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Lição anti-spread da UE e do BCE: Itália, lembre-se não apenas da competitividade, mas também da recuperação

O REF Ricerche Circle, dirigido pelo economista Giacomo Vaciago, analisou as conclusões do Conselho Europeu e a apresentação do último Boletim do BCE feita por Draghi - O resultado é um convite à Itália para colocar o crescimento e a competitividade no centro da política económica mas sem esquecer a recuperação: o futuro do spread passa por aqui

Lição anti-spread da UE e do BCE: Itália, lembre-se não apenas da competitividade, mas também da recuperação

Enquanto a Itália está discutindo se e qual governo terá, a cúpula europeia de 14 a 15 de março serviu para esclarecer qual programa econômico desejável nosso governo deveria ter. Para além da tagarelice e das gafes incríveis do caso Chipre (cuja população representa menos de 0,26% da população do euro) é bom notar a consonância que se viu em Bruxelas entre a posição alemã e a do BCE - manifestada tanto por o Boletim de março do BCE, publicado não surpreendentemente em 14 de março, e da Apresentação de Draghi. As conclusões do Conselho Europeu confirmaram tudo isto e podem ser resumidas da seguinte forma:

Enquanto a consolidação dos orçamentos públicos continua, a prioridade muda para o que é necessário para a competitividade, o crescimento e o aumento do emprego, especialmente para os jovens. A consolidação deve favorecer o crescimento tanto do lado da receita quanto do lado da despesa dos orçamentos públicos. Cumprindo as regras do Pacto de Estabilidade, é possível conciliar disciplina fiscal ex ante e investimentos públicos produtivos.
 
É menos do que o Presidente Monti tinha ido pedir em Bruxelas (uma revisão explícita dos pactos europeus, para excluir dos constrangimentos os investimentos públicos "úteis"), mas é mais do que alguns temiam, nos dias que antecederam o Conselho Europeu. Vale ressaltar que esta posição de Bruxelas - conciliar uma orientação estratégica para a consolidação das finanças públicas com a flexibilidade necessária exigida pelas dificuldades persistentes da recuperação econômica - é exatamente o que o BCE e Draghi têm indicado.
 
O Boletim do BCE contém uma caixa dedicada aos “Efeitos no crescimento de uma dívida pública elevada” que sintetiza os resultados de inúmeras pesquisas científicas, tanto gerais como para a Zona Euro. Vale ressaltar que se confirma a validade do valor máximo de referência para a dívida pública, fixado em Maastricht em 60% do PIB. Valores mais altos são acompanhados de efeitos negativos no crescimento. Daí a conclusão: “No atual contexto económico, é de fundamental importância a adoção de estratégias ambiciosas de redução da dívida. Se, pelo contrário, os governos decidirem adiar os trabalhos de consolidação, as perspetivas de crescimento serão prejudicadas e a sustentabilidade das finanças públicas será onerada por um fardo adicional”.

Do research à política, o Editorial do Boletim do BCE conclui: “A postura acomodatícia da política monetária continuará a apoiar a recuperação na zona euro, no entanto é fundamental que as políticas orçamentais e estruturais reforcem as perspetivas de crescimento a médio prazo. A consolidação fiscal deve ser parte integrante de uma agenda abrangente de reformas estruturais destinada a melhorar as perspectivas de criação de empregos, crescimento econômico e sustentabilidade da dívida.”
“O Conselho do BCE acredita que é particularmente importante nesta fase abordar o atual alto desemprego juvenil e de longa duração. Para tal, são necessárias novas reformas dos mercados de trabalho e de bens e serviços para criar novas oportunidades de emprego, promovendo um ambiente económico dinâmico, flexível e competitivo.”
 
Isso é exatamente o que o presidente Draghi explicou em sua apresentação intitulada: "A situação econômica da área do euro e as bases para o crescimento". Pontos a destacar: o aumento médio do desemprego de janeiro de 2007 a janeiro de 2013 é de 8 para 12% da força de trabalho; com aumentos muito maiores nos países da "periferia europeia"; e com um declínio significativo na Alemanha.
O crescimento da zona Euro é explicado (como é habitualmente o caso na teoria do crescimento) por: crescimento da procura global (resto do mundo) uma política monetária que o suporta, respeitando a estabilidade monetária (e isto serve de lembrete para o primeiro dever do BCE) a recuperação de: confiança, crédito e competitividade. 

É neste último aspecto (competitividade) que Draghi mais insiste, e do qual a Itália (juntamente com os outros países da Zona Euro que crescem menos há anos) sai com um mau boletim. Daí a conclusão de Draghi sobre a Itália e nosso próximo governo: precisamos de reformas estruturais que façam o mercado de bens e o mercado de trabalho funcionar melhor, de forma compatível com a participação em uma união monetária; precisamos de reformas e políticas que garantam a competitividade (produtividade, salários, lucros); a confiança e o crédito já melhoraram, mas especialmente as pequenas e médias empresas têm problemas com o custo e a disponibilidade de crédito.

Que esperança há de que alguém em Roma leve em conta este diagnóstico e estas propostas? Isso depende da probabilidade de que nos próximos meses nosso spread suba para 400 ou diminua para 200. 

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