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Manobra econômica, que erro adiar os cortes reais de gastos para depois das eleições

por Franco Locatelli – O adiamento para 2013 e 2014 da maior parte (40 bilhões) da manobra se deve apenas a motivos políticos e eleitorais, mas assim jogam com fogo e expõem a Itália ao risco de novas ondas especulativas. A sábia lembrança do Chefe de Estado reforça a linha de rigor do ministro Tremonti

Manobra econômica, que erro adiar os cortes reais de gastos para depois das eleições

É muito bom ler no Financial Times desta manhã uma entrevista com nosso ministro da Economia, Giulio Tremonti, que diz: “É o fim da era do déficit. O gasto deficitário está arquivado”. Já era tempo de se ouvirem palavras como estas, que certamente merecem o aplauso de toda a Itália que trabalha e produz. Ao contrário do que muitas vezes parecem acreditar as agências de rating – mas não é hora de silenciá-las em tempos de crise? – e que, com eles, alimenta a especulação financeira contra o nosso país, é verdade que a Itália não é a Grécia e é verdade que não estamos às vésperas de uma repetição de 1992 quando estávamos à beira da falência. No entanto, o contínuo alargamento do spread entre os rendimentos dos títulos alemães e os dos nossos títulos do governo não é um evento para ser menosprezado. E esta é a chave para ler a manobra orçamental que o Conselho de Ministros vai lançar hoje juntamente com a lei habilitante para a reforma fiscal. É certo não prometer redução de impostos se a reforma não for gratuita e igualmente certo não prometer investimentos - muitas vezes indispensáveis, mas muitas vezes apenas supérfluos - se sua cobertura financeira não for garantida. Cortes de gastos direcionados são melhores do que cortes lineares, desde que sejam cortes reais e não apenas promessas vagas ou carícias lânguidas.
Haverá tempo para avaliar as medidas individuais da manobra e a sua estrutura global, até porque, como sempre acontece nestes casos, a situação é fluida e o que agora parece certo já não o será daqui a uma hora. Muitas medidas, como sabemos, são anunciadas para testar as reações da população e do eleitorado, mas parecem não se concretizar. No entanto, há um ponto crucial que já está claro: o desequilíbrio absoluto entre o montante das intervenções previstas para este ano (1,8 mil milhões de euros) e para 2012 (5 mil milhões) e as – muito mais massivas (40 mil milhões) – previstas para 2013 e 2014, ou seja, para depois das eleições. Compreendemos os anseios de um premiê que está em queda livre no consenso eleitoral e que vê o rigor de Tremonti como cortinas de fumaça, mas em italiano o adiamento do ajuste das contas é chamado de apenas uma forma: inteligente. Exatamente o que a Itália não precisa, como sabiamente apontou de Oxford o Presidente da República, Giorgio Napolitano, quando lembrou que "não há dúvida de que quem toma decisões hoje assume também responsabilidades para amanhã". Bem dito, Presidente.

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