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O boom do petróleo desperta os mercados, mas as sombras permanecem

Após o anúncio do acordo da OPEP, os preços do petróleo bruto subiram 10% e abalaram as bolsas, ainda que persistam os receios de subida das taxas e do referendo italiano – novembro de ouro para Wall Street, Europa em cinzento, mês negro para os bancos italianos, FCA título principal - Trump promete cortar impostos para 15%

O boom do petróleo desperta os mercados, mas as sombras permanecem

O boom do petróleo (+10% após o acordo da OPEP) deu fôlego às listas, impulsionadas por energia e finanças, estimuladas pela perspectiva de alta de juros. Mas, no final da sessão, Wall Street estava preocupada com as consequências da alta de juros sobre serviços públicos, telecomunicações e, em geral, sobre os setores mais dependentes de dívidas. A zona do euro vive outros problemas: a recuperação do petróleo bruto e a confiança no guarda-chuva de Mario Draghi afastaram por enquanto a sombra do referendo, pronto para ressurgir esta manhã.

A sensação é de que as Bolsas estão prestes a viver um revezamento "época" (termo abusado para falar a verdade). O acordo entre produtores de petróleo bruto demonstra uma vontade de sair da temporada de petróleo de baixo custo, um prenúncio de taxas baixas. Ao contrário dos EUA de outrora, autossuficientes em energia, parecem orientados para explorar a tendência de reflacionar a economia. A Europa, aleijada por suas múltiplas contradições (a partir da crise bancária italiana) parece, ao contrário, condenada ao baixo custo do dinheiro.

NOVEMBRO DOURADO PARA OS EUA, EUROPA EM CINZA

Em novembro, marcado pela eleição de Donald Trump, o mix produziu este resultado: o índice S&P500 fechou o mês com alta de 3,8%, Dow Jones +5,7%, Nasdaq +2,6%. O Russell 2000, o índice de pequenas empresas, subiu 11%, para o maior nível em cinco anos. Uma marcha acompanhada pelo fortalecimento do dólar, que subiu face ao euro para 1,057 com uma valorização mensal de 3,6%. A Ásia se adaptou à marcha do dólar: auxiliada pela desvalorização do iene em relação ao dólar, a Bolsa de Valores de Tóquio atingiu um recorde mensal de alta de 5%. A Bolsa de Valores de Xangai subiu 6%.

A Zona do Euro está bem mais cinza: +0,1% do EuroStoxx 50. Paris subiu 1,7%, Frankfurt fechou o mês em substancial paridade. O desempenho mais negativo foi o da Piazza Affari (-1,1%), travado pela síndrome do referendo que também se fez sentir nas BTP, que passaram de um yield de 1,66% para 1,96%. 

O boom do petróleo é apenas o último episódio da recuperação das matérias-primas, depois da recuperação das economias e da reflação: o cobre subiu 20% no mês.

CORTES DA OPEP, GRUDES DE BRUTO EM 10%

Acima de tudo, o impacto da grande paz do petróleo domina os ânimos do Meteo Borsa. Os membros da OPEP, o cartel que responde por cerca de um terço da nova oferta mundial de ouro, assinaram ontem um acordo em Viena para reduzir sua produção em 1,2 milhão de barris por dia. A partir de janeiro, de acordo com o que foi anunciado ontem pelo atual presidente, o emir do Catar, o novo teto de 32,5 milhões de barris deve entrar em vigor (requisito condicional porque faltam vários detalhes) contra os 33,64 de hoje. Pouco menos da metade dos cortes (500 mil barris) ficará a cargo da Arábia Saudita, enquanto o Irã se contenta com 3,8 milhões de barris por dia e o Iraque com 4,351 milhões. No dia 9 de dezembro, em Doha, o acordo será estendido a países não pertencentes à OPEP, com a Rússia na liderança: Moscou reduzirá a produção em 300 barris.

A notícia imediatamente incendiou os mercados financeiros. As cotações do ouro negro dispararam 8,82% para 50,47 dólares na versão Brent. O WTI avançou 9,6% para 49,44 dólares. O índice de energia está em alta (+4,8%). Entre as ações de petróleo, Exxon Mobil +1,7%, Chevron +2%, equipamentos de petróleo Schlumberger +5,16%. Ainda melhor Anadarko (+14,6%) e Hess (+14,2%).

Na Piazza Affari a sessão foi encerrada antes do anúncio oficial do acordo. Provável, portanto, que hoje o rali continue. Ontem a Eni subiu 3,7%, Saipem +9,6%, a melhor blue chip do dia, não só devido ao acordo de Viena. A Gazprom começa a ponderar seriamente o risco de ter de pagar ao grupo italiano a indemnização pedida pelo cancelamento do projeto South Stream. A gigante russa amortizou o projeto em 800 milhões de euros, valor próximo dos 760 milhões inicialmente solicitados pela Saipem. A próxima nomeação perante o tribunal de arbitragem de Paris está marcada para 3 de março de 2017. Tenaris +6,5%. O rali continua esta manhã na Ásia: o Brent é negociado a 52,31 dólares.

JAPÃO AUMENTA, TLC E UTILITIES SOFREM NOS EUA

A corrida do petróleo bruto dominou a atenção dos mercados de ações. Alta robusta das bolsas japonesas, estimuladas também pela queda do iene e pelos dados positivos sobre a recuperação do setor industrial. O índice Topix abre dezembro com alta de 1,9%, o Nikkei sobe 1,1%. A recuperação chinesa também está acelerando, atestada pela alta dos índices PMI. Xangai sobe 0,7%, Hong Kong +0,9%.

Por outro lado, o desempenho das bolsas de valores dos EUA contrastou: o Dow Jones caiu +0,01%, o S&P 500 caiu 0,27%. A queda do Nasdaq -1,06% foi mais acentuada. A quebra das telecomunicações e dos utilities, os setores mais sensíveis à evolução dos dividendos e das taxas de juro, condicionou as listas: o S&P Utility Index caiu 3,2%, a ação da AT&T -2,2%. As ações de tecnologia também não estão participando do rali. Apple -0,5%, Amazon -0,6%, Facebook -0,8%.

TESOURO: TRUMP VAI CORTAR IMPOSTOS EM 15%

Bancos e financeiras estão voando. Steven Mnuchin, que acaba de ser indicado por Donald Trump para o cargo de secretário do Tesouro, revelou que reduzir os impostos corporativos para 15% está entre as prioridades da agenda do presidente. Wilbur Ross, o novo secretário de comércio, disse que Janet Yellen "fez um bom trabalho". O Bank of America subiu 4,5%. Goldman Sachs +3,6% para 220,77 dólares, o mais alto desde os tempos da crise do subprime.

MILÃO, O MELHOR. O TESOURO É O CENTRO DA COLEÇÃO 2016

A notícia oficial do negócio do petróleo veio poucos minutos antes do fechamento das bolsas europeias. Mas desde a manhã, os mercados apostam na alta do petróleo bruto, engavetando (ou quase) o estresse para o referendo de 4 de dezembro. Milão foi o melhor mercado, voltando a provar a fasquia dos 17.000 pontos aos 16.930 graças a um aumento de 2,23%; após a forte queda de segunda-feira, os preços já estão descontando boa parte dos efeitos de uma vitória sem vitória. A recuperação das restantes Bolsas foi mais limitada: Paris +0,68%, Frankfurt +0,12%, Londres +0,2% e Madrid +0,16%.

O spread Btp/Bund também contraiu, fechando em 171,318 pontos base. Com a reabertura de ontem, o Tesouro atingiu integralmente sua meta de refinanciamento para 2016. Ao valor total serão somados os leilões de Bot do meio do mês, os últimos a serem liquidados neste ano.

BANCOS (+3,1%) ARQUIVO NOVEMBRO NEGRO

Novo dia de recuperação para os bancos italianos. O índice setorial registrou alta de 3,1%. O setor deixou para trás o "horrível novembro": MontePaschi -14%, Banco Popolare -26%, Ubi -15%, Unicredit -11%, Pop.Emilia -10%.

Voltando às variações de ontem, a Unicredit liderava a corrida, fechando com alta de 4,23% na onda de notícias sobre a formação do consórcio para o aumento de capital em fevereiro. Banco Popolare +4,3% e Bpm +4,48% tiveram desempenho ainda melhor. Ligeiramente atrás do Intesa, que fechou com alta de 2,85%.

O Monte Paschi faz história por si só: +5,68% após os ganhos de dois dígitos na véspera. Ontem o BoD fez um balanço da conversão de títulos: após a adesão da Generali (400 milhões) a meta mínima de conversão em ações de 1,04 bilhão está ao alcance. A previsão agora é de 1,5 bilhão. Em termos de novos potenciais accionistas, enquanto se aguarda o Qatar, a intervenção de outros quatro a cinco fundos de investimento de referência avulta, entre os quais BlackRock e Paulson, dispostos a colocar no cesto entre 150-200 milhões cada.

Entre as small caps destaca-se o Banca Ifis (+3,33%). O instituto concluiu a aquisição da Ge Capital Interbanca por 160 milhões de euros a que se acrescenta o reembolso integral da dívida que ascende a 2,1 mil milhões. O CEO Giovanni Bossi disse que o banco traçará o novo plano estratégico ainda no primeiro trimestre de 2017 e, graças à aquisição da Ge Capital, acredita poder entrar no mercado corporativo de npl.

FCA TÍTULO LÍDER DO MÊS. MONDADORI ENTRE AS ESTRELAS

A Enel +0.6% venceu a licitação para a compra da Celg-D, empresa pública brasileira de distribuição de energia elétrica que o governo decidiu privatizar. O preço de martelo é de 2,18 bilhões de reais, equivalente a cerca de 640 milhões de dólares americanos. 

Fiat Chrysler +1,11%. A Fitch reviu para cima a perspectiva da dívida de estável para positiva, confirmando o rating em BB-. A revisão reflete as projeções da agência de melhora na geração de caixa no futuro próximo, o que, se confirmado, pode levar a um upgrade. Em novembro, a Fiat Chrysler subiu 9%, superada apenas pela StM (+9,8%). 

Venda Mondadori (+2,65%): a partir de 7 de dezembro o título entrará no segmento Star. Entre as ações de menor capitalização, a Falck Renewables ganhou 9,72% no dia seguinte à apresentação do plano estratégico. A Kepler-Cheuvreux recompensou as ações confirmando a classificação de compra. Preço alvo aumentado em 20% para 1,10 euro de 0,90 euro.

O CEO Toni Volpe anunciou que o cupom para a próxima distribuição será de 4,9 centavos, o que corresponde a um dividend yield próximo a 7%. Para o período 2018-20, o mesmo dividendo crescerá 8,5% ao ano até um máximo de 6,3 centavos, igual a um rendimento de 8,3%.

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