"A França e a Itália impediram o Grexit que a Alemanha queria, mas o preço é uma vitória política a meio caminho e a renúncia a novos avanços na construção política europeia e na governação económica": o orador nesta entrevista ao FIRSTonline é Stefamo Micossi, diretor-geral da Assonime (a associação de sociedades por ações) e sempre pró-europeu. Acrescenta: “Pouco importa que as reformas que se impõem à Grécia sejam bem justificadas mas a brutalidade do método acaba por matar o mérito”. Segundo Micossi, a única alternativa para realmente relançar a Europa seria entregar parcelas da soberania nacional às instituições europeias, mas ninguém está disposto a fazê-lo.
PRIMEIRO Online – Dr. Micossi, como avalia o acordo alcançado a duras penas pela Cimeira do Euro sobre a Grécia e quais são os seus efeitos?
PRIMEIRO Online – Está pensando na Alemanha?
MICOSSI – Na Alemanha, já está consolidada a opinião de que a Grécia está “infectando” a união monetária e que a infecção não tem cura até que a Grécia seja expulsa. Daí a proposta de expulsá-los, que era real, prestando a assistência necessária para enfrentar a emergência humanitária. França e Itália atrapalharam.
PRIMEIRO Online – Se for esse o caso, como se pode dizer que a Europa é liderada pelos alemães?
MICOSSI – Ao defender a Grécia, a França defendeu também a sua própria “natureza excepcional”: o seu défice está sempre acima dos 3 por cento, mas a Alemanha fecha os olhos, e com ela também a Comissão Europeia, que sabe que alguém no chiqueiro entre os porcos é orwelliano um pouco menos igual. A Itália ficou do lado dela. O preço é claro: há uma vitória semi-política (não se sabe se a Grécia pode realmente fazer o que prometeu fazer, se não o fizer, será expulsa de qualquer maneira), mas também há a renúncia a novas avanços na construção política e na governança econômica. Com a Grécia dentro da zona do euro, o progresso nas questões de compartilhamento de riscos sobre as dívidas públicas e uma capacidade fiscal comum da zona do euro não será falado por muito tempo.
PRIMEIRO Online – Para além das incógnitas políticas relativas à Grécia e à sua rápida aprovação parlamentar das reformas, a nível estritamente económico o acordo colocará Atenas de novo no caminho da recuperação e do crescimento?
MICOSSI – Pouco importa que muitas das reformas que estão sendo impostas à Grécia hoje sejam bem justificadas pelo mérito. A brutalidade do método acaba matando o mérito. Uma discussão séria sobre o futuro da zona do euro e da União não pode mais ser adiada. O problema é que o método intergovernamental só pode ser abandonado ao concordar em confiar componentes essenciais da soberania nas políticas econômicas e sociais a instituições comuns. Mas nem a França nem a Itália estão prontas para isso. É necessária uma reflexão séria e aberta, face à opinião pública europeia cada vez mais confusa.
PRIMEIRO Online – Neste ponto, quais serão os efeitos do acordo Eurosummit na Grécia?
MICOSSI – A única alternativa para travar o Grexit era redigir um programa super-rígido, humilhando a Grécia duas vezes: porque tinham de aceitar tudo o que prometeram aos seus eleitores nunca aceitar – cortes nas pensões, aumento do IVA, privatizações, uma lista de liberalizações que nem sequer A senhora Thatcher teria imaginado, e assim por diante, a reforma; e porque o programa vai ser verificado in loco pela odiosa Troika, tendo o Fundo Monetário Internacional sido persuadido a participar no novo financiamento, para assim ajudar a redigir e acompanhar o programa de ajustamento. Os inspetores logo estarão em Atenas; a implementação do programa será de fato gerida por comissários que vieram do exterior, atrás da folha de figueira da assistência técnica.
Parece-me improvável que Tsipras pudesse sobreviver a tal reviravolta; assim, pelo menos o objetivo subordinado da Alemanha, que visivelmente era substituir o governo em exercício por outro menos confiável, possivelmente com amplo apoio parlamentar (unidade nacional), será alcançado.