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Indústria, Unicredit-Prometeia: cadeias de suprimentos em risco

Relatório da Indústria e da Cadeia de Suprimentos da Unicredit-Prometeia apresentado ontem – O faturamento das cadeias de suprimentos industriais em 2013 deve cair mais 1% a preços atuais – Levará 15 anos para se recuperar do início da crise – Uma nova onda tecnológica está sobre nós – A mecânica continua a mostrar a melhor colocação.

Indústria, Unicredit-Prometeia: cadeias de suprimentos em risco

Em comparação com os níveis pré-crise, a lacuna a ser recuperada para a indústria corresponde a pelo menos 70 bilhões de faturamento, 40 negócios ativos e 1,3 milhão a menos de funcionários, um sinal de como o sistema italiano está lutando para voltar à capacidade total. São estes os números que emergem do Relatório da Indústria e da Cadeia de Abastecimento da Unicredit e da Prometeia, apresentado ontem numa reunião à porta fechada em Roma e do qual damos conta das principais passagens.

Como Aquiles perseguindo a tartaruga, a indústria italiana continua vivendo seu paradoxo; o de assistir a uma recuperação cada vez mais distante ao longo do tempo, apesar das inúmeras fortalezas destacadas ao longo dos últimos anos, sobretudo ao nível do posicionamento internacional. Depois de dois anos de recuperação e apesar de ter ultrapassado a França, a Alemanha e o Reino Unido no crescimento das exportações, 2012 voltou a fechar com uma quebra do volume de negócios global a preços correntes, fazendo recuar o fosso entre as cadeias industriais analisadas no relatório para mais de 5 pontos em relação aos níveis pré-crise.

Entre as fases, o grupo de processamento intermediário é o que ainda sofre com a maior distância, com mais de 10 pontos percentuais, enquanto o gap entre o processamento inicial e o abastecimento é mais contido, este último sustentado pela dinâmica dos preços das matérias-primas na média dos últimos cinco anos. O excesso de capacidade produtiva acumulada, se prolongado no tempo, corre o risco de diminuir também o potencial de desenvolvimento, pois, a longo prazo, priva o país dos recursos e competências necessários ao crescimento.

A RECUPERAÇÃO TOTAL PASSA PELA DEMANDA INTERNA

Nas cadeias de abastecimento da indústria italiana analisadas neste relatório, a quota de volume de negócios atribuível às vendas no mercado interno é em média 73% com um pico superior a 80% na cadeia de abastecimento alimentar, produtos de construção e valores em torno de 50 % nas de eletromecânica e moda de forma a sugerir que a plena recuperação dos níveis de atividade passa necessariamente por uma normalização da demanda doméstica.

As novas cadeias de abastecimento globais abraçam novas tecnologias: a escala perde importância e os produtores italianos parecem bem posicionados para obter uma vantagem competitiva consistente. Das primeiras constatações objetivas dos primeiros meses de 2013, bem como dos índices de confiança das famílias e empresários, depreende-se que, também para o corrente ano, o círculo vicioso entre a ausência de mercado, a perda de capacidade produtiva e uma clima de desconfiança generalizada está destinado a continuar. O volume de negócios das cadeias industriais no final do ano diminuirá mais um ponto percentual a preços correntes. É um nível que, excluindo o efeito preço, alonga ainda mais os tempos de recuperação, que já se podem estimar em mais de 15 anos desde o início da crise, horizonte que, dada a amplitude dos intervalos envolvidos, já emerge mais das estatísticas projeções do que de previsões pontuais reais e próprias.

O que poderá ser o cenário industrial 15 anos após a grande crise ainda está por definir e, em última instância, dependerá das escolhas ou renúncias que as empresas individuais e o sistema do país poderão fazer. O desequilíbrio 2013-'15 entre as fases da cadeia de abastecimento entre a procura interna e externa ajudará, por exemplo, a redefinir muitas cadeias de valor ao deslocar centros de produção, consumo e processamento intermédio, mas também ao modificar a estrutura industrial, o grau de concentração de as cadeias de abastecimento e o seu papel na divisão internacional do trabalho. Uma nova vaga tecnológica está agora sobre nós e sobretudo ao alcance das pequenas empresas como as italianas, que poderão tirar partido desta mudança de paradigma nos modelos de produção.

A DISTRIBUIÇÃO COMO IMPULSO PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

Uma internacionalização feita por PMEs desconta a necessidade de apoio na frente do canal de distribuição e logística. O baixo grau de internacionalização das marcas nacionais de grande distribuição, bem como o reduzido recurso das próprias empresas a investimentos estrangeiros diretos destinados a fortalecer a presença comercial, muitas vezes deixam os produtos italianos à mercê dos distribuidores locais; às vezes pouco confiáveis, muitas vezes com maior poder de negociação, geralmente com mais referências e em qualquer caso com pouco compromisso com o produto. Deste ponto de vista, as empresas italianas pagam uma diferença em relação aos seus concorrentes europeus onde existem grandes cadeias de distribuição já altamente internacionalizadas e bem posicionadas também nos novos mercados. O volume de negócios realizado no exterior pelas empresas de distribuição atinge apenas 3% na Itália (ainda mais tudo confinado aos países europeus), enquanto na Alemanha ultrapassa os 15% e se aproxima dos 10% na França.

EM 2013 PIORA A COMPETITIVIDADE DE TODAS AS CADEIAS DE FORNECIMENTO
A MODA IMPOVERIZA, O AUTOMOTIVO MANTÉM

A competitividade será um fator chave na interceptação da demanda externa, pois as empresas se encontrarão em mercados certamente mais dinâmicos, mas, portanto, também mais concorridos. Da análise da competitividade por fase e cadeia de abastecimento, verifica-se que a mecânica continua a apresentar o melhor posicionamento entre as cadeias de abastecimento. De maneira geral, frente ao mesmo índice apurado no final de 2012, observa-se no setor uma substancial estabilidade no ranking das cadeias produtivas, ainda que o quadro de sustentabilidade financeira pareça pior devido ao excesso de capacidade produtiva e tensões nos prazos de pagamento entre sujeitos mais fracos e atores fortes ao longo das cadeias de abastecimento.

Entre as fases, melhores resultados em termos de competitividade sustentável e perspectivas de crescimento parecem recompensar os produtores finais. Em particular, surgem algumas cadeias de abastecimento típicas do Made in Italy, como alimentação e moda, fortalecidas por uma presença qualificada no exterior baseada em marcas patenteadas e uma crescente participação de mercado em alguns dos mercados mais estratégicos, como o chinês. No entanto, surge na moda um progressivo empobrecimento das etapas mais a montante, onde uma vez eliminada a produção de materiais intermédios de gama mais elevada, as atividades que antecedem os bens finais são fortemente penalizadas por problemas de produtividade e sustentabilidade financeira que no final a análise também poderia infectar os estágios mais virtuosos da cadeia de suprimentos.

É um equilíbrio que pode ser estendido a outras produções típicas do Made in Italy, como alimentos e móveis, onde em um caso os problemas do mundo agrícola, no outro, a perda do patrimônio artesanal relacionado correm o risco de repercutir na competitividade de todo cadeia de mantimentos. O caso de eletrodomésticos e do setor automotivo é diferente, onde as chamadas indústrias correlatas conseguiram diversificar seus clientes ao longo dos anos e hoje, apesar dos resultados fracos dos produtores finais, as empresas intermediárias de processamento apresentam bons índices de competitividade.

A DISPERSÃO DE RESULTADOS ESTÁ AMPLIANDO

A importância da escolha da direção ótima surge do grau de dispersão dos resultados dentro das cadeias de suprimentos. Ao comparar a competitividade média da cadeia de suprimentos com os 20% das melhores empresas, verifica-se que a automotiva e a de eletrodomésticos são as cadeias de suprimentos onde os diferenciais são maiores. De forma mais geral, uma comparação detalhada do índice mostra como resultados altamente diferenciados são possíveis, mesmo dentro da mesma cadeia de suprimentos e na mesma fase. É um indicador tanto mais elevado quanto mais complexo for o cenário que as empresas enfrentam porque, em última análise, expressa o prémio reconhecido a quem faz as escolhas mais corajosas. O desenvolvimento da dimensão internacional é um deles: uma necessidade que vai preocupar, por um lado, os novos exportadores genuínos, mas, por outro, vai pedir a muitas cadeias de suprimentos que fortaleçam o trabalho em equipe para permitir que mesmo os sujeitos mais acima na cadeia de valor se beneficiem do crescimento estrangeiro .

É NECESSÁRIA UMA VISÃO EUROPEIA DAS CADEIAS DE FORNECIMENTO

Um significado europeu da cadeia de abastecimento é provavelmente o tamanho certo para imaginar uma comparação em escala internacional. De facto, perante players que se deslocam e investem à escala regional, pense-se por exemplo na penetração chinesa em
África ou aos investimentos americanos no próprio mercado chinês, o tamanho ideal das cadeias de abastecimento dificilmente pode ser limitado às fronteiras nacionais. Se a Europa tem pouco a oferecer em termos de oportunidades ligadas ao crescimento do mercado doméstico, melhor, mas não muito diferente do que foi descrito para o doméstico italiano, o estímulo da Europa às cadeias de abastecimento poderia então dar-se indiretamente, por exemplo por preenchendo as lacunas relacionadas ao tamanho e à oferta de serviços que muitas vezes limitam o potencial do Made in Italy no mundo.

A diversidade de modelos de especialização entre países, se valorizada no quadro das cadeias produtivas europeias, pode gerar um efeito multiplicador no cenário; captar e potenciar, por exemplo, as sinergias entre os grandes produtores de bens intermédios do Norte da Europa e os pequenos montadores mecânicos do Sul, entre a qualidade do tradicional agro-alimentar mediterrânico e precisamente o veículo potencial da grande distribuição francesa ou Operadores logísticos alemães.

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