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A frente interna do Monti

Após os encontros com Barroso, Van Rompuy, Sarkozy e Merkel, o primeiro-ministro terá que lidar com sua maioria composta, a começar pelos subsecretários. Estes serão técnicos, mas não totalmente estranhos às partes. Em segundo plano estão os problemas da reforma eleitoral: em meados de janeiro o Tribunal Constitucional decidirá sobre o referendo.

A frente interna do Monti

Os primeiros compromissos do primeiro-ministro Mario Monti diziam respeito ao que poderíamos chamar de frente externa: a Europa, os primeiros encontros com Barroso e Van Rompuy em Bruxelas, e os encontros de hoje em Estrasburgo com Merkel e Sarkozy. Apesar das tempestades que continuam a atravessar os mercados, Monti só conseguiu encontrar a esperançosa expectativa dos seus interlocutores. Afinal, se a Itália precisa da Europa, a Europa também precisa da Itália. Naturalmente, também devido aos muitos compromissos internacionais, pôde-se constatar a forte coesão entre o Palazzo Chigi e o Quirinale, confirmada pela visita ontem de Monti ao presidente Napolitano.

A partir de amanhã, porém, a frente interna voltará à tona: as relações com os partidos de maioria composta e, portanto (por definição) longe de coesas entre si. No entanto, Monti sabe que sem o apoio da política seu governo estaria destinado a ir longe. Não é por acaso que nos últimos dias, graças aos devidos contatos com o Presidente da República, mas também com os presidentes da Câmara e do Senado, Monti tentou encontrar uma rede de proteção para seu governo e o apoio das instituições. Porque sabe bem que as medidas que o governo terá de tomar (aquelas que não contenham lágrimas e sangue, mas sacrifícios significativos) terão de ser prontamente aprovadas pelo Parlamento. É por isso que Fini e Schifani tiveram o cuidado de garantir as vias preferenciais adequadas para as medidas governamentais. Mas se a frente institucional parece suficientemente garantida para Monti, o mesmo não pode ser dito para a frente mais puramente política, ou melhor, partidária.

Pensemos, por exemplo, na escolha dos subsecretários que deve ser definida neste final de semana. É verdade, mais uma vez a escolha será feita entre expoentes “técnicos”. Mas não é de forma alguma certo que os partidos (em particular o PDL no que diz respeito a alguns departamentos como a Justiça) não queiram se manifestar. E escolher os chamados técnicos da área pode ser ainda mais difícil do que escolher políticos puros. Veremos se os contatos bilaterais de Monti e Catricalà com os secretários do partido serão suficientes. Prever encontros colegiados entre forças políticas que continuam a opor o passado umas às outras pode, de fato, tornar-se uma escolha arriscada. As dificuldades podem naturalmente surgir, também no plano partidário, também no que diz respeito à definição das medidas a tomar para fazer face à crise e apoiar o crescimento.

De fato, não há dúvida de que bens de capital (ainda que contidos) e novos impostos podem dar origem ao centro-direita, assim como medidas sobre flexibilidade de saída e sistema previdenciário podem encontrar forte resistência do centro-esquerda. E o embate dentro do Partido Democrata entre o liberal Bianco e o gestor econômico Fassina certamente não é um bom sinal. O que é certo é que Monti vai ter de mediar e não pouco, afinal o novo primeiro-ministro já deu mostras de que sabe fazer nesta matéria. Mas as maiores dificuldades para o governo Monti podem chegar em meados de janeiro, quando o Tribunal Constitucional decidirá sobre a admissibilidade do referendo sobre a lei eleitoral.

Qualquer que seja o julgamento da Consulta, o problema de deixar Porcellum para trás voltará à tona. E alguém (caso a sentença seja admissível) poderia voltar a pedir eleições antecipadas para evitar o referendo. Como já aconteceu outras vezes na história política da nossa República. Não seria errado se, sem prejuízo do compromisso comum de apoio ao Executivo, os partidos (especialmente Pdl e Pd) tentassem encontrar uma solução comum que devolvesse aos eleitores o direito de escolher os seus parlamentares. As aberturas a esse respeito do vice-presidente dos senadores do PDL, Quagliariello, são um bom presságio. Se esse confronto começasse, o governo também sairia ganhando.

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