comparatilhe

O economista "orwelliano" e o politicamente correto do Google

Existe um vocabulário de estilo? Pergunta o jornal britânico, orgulhoso de seu estilo inspirado nas 6 regras de Orwell. Enquanto isso, Google lança app para corrigir textos que usam linguagem machista e racista

O economista "orwelliano" e o politicamente correto do Google

O ECONOMISTA: 1º MANDAMENTO, VOCÊ NÃO TERÁ OUTRO ESTILO QUE NÃO O MEU

Para o Economist tudo é uma questão de estilo. O periódico de Londres, agora com vista para o Tamisa al Aterro Vitória, também é um think tank impressionante. Um think-tank obcecado por estilo. Seu conteúdo deve ser reconhecido imediatamente, como se fosse transmitido por um alto-falante, como a proclamação do líder.

Falando em alto-falantes e líder, se você tiver uma hora e meia, aproveite o ótimo ensaio sobre o estilo de atuação do casal Loren-Mastroianni no filme de Ettore Scola Um dia especial (transmitido em Pimenta, € 2,99). Se você realmente não tem tempo, ou se já viu, como é provável, assista pelo menos a cena da rumba (um minuto e meio) no YouTube. Cinema (desculpe, cinema, diria Robert Bresson) no nono céu. Não há nem a palavra para dizê-lo.

QUEM É?

Os artigos da Economist não são assinados e nem sabemos quem é o editor da revista. Nunca nos deixemos apegar ao estilo de alguém…! Ficamos sabendo o nome de um jornalista ou editor apenas pelo artigo que anuncia sua "saída" do jornal.

Se esta “carbonaria” o incomoda, pode aliviar o seu ânimo no local que contém as fichas sucintas dos membros da redação. Eu sou um pequeno exército. E, de qualquer forma, você nunca entenderá quem escreveu uma determinada peça.

No entanto, não há absolutamente nenhuma carbonaria na Economist, e o conflito de interesses é um sacrilégio para a revista. Os próprios Agnelli, que detêm 43,4% das ações, têm apenas 20% dos direitos de voto. E quando os jornalistas falam da família ou do Exor, são obrigados a informar o leitor sobre a posição que a família italiana ocupa na propriedade do jornal.

Se você tem 8 minutos, talvez não agora, leia você mesmo o que o Economist escreve sobre si mesmo (traduzimos para o italiano para você).

ESTILO É CONTEÚDO

Todo verão, a equipe editorial do Economist oferece alguns estágios curtos para jovens aspirantes a jornalistas. Os candidatos devem enviar, entre outras coisas, um artigo de 600 palavras, que também é a extensão média dos artigos da revista.

O tema está à vontade, mas para o estilo há disposições precisas. Percorrendo-os (mas vou de cor) fiquei com a ideia de que, uma vez cumprido o salário mínimo, saber ser espirituoso e nunca pomposo conta muito (atenção!, seguidores de Cícero).

O fundador Walter Bagehot (pronuncia-se Bajut) chamou essa abordagem de "coloquialismos expressivos". Tem que usar muito Sidol para polir a peça para mandar para a Economist. Tem que fluir como uma bola de boliche lançada por Jeffrey “Drugo” Lebowski.

OLHE PARA VOCÊ

Eu não estou exagerando. Verifique você mesmo. Está online. Em 8 de julho, Lane Greene, colunista de idiomas, e Anton LaGuardia, editor digital, realizou um webinar sobre o tema “Linguagem e princípios de estilo no The Economist”. Uma hora e meia de lavagem cerebral.

Liderando o estilo da equipe do Economist estão os famosos seis regras elementares da escrita de George Orwell. Se você quebrar qualquer um deles, Rod Orwell, “você escreverá algo absolutamente vil”. Não somente! você perderá toda a esperança de se tornar estagiário na Economist. Para aqueles que querem aprender mais, há também isso para assistir.

Quase duas vezes por semana, em uma coluna específica chamada "Johnson" - em homenagem a Samuel Johnson, o único compilador do Dicionário da Língua Inglesa de 1756, alguém do corpo editorial da revista discute, do ponto de vista do A filosofia da linguagem de Economist, um tema linguístico ou lexical (da língua inglesa, é claro).

PRECISAMOS DE UM VOCABULÁRIO DE ESTILO

Estilo é um assunto muito sério para quem publica algo. Não há nada mais desagradável e pesado do que ofender ou desrespeitar uma pessoa só porque, simplesmente, usamos uma linguagem descuidada ou uma atitude precipitada.

Precisamos mesmo de um corretor de estilo automático, capaz de extrair o tom certo de um vocabulário especial, talvez compilado pelos acadêmicos da Crusca.

Não quero entrar aqui na questão do politicamente correto (que encontra sua primeira manifestação na linguagem) porque nos levaria longe demais.

Quero dizer que a linguagem do politicamente correto (assim como aquela, especularmente, análoga, do politicamente incorreto) deve ter sempre um estilo que mantenha alto o nível do discurso público e privado. Cada idioma tem seu próprio vocabulário, sintaxe e registro linguístico para fazê-lo.

Na linguagem e nas palavras existem infinitas possibilidades como nos mostra Raymond Queneau por sua vez e como Umberto Eco nos dá prova definitiva com sua tradução magistral para o italiano do Exercícios de estilo por Queneau. 99 variações linguísticas da mesma história. Um número que o Economist teria gostado.

T'e entendido?, nem todos, no entanto, têm as habilidades ou registros linguísticos de Queneau, Eco ou Bartezzaghi; em todo caso, por que se contentar com uma segunda escolha com o risco de erros?

GOOGLE NOS AJUDE

Quem pode nos ajudar? Quem, hein? Mas o Google, é claro!

Pense no que o Google tem feito com o "Tradutor" ou com as correções quase sempre adequadas de palavras digitadas de forma aproximada (principalmente se isso ocorrer em um idioma não nativo) em sua barra de pesquisa. “Talvez você estivesse procurando…”. Obrigado Google! Aí, talvez, ela te siga como uma sombra: mas, paciência, tudo bem.

Temos assistentes de redação que funcionam muito bem agora: eles verificam a ortografia, a gramática, sugerem sinônimos e completam tocos de palavras.

Agora o Google quer escalar mais um pico. No último dia 18 de maio, Sundar Pichai, na "Conferência de desenvolvedores Google I/O", anunciou uma ferramenta On-line implementar, em sua suíte de aplicativos “Google docs”, o uso de uma linguagem inclusiva, despojada de preconceitos sexistas ou raciais.

Está disponível em inglês e em outros idiomas também. Não entendi se também existe em italiano, mas certamente chegará, a menos que o Google (já aconteceu muitas outras vezes), deixe o projeto em um beco sem saída para pegar outro trem.

ALEGRIA OU TÉDIO?

Em todas as línguas, além dos pronomes possessivos, existem expressões que são usadas apenas para um gênero, mas não para o outro. Às vezes são neutros, outras vezes são epítetos e pode acontecer que, no momento, uma alternativa não venha à mente simplesmente porque não existe uma em nossa bagagem lexical.

O gênero masculino nem sempre inclui o gênero feminino, como se pensava na época dos Flinstones. Com um pouco de esforço, certamente poderíamos fazer algo melhor. Agora, para nos lembrar – com estilo – existe o Dicionário de idiomas inclusivo do Google.

Graças a este dicionário On-line, tudo vai brilhar mais forte e seremos lidos com mais alegria, mesmo que no início alguém pense, talvez com fundamento: "Uh, que chato!".

O anúncio do Google, de fato, irritou imediatamente o Daily Mail: "Google Docs vai acordar", escreveu o jornal londrino, mas o Google recebeu os aplausos cautelosos de Johnson.

Johnson está certo, no entanto, ao se perguntar se deveria ser uma empresa de tecnologia que nos fornece um vocabulário de linguagem inclusiva. Não é de admirar? Agora eles fazem tudo!

No Economist, eles certamente não precisam do Google Docs para evitar erros sexistas. A linguagem inclusiva é como uma comida nova e um tanto exótica: você tem que pensar, mas no final você inclui na sua alimentação. Eu deixo-te com isto desempenho linguístico absolutamente inapropriado.

Comente