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Educação financeira e proteção da poupança são a riqueza da nação

Pela primeira vez, a educação financeira se torna lei também na Itália e até agosto o Miur e o Mef terão que apresentar uma estratégia nacional para implementá-la, mas como implementá-la será decisivo

Educação financeira e proteção da poupança são a riqueza da nação

A conferência “A Riqueza da Nação. Educação financeira e proteção da poupança”, organizado pela Comissão de Finanças e Fazenda na Sala Capitular do Senado. Foi um acontecimento que me surpreendeu um pouco porque, depois de anos a trabalhar no setor, pensei que nunca teríamos passado de uma fase experimental para uma mais estruturada e sistémica e que por isso vale a pena falar. 

Os participantes (Marino Presidente da Comissão de Finanças, Marcucci Presidente da Comissão de Educação, Vegas Consob, Visco BI, Ministro das Finanças de Padoan) ilustraram as iniciativas realizadas dentro de sua competência e retraçaram o roteiro para os próximos meses. Seguiu-se uma mesa redonda com uma dezena de representantes de associações empresariais financeiras.

Em essência, com a lei de conversão do decreto-lei 237/2016, em meados de fevereiro de 2017, foram introduzidas pela primeira vez no nosso país disposições legislativas relativas à educação financeira, segura e previdenciária. É definido como o processo pelo qual as pessoas melhoram sua compreensão dos produtos financeiros e desenvolvem habilidades para identificar riscos e oportunidades no mundo das finanças.

O Mef e o Miur terão de apresentar o Programa da estratégia nacional até 22 de agosto com base nas conclusões de uma comissão especial que terá como missão promover e planificar todas as iniciativas. A disponibilização de uma sala de controlo deve-se à necessidade de coordenar as muitas iniciativas levantadas numa conferência anterior em janeiro de 2017: cerca de 300 sujeitos ativos que compõem um quadro extremamente fragmentado e extemporâneo da formação em banca e finanças.

Nesta primeira e importante conferência, reafirmou-se que a educação financeira tem um elevado valor estratégico, promove o conceito de cidadania económica assente na responsabilidade nas escolhas individuais e fecha a época de reformas do sistema bancário. Na definição dos objectivos e prioridades, o nosso país terá de se alinhar com as melhores práticas internacionais e, numa retrospectiva da nossa história, com o que Luigi Einaudi escreveu em 1921: "O poupador deve estudar com cuidado, com prudência e sem ganância, o oportunidades de emprego que surgem de tempos em tempos" porque "seria um grande mal se a crise do mercado de ações assustasse os poupadores contra todos os investimentos industriais".

A educação financeira chega tarde na Itália, mas finalmente é bem-vinda e poderá aprender muito com o que aconteceu na fase preliminar de sua existência, que durou quase 10 anos. Neste período, de facto, a situação dos bancos deteriorou-se significativamente e em muitas zonas do país desapareceram aqueles mais próximos dos aforradores: os bancos locais. Ao traçar as diretrizes da educação financeira do país, porém, não podemos nos limitar apenas a promover a alfabetização financeira das pessoas.

É preciso restaurar a confiança nos poupadores para evitar que eles retirem seus depósitos dos bancos em crise como está acontecendo para não sofrer os efeitos nocivos do bail-in e incentivar a inclusão de indivíduos vulneráveis ​​(mulheres solteiras, famílias, migrantes). Muitos interessados, por outro lado, ilustram suas próprias experiências de forma sempre complacente e positiva e, mais do que Einaudi, lembram o gato e a raposa famintos pelas lantejoulas de ouro do pobre Pinóquio.

Como não partimos do zero, precisamos também saber ler e valorizar as reações dos alunos até aqui registradas, avaliá-las e analisá-las. Isto para efeitos de futuras mesas de trabalho que terão de estabelecer elevados padrões de qualidade, dos quais depende a eficácia da educação financeira. Na minha experiência, por vezes fiquei espantado com o facto de, após algumas horas de empenho didático, os participantes não fazerem perguntas, sinal de pouco interesse por questões que fazem parte do nosso quotidiano ou por assuntos (o que é uma hipoteca, uma conta corrente, etc.) hoje facilmente rastreável na internet.

Outras vezes, precisamente pelas razões que referi, as questões que colocavam eram dignas do maior interesse e extremamente desafiantes porque eram os tristes repercussões das crises bancárias na vida dos indivíduos e nos sonhos desfeitos das famílias. Muitos séculos atrás, de histórias de vida semelhantes, Shakespeare desenhou a figura inesquecível de Shylock no Mercador de Veneza que, em caso de falta de pagamento, exigia uma libra de carne do fiador do empréstimo.

Em conclusão, ignorar questões como como economizar em serviços bancários ou se a poupança é segura em um determinado banco significa acreditar que a educação financeira é um passeio no parque, um pannicello quente. Ficaria então reforçada a ideia dos cépticos, que vêem nele o risco de quererem vender determinados produtos financeiros em detrimento de outros ou que é uma modesta folha de figueira para remediar os erros de quem deveria controlar, inclusive os supervisores.

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