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Cigarros, contrabando e falsificação: como surge o delito

A Guardia di Finanza descobriu em Acerra uma fábrica inteiramente dedicada à produção de cigarros falsificados e contrabandeados com um faturamento muito significativo - Segundo a KPMG, o consumo de cigarros ilícitos na Europa chega a 8,7% do total - Nápoles é a capital italiana do tráfico ilícito de cigarros que tem muitos motoristas: veja quais

Cigarros, contrabando e falsificação: como surge o delito

Uma das lendas que narram as origens da pizza diz que foi o chef Raffaele Esposito quem inventou a receita daquele prato que se tornaria um dos mais famosos do mundo e, sobretudo, que foi inspirado na rainha Margherita de Sabóia e daí o nome da pizza mais tradicional de todas. Nápoles é uma terra de rainhas e não é de estranhar que “Regina” é o nome dado à marca de cigarros falsificados mais produzido na bela cidade napolitana e que não dispensa o noticiário local.

De fato, no início de dezembro, a Guardia di Finanza do setor de Nola, na área napolitana, descobriu em Acerra um depósito industrial de cerca de 1000 metros quadrados onde doze homens, todos posteriormente detidos, preparavam cigarros falsificados. As chamas amarelas encontraram 30 toneladas de tabaco manufaturado de origem estrangeira, outras matérias-primas (filtros, mortalhas e material de embalagem), máquinas caras que foram confiscadas. Uma vez colocados no mercado, os cigarros encontrados teriam rendido cerca de 5 milhões de euros. “Cada maço de Regina – explica Francesco Marigliano, presidente das tabacarias napolitanas – custa cerca de 2 euros, enquanto os cigarros legais começam em 50 euros o maço. Enquanto isso, na província de Nápoles existem cerca de 4 barracas que os vendem, localizadas principalmente no interior ao norte de Nápoles e em alguns bairros históricos da capital. O contrabando na Itália gera uma evasão de cerca de 20 milhões de euros por ano”.

A Fiamme Gialle explicou que seria a primeira fábrica napolitana utilizada para a produção de cigarros contrabandeados e não é de excluir que a Camorra esteja por trás desse faturamento.

A notícia insere-se num quadro complexo que descreve os fenómenos da falsificação e do contrabando de cigarros que a consultora KPMG acompanha num relatório anual que inclui dados relativos à mercado ilícito de cigarros na Europa e é encomendado pelo Instituto Britânico de Serviços de Defesa e Segurança, chamado Royal United Services Institute for Defense and Security Services.

De acordo com a análise, euO consumo de cigarros falsificados e contrabandeados na Europa para 2017 é estimado em 8,7% do consumo total, igual a 44.7 bilhões de cigarros. O volume de cigarros falsificados e contrabandeados está diminuindo em relação aos anos anteriores e apresenta o menor valor desde 2008. Acima de tudo, a redução de 7,4% se mostrou mais incisiva do que a redução de 2,5% no consumo doméstico legal do produto. De acordo com estes números, as perdas dos governos europeus ascenderam a 10 mil milhões de euros. Já o detalhe italiano fala em perdas iguais a 641 milhões, uma participação percentual no consumo total de cigarros contrabandeados e falsificados igual a 4,8%, uma queda de um ponto percentual em relação a 2016. O maior fluxo de itens falsificados e contrabandeados vem do so- chamado White Brands, que detinha uma participação de mercado de 61% em 2017.

Apesar da queda geral, o volume de cigarros falsificados e contrabandeados cresceu nos países com maior diferença de preços em relação aos países de origem, enquanto desabou naqueles com bom nível de aplicação da lei ou situação econômica favorável.

O mercado online também está aberto para o contrabando de cigarros, era difícil pensar em manter esse negócio longe da internet também. Em particular, existem dois tipos diferentes de vendedores ilícitos de tabaco: Indivíduos que não têm qualquer ligação com o crime organizado e criminosos organizados que têm, inclusivamente, contactos internacionais e uma forte rede de distribuição. A pesquisa mostra novamente que um pequeno número de vendedores muito especializados é responsável por uma alta proporção de vendas ilícitas, mesmo internacionalmente. Dado o volume de pequenos pacotes descarregados diariamente nas instalações alfandegárias, os funcionários alfandegários não conseguem inspecionar todas as remessas e, portanto, dependem de estratégias de perfil baseadas em risco. Explorando essa vulnerabilidade, o crime organizado decidiu adotar uma abordagem de baixo volume e alta frequência para o contrabando de todos os tipos de mercadorias ilícitas. Além de reduzir o risco de interceptação, os métodos de alta frequência e baixo volume minimizam as perdas financeiras em caso de apreensão, uma vez que uma única remessa representa apenas uma pequena fração das mercadorias ilícitas transportadas por um determinado grupo.

Na Itália, foram identificados quatro principais impulsionadores do desenvolvimento do tráfico ilícito de cigarros: fácil acesso ao produto, veja como Nápoles – que sozinha tem uma participação ilegal de 35% – por exemplo, a distribuição é realizada nas ruas à luz do sol. Um segundo elemento que mais uma vez caracteriza uma bacia como a da cidade napolitana é a acessibilidade social da venda de produtos ilícitos, atividade que é ocultada pelos próprios cidadãos. Um outro elemento é, sem dúvida, a diferença de preço entre o custo dos cigarros na Itália e em países vizinhos como a Croácia, onde um maço custa 3,05 euros ou 3,51 na Eslovênia, enquanto na península o preço médio é de 4.76, o que é, em qualquer caso, um preço inferior ao que seria encontrado em outros mercados do norte da Europa. O quarto elemento que permite a proliferação da venda de cigarros falsificados ou contrabandeados é a corrupção desenfreada e a infiltração da máfia nas instituições.

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