Generation EU, mas que finalmente espera outra Itália.
O ex-governador do Banco da Itália e ex-presidente do BCE está à sua frente três desafios sacudir os pulsos:
- dominar a emergência da pandemia;
- face a recessão econômica;
- gerir a crise social.
Mas ele é o homem das missões impossíveis e não se assustará com as dificuldades. Ele certamente os enfrentará com determinação e inteligência, combinando profissionalismo com paixão civil. Engana-se quem pensa que Draghi é um tecnocrata gelado. Pelo contrário, é um funcionário público que tem alma e uma capacidade política inquestionável no nobre sentido da palavra. E acima de tudo tem longo olhar para o futuro e para as novas gerações que, como ele escreveu há alguns meses no Financial Times, precisam de estudo e trabalho e não de gorjetas e subsídios. Para atingir esses objetivos você também pode fazer nova dívida pública mas, como você já teve a oportunidade de explicar, deve ser dívida “boa”, não se destina a gastos correntes improdutivos, mas a investimentos e reformas.
Depois de anos de loucura política, com Mario Draghi a Itália finalmente tem a oportunidade de dar a volta por cima e recomeçar, iniciando uma nova temporada de reformas e devolvendo a todos nós o orgulho de sermos italianos e europeus. E chega a ser constrangedor lembrar que na excepcionalidade da hora não há mais espaço para os indizíveis jogos de poder que até então dominaram a cena política. O que for preciso. Vamos Super Mário.
O enigma Draghi, quem realmente é o homem que salvou o euro