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Eleições, o que realmente nos dizem as eleições administrativas de 2017

A votação de domingo leva a três reflexões: os italianos preferem maioria e governança; quanto tempo pode durar o renascimento de Berlusconi; qual o peso do sistema eleitoral nas escolhas dos cidadãos. Esperamos uma nova clareza de pensamento e um pouco de generosidade para as necessidades deste país exausto que precisa urgentemente ser tranquilizado e governado.

Eleições, o que realmente nos dizem as eleições administrativas de 2017

Apesar de ter como premissa que as eleições locais quase nunca coincidem com as políticas nacionais, a votação de domingo em muitas cidades pode dar algumas indicações úteis para interpretar o verdadeiro estado de espírito dos cidadãos. Há três reflexões sobre as quais abrir uma análise política mais profunda: confirma-se que os italianos gostam de poder escolher quem os governará e, portanto, preferem um sistema eleitoral majoritário; em segundo lugar, pode-se perguntar se o "renascimento" da centro-direita é assim mesmo ou se se trata de um casamento de interesses que ruiria face ao obstáculo das eleições políticas; em terceiro lugar, há que reflectir sobre o peso que o sistema eleitoral tem efectivamente na orientação das preferências dos cidadãos.

Além das análises refinadas dos cientistas políticos, ao longo da Segunda República os eleitores sempre penalizaram os governos que caíram devido às querelas dentro das coligações que se apresentaram às eleições de forma unificada e que venceram, muitas vezes com ampla margem. Segue que as pessoas querem escolher por quem serão governadas e não gostam da mudança de governos eleitos diretamente. No caso de queda de um governo, o retorno às urnas seria bem-vindo e não o nascimento de um executivo baseado em algum compromisso parlamentar. Também se pode deduzir que o retorno à representação proporcional, que agora parece ser bem-vindo por muitas forças políticas, não encontra o profundo consenso dos eleitores italianos.

De fato, chegando à terceira das questões colocadas acima, qual sistema eleitoral devemos adotar? Com o sistema proporcional voltaríamos à Primeira República. Cada partido se apresentava e, se ultrapassasse um patamar que deveria ser alto, tentaria então obter maioria no Parlamento para formar o governo. Mas esse sistema daria origem a governos fracos e instáveis ​​que poderiam ter corrido bem nas décadas de 50 e 60 do século passado, quando o PCI não conseguiu tomar posse devido à divisão do mundo em blocos opostos que ninguém tinha interesse em questionamento. Hoje teríamos a possibilidade de caminhar para um sistema majoritário do tipo Mattarellum ou Rosatellum, ou para um sistema proporcional mais ou menos puro. Deve-se dizer que o Mattarellum tinha o defeito de criar coalizões desiguais que não resistiram à prova do governo. Isso aconteceu tanto à direita quanto à esquerda, essencialmente repropondo que fragmentação de forças políticas que impede o desenvolvimento de um projeto de governo.

Desde que os partidos realmente tenham algum projeto, porque nenhum sistema eleitoral jamais poderá substituir as próprias escolhas políticas que cabem aos partidos e seus líderes. Hoje muitos invejam o sistema francês que dá estabilidade e governança, mas se esquecem de apontar que ao lado do sistema eleitoral de dois turnos na França existe um sistema institucional baseado no presidencialismo e em um papel diferente do Parlamento (câmara única) que dá coerência a todo o sistema e permite a transformação sem traumas de uma minoria qualificada de eleitores em uma maioria capaz de governar (mas isso talvez seja considerado por nós inconstitucional). Para a Itália, a única solução viável seria avançar para um sistema maioritário do tipo Rosatellum, mas fortalecido por algumas mudanças importantes na regulamentação parlamentar, como as sugeridas pelo presidente dos senadores do PD, Luigi Zanda.

Naturalmente, esse sistema exigiria tanto do PD quanto da Forza Italia alianças com os demais partidos da área, que hoje seriam ainda mais heterogêneos do que na década passada. À direita, alguns comemoram o retorno da aliança Berlusconi-Salvini. Mas enquanto no nível local a escolha do candidato comum pode atenuar as diferenças fundamentais, quando se trata de política nacional estas estão destinadas a ressurgir com força. Salvini é um aliado de Le Pen, é contra a Europa e contra o Euro, promete coisas impossíveis sobre pensões e impostos, enfim quer gerir os imigrantes com um canhão sem dar muita atenção às convenções internacionais e às nossas próprias conveniências. Como ele poderia abrir mão de tudo isso para se aliar a Berlusconi? E de quem seria a liderança da coalizão? O resultado seria algo crível aos olhos dos eleitores?

À esquerda, os problemas são quase os mesmos. Renzi deveria se curvar para formar uma coalizão com aqueles que acabaram de sair do Partido Democrata e que nos últimos anos fizeram de tudo para colocar uma chave em seus trabalhos, contestando-o de todas as formas, a ponto de anular o voto a favor de a reforma da Constituição que eles também deram durante os trabalhos parlamentares. Certamente Renzi poderia se abrir mais no centro tentando reunir todos aqueles reformistas liberais que se sentiriam desconfortáveis ​​em uma coalizão dominada por Salvini e Meloni. E talvez tentar separar Pisapia de D'Alema, Fratoianni e Fassina, reconstruindo assim aquela mítica centro-esquerda tão cara a Prodi mas que, ao contrário da da época, desta vez deveria ser homogênea o suficiente para não se estilhaçar na primeira prova de governo.

Finalmente, os grillini perderam as eleições administrativas, mas só um sistema maioritário pode confiná-los a um papel de protesto puro e estéril, que aliás é a única coisa que sabem fazer. Para outras forças políticas esperançosamente em uma nova lucidez de pensamento e em um pouco de generosidade para com as necessidades deste país exausto que tem uma necessidade urgente de ser tranquilizado e governado.

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