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Os armênios, a solidão de Wegner e os genocídios do século XX

Em "Dialoghi Mediterranei", a socióloga Maria Immacolata Macioti lembra o genocídio armênio, um dos acontecimentos mais trágicos da história do século XX, e a complexa figura de Armin Wegner.

Os armênios, a solidão de Wegner e os genocídios do século XX

Eu ouvi muito sobre Armin Wegner anos atrás na Armênia, na República do Norte da Armênia. Um nome bem presente na Colina das Andorinhas, perto da capital Yerevan, onde fica o Memorial e Museu do Genocídio que, ao longo dos anos, visitei várias vezes. Pude ver o Jardim dos Justos, onde foram plantadas árvores que homenageiam as pessoas que trabalharam para os armênios de várias maneiras. Que se posicionaram publicamente a favor da causa armênia. Não importa que eles tenham feito isso sem sucesso. Eu vi o Muro da Lembrança, que encerra as cinzas ou a terra do túmulo dos justos. Ali também estão guardadas as cinzas de Armin Wegner, com as do embaixador dos Estados Unidos Henry Morghentau, autor de uma significativa autobiografia, com as do escritor Franz Werfel, autor do famoso romance Os Quarenta Dias de Mussa Dagh, com as cinzas de muitos outros.

Depois encontrei e reencontrei várias vezes, durante o ano de 2015, nas várias ocasiões em que o genocídio arménio foi lembrado em Roma, Michele ou Mischa Wegner, filho de Armin. Um segundo filho, já que ela nasceu antes dele, da primeira esposa de seu pai, Lola Landau, Sibylle. Uma irmã, explicou, Mischa, com quem sempre se deu bem, embora talvez tenha ouvido mais do que ela e ainda sinta a obrigação moral de cuidar da figura paterna. Há muito tempo me interesso pela Armênia e sua história atormentada. Escrevi sobre isso em revistas científicas. Já publiquei livros sobre isso. O último, intitulado Armênia, os armênios, lançado com a editora Guida de Nápoles, em 2015, foi apresentado em Roma durante uma semana de atividades voltadas para a comemoração do centenário do genocídio, dias desejados pela Embaixada da Armênia, pela Central Instituto do Patrimônio Sonoro e Audiovisual (ICBSA) do Ministério do Patrimônio Cultural, pelos sociólogos da religião da AIS, a Associação Italiana de Sociologia.

Quando Fiorella Leone me liga para perguntar se eu gostaria de moderar a apresentação, na Casa della Memoria e della Storia, do livro de Gabriele Nissim, A Carta a Hitler. História de Armin T. Wegner, lutador solitário contra os genocídios do século XX (Mondadori 2015), aceito com prazer. Conheço bem o livro. Eu o li com muita atenção, o mencionei durante a XXII Escola de Verão organizada pelo Centro Internacional de Estudos sobre Religião Contemporânea com AIS, a Associação Italiana de Sociologia-Seção de Sociologia da Religião, realizada em S. Gimignano e Tavarnelle em final de agosto de 2015. Uma iniciativa com curadoria de Arnaldo Nesti que organizou o habitual encontro anual sobre o tema O sentido de viver para além das novas solidões, com a decisiva ajuda de Giuseppe Picone. Na ocasião também havíamos organizado uma exposição fotográfica com 19 impressionantes fotos de Armin Wegner, gentilmente cedidas pela editora alemã Wallstein Verlag-Alemanha, obtidas graças ao filho de A. Wegner que havia financiado o empréstimo. Ao lado dessas fotos históricas de Wegner, outras 40 fotos da Armênia de hoje, minhas e de alguns amigos. Não somente. O Maestro Maurizio Redegoso Kharitian, virtuoso do violino e da viola, tocou para nós música de Bach, Komitas Vartabed, o famoso Gurdjieff, Chachaturjan, na igreja de S. Bartolo, na noite de 26 de agosto. A tarde dedicada à Armênia contou com a presença do Embaixador Sarkis Ghazaryan, além da historiadora Gabriella Uluhogian, da pintora e escritora Sonya Orfalian. E outro.

Eu havia aberto a exposição algumas horas antes do show, falando sobre Armin Wegner e suas fotos. Tirada em anos em que o digital ainda não existia; divulgado, mostrado em público e também amplamente divulgado em anos insuspeitados. Um documento histórico, portanto. Uma verdadeira fonte para estudiosos. Mesmo que tenham sido imediatamente alvo de insinuações e desmentidos por parte do lado turco. Mas não era tanto isso que me preocupava, aos meus olhos, mas alguns fatos que surgiram da leitura do livro de Nissim. Um Nissim conhecido não apenas como jornalista e ensaísta, por ter pensado na abertura de Gariwo, a floresta dos justos, na qual, como mencionei, são lembradas pessoas que se manifestaram e se posicionaram contra o genocídio e o totalitarismo. O próprio Nissim foi o promotor do Dia Europeu do Justo, instituído em 10 de maio de 2012 pelo Parlamento Europeu, conforme relatado na contracapa. Wegner emerge da leitura deste livro como um idealista, certamente. Mas talvez também, simultaneamente e de forma contraditória, como um homem que levou em conta o clima político, pelo menos no que diz respeito à questão armênia. Com efeito, Nissim esclarece e documenta o facto de o jovem Wegner ter regressado do período passado na Turquia como oficial médico do VI Exército, sob as ordens do Marechal de Campo von der Golz, numa Turquia portanto onde vira de perto a terrível situação em que os armênios, deportados para lugar nenhum. E, no entanto, ele ficou em silêncio por três longos anos. Para lado nenhum, porque como se sabe não houve testamento, nem plano de reassentamento, nem teria havido qualquer razão para esta mudança, a não ser uma vontade de perseguição e aniquilação. Aliás, existe um filme de Carlo Massa, que tem o título: Destino nada. A testemunha, cujo título explicita essa realidade. Um vídeo que apresentei recentemente aqui. No filme, Pietro Kuciukian, que já escreveu muito sobre o que aconteceu com os armênios, sobre a vida dos sobreviventes, procura vestígios do pai de Wegner. Mischa (Michele), filho de Wegner, também muito presente no filme de C. Massa, leva consigo parte das cinzas do pai para a Armênia, para ser enterrado com as dos demais justos. Outra parte foi dispersa em Stromboli, conforme o testamento de Armin. Que, como eu disse, inicialmente se cala sobre esses fatos atrozes que sem dúvida viu com seus próprios olhos e que documentou. Ele passará três anos sem falar sobre o assunto, sem divulgar publicamente as imagens captadas. Imagens de armênios que morreram de fome e miséria, mortos pelo tifo petequial. Cadáveres empilhados uns sobre os outros, abandonados à beira de uma estrada. Osso.

Enquanto isso a. Wegner havia escrito, no mínimo, elogiando a revolução dos Jovens Turcos. Ele havia escrito elogiosos sobre von der Golz, seu comandante, que também morreu de tifo. Que, como os alemães presentes na Turquia em geral, viram o que estava acontecendo, mas nada fizeram para evitá-lo. Wegner, de volta à Alemanha, falará dele publicamente em tom elogioso. Sabemos por Nissim que Armin Wegner, em 1917 mostra vários interesses. Por exemplo, dedica-se a uma coletânea de poemas, interessa-se pela paisagem, como ecologista sui generis. Ele se interessa, com convicção, pela liberdade sexual: e, de fato, sempre estará pronto para colocar em prática seus pressupostos teóricos a esse respeito, pois definitivamente aprecia as mulheres. Ele os entende, ele é bem-sucedido. Quando ele conhece Lola Landau, ele está tendo um caso com uma estudante. Lola é casada com outro. Ela vai se divorciar, casar com Armin. Que ele não desista de outras aventuras por isso. Tendo entrado no Instituto Oriental Alemão e na redacção do bimestral «Der Neue Orient», do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Armin é encarregado de defender a política externa do país. Uma tarefa que ele não se importa: ele definitivamente ama a Alemanha. No futuro, ele sempre se recusará a escrever sobre certos assuntos, como o Holocausto, por exemplo, justamente para não ter que se posicionar contra a Alemanha. Não só. Também em 1917, ficamos sabendo, ele colaborará com a Deutschtürkische Vereinigung, uma associação com escritórios em Berlim e Istambul, dedicada à aliança turco-alemã. Em cuja comissão de honra encontramos os nomes do primeiro-ministro Talaat Pascià, ministro da Guerra Enver Pascià e ministro da Marinha, Djemal Pascià: os três principais perpetradores do genocídio armênio. Então, no ano seguinte, em 1918, ele começou a escrever sob o pseudônimo de Tarik para «Der Neue Orient», uma colaboração que continuaria até 1920. Ele - observa Nissim - escreve sobre os lugares do genocídio: mas como se nunca tivesse estado lá. Como se não tivesse visto o que aconteceu. De fato, celebra alguns líderes dos Jovens Turcos. Ele também exalta Jambolat Bey, amigo de confiança de Taalat Pascià, que será preso em 1930 e transferido para a Inglaterra para ser julgado. Ao mesmo tempo, participa de movimentos pacifistas. Não só isso: em 9 de fevereiro de 1918, Armin Wegner fará um relatório articulado e complexo de cerca de cinquenta páginas em Breslau. Acompanhado por cerca de cem slides. Em essência – escreve Nissim – é a exaltação da aliança turco-alemã. Wegner aponta a causa comum contra o inimigo inglês. Não há menção, nesta ocasião, de armênios. Estamos falando de refugiados. E da traição da população na fronteira com a Rússia, perto de Van e Erserum, daí a necessidade de deportação: como se as vítimas armênias fossem pelo menos parcialmente responsáveis ​​pelo que aconteceu. Não só isso: Armin Wegner elogia a misericórdia do governo turco, que busca aliviar o sofrimento dos refugiados, distribuindo pão e outros alimentos para eles. Uma conferência que depois se repetirá em homenagem ao Marechal de Campo von der Goltz, numa longa viagem de propaganda. Então, no final do ano, em 30 de outubro, é assinado o Armistício de Mudros. A fuga dos responsáveis ​​pelo extermínio dos armênios seguirá. Wegner havia escrito recentemente uma exaltação de Taalat Pasha, retratado como uma espécie de novo Bismark que estava levando setenta milhões de muçulmanos à emancipação. Só no dia 25 de novembro ele escreverá uma peça para Der Neue Orient, na qual admite que os alemães estavam, de fato, cientes do que havia acontecido. Nissim comenta que Armin Wegner demorou para processar o que viu. No entanto, a remoção, pelo menos no que diz respeito a Wegner (não à Turquia), terminará agora. E, de fato, em janeiro de 1919, Wegner publicou uma coleção de reflexões na frente, com o título significativo: A estrada sem retorno. Um martírio nas letras. E é a primeira vez que se menciona a 'culpa de uma nação'. Então, em 19 de março de 19, ele realizou uma conferência sobre a deportação de armênios para o deserto. Fale na sala de conferências da Urania Science Dissemination Society. Ele se apresenta como testemunha. Ele tem muitos slides com ele. O público ouve, vê. O impacto é enorme. No entanto, surgem também, de imediato, críticas e dúvidas. Polêmica irada. Por que, três anos depois? E as fotos? Tudo seu, tudo sobre os armênios? Talvez não. Certamente, se fossem dele, se fossem verdadeiros, seriam uma acusação muito dura, como serão os providencialmente executados por Dwight Eisenhower na abertura dos campos de extermínio, no final da Segunda Guerra Mundial – Nissim acertadamente nota. Questões importantes emergem nesta conferência: a da chamada fronteira interna; a da impotência do mal, visto que mesmo nas piores circunstâncias ainda persiste o anseio de liberdade. Hoje, o historiador armênio Tigran Sarukhanyan questiona a decisão de abrigar as cinzas de Armin Wegner no Memorial Armênio perto de Yerevan. Ela o acusa de ter demorado a falar por medo de se expor. Ele teria esperado, diz o historiador, o advento da República de Weimar para evitar as consequências de sua denúncia. Limito-me a referir estes problemas, inaugurando a exposição fotográfica em S. Gimignano, no final de agosto de 2015. Onde meu arquivo sobre Armin Wegner é distribuído. Eu me detenho nas fotos, em seu impacto terrível. Sobre seu valor histórico e sobre as tentativas de negação do lado turco. Em Roma, alguns meses depois, na Casa della Memoria e della Storia, por ocasião da apresentação do livro de Nissim, A Carta a Hitler, realizada em 21 de janeiro de 2016, dou a palavra em primeiro lugar à historiadora Anna Foa, que é como eu, ela era professora na Universidade Sapienza. Estudiosa da Shoah, Anna publicou recentemente um belo livro com a editora Laterza, Portico d'Ottavia 13.

La Foa fala de Armin Wegner como uma figura um tanto contraditória. Ele menciona seu longo silêncio em relação aos trágicos acontecimentos dos armênios. Já dessa forma sua fala atrai a atenção dos espectadores, abre possibilidades de comparação e discussão. Mas ela não para por aí. Ele também fala de outro tema incômodo, que é o da importância, da necessidade de comparações e justaposições entre os vários genocídios que marcaram e caracterizaram o século XX. Mais estudos comparativos são necessários, diz ele. Não sei se os espectadores percebem a posição de ruptura de Anna Foa em relação ao Holocausto, até agora geralmente considerado um fato único, por si só, absolutamente incomparável a outros. E não sem razão, se considerarmos o uso da tecnologia, a racionalidade formal, o planejamento por trás dos rodeios, a chegada dos trens aos campos, o esvaziamento dos vagões etc. filme de Claude Lanzman, Shoah. Tema bem presente em A tentação do esquecimento, de Franco Ferrarotti, outrora publicado pela editora Laterza (1993). A má consciência da Europa não foi estranha a este forte sublinhar da singularidade da Shoah, apesar da consciência do extermínio envolvendo também os ciganos, pessoas com deficiência, opositores políticos e muitos outros. Mas o tema dos porrajmos, o genocídio dos ciganos, só surgiu recentemente. Certamente é a primeira vez que ouço um historiador judeu falar em semelhança e analogia do Holocausto com outros genocídios: por minha vez, confirmo que a ideia também havia ocorrido a alguns sociólogos e que estavam trabalhando nisso. Milena Santerini, parlamentar e professora da Universidade Católica de Milão, retoma o tema da Jornada a ser dedicada aos justos, algo que Nissim lhe sugeriu e com o qual se compromete porque considera uma hipótese de particular interesse para o medida que quando falamos dos 'justos' falamos de homens e mulheres – diz. Não de heróis. Nesta noite ela primeiro e depois o próprio Nissim sublinham este conceito. De fato, Nissim intervém longamente, esclarecendo que Wegner o interessou justamente por alguns elementos contraditórios em sua vida. Ele lembra, por exemplo, além da demora com que tornou público o genocídio armênio, sua carta a Hitler, que dá título ao livro. Porque Wegner, entretanto casado com Lola Landau, fez uma longa viagem à Rússia, que o interessou muito. Admire a organização do trabalho, a tentativa de superar a mentalidade pequeno-burguesa. Mas ele tem dúvidas sobre o dogmatismo predominante, sobre a crueldade, sobre os maus-tratos, sobre o antijudaísmo. Ele escreverá em 1928 para M. Gor'kij, várias vezes, chegou a enviar-lhe uma lista de 94 presos: gostaria que ele interviesse no assunto. Ele está absolutamente escandalizado com o tratamento de Trotsky, com a negação de qualquer dissidência. De volta a Berlim, Wegner publica o diário dessa viagem. Com o resultado, em casa ele passará por um comunista esclarecido, enquanto na Rússia ele nem mesmo conseguirá publicá-lo. Na verdade, Armin Wegner - escreve Nissim - muda de opinião sobre a Rússia, até onde viu e tocou: depois de ter rejeitado o comunismo, parecerá aceitá-lo, mesmo que em meio a tormentos e lacerações. Enquanto isso, o anti-semitismo está crescendo na Alemanha. Lola, uma judia, sente o perigo imediatamente. Estamos em 1933. Ela discute isso com o marido. Os filhos têm problemas na escola, os fornecedores recusam-se a vender-lhes comida, a empregada desiste; mesmo onde eles estão indo há anos, perto de um lago, as pessoas são hostis: Armin acha que tudo será resolvido com o retorno a Berlim.

Há também um boicote às lojas judaicas em Berlim. Saques. Em 20 de abril, Armin escreveu uma carta a Hitler (o texto completo é dado no final do livro, com outra carta sua ao presidente americano Wilson, datada de 23 de fevereiro de 1919, pro armênios). Ele escreve para defender a honra da Alemanha, convencido de que Hitler poderá intervir utilmente: explica-lhe que os judeus são parte integrante da Alemanha, o que seria uma mancha indelével para a Alemanha, se as perseguições continuassem. Ele confia que Hitler, informado por ele sobre o que está acontecendo, pode intervir utilmente, para o bem da Alemanha. Isso o lembra, entre outras coisas, do que havia acontecido na Espanha, na época, com a expulsão dos judeus: se algo assim voltasse a acontecer, a Alemanha sofreria um grande prejuízo econômico. Ele escreveu em 20 de abril: em 10 de maio mais de vinte mil livros foram queimados na praça, incluindo os de Wegner. Em 16 de agosto ele será preso. E então despido, espancado, frustrado. Tomado em baldes de água. Ele acabará em um campo de concentração (ele verá três ao todo). Tudo isso fortalece, de alguma forma, seu amor pela Alemanha. Enquanto isso, começam as conversas sobre o divórcio: Lola acha que seria melhor para ele se distanciar de uma esposa judia. Mas enquanto isso ele escreve – estamos em 9 de novembro de 33 – um memorial defensivo. E no dia 26 de dezembro, portanto, após vários meses de detenção, ele será solto. Nissim afirma no livro e também o diz na apresentação em Roma, que provavelmente Armin, para obter a sua libertação, terá assinado alguma abjuração: não se sabe. Não é certo, mas é provável. 1934 revela-se um ano de incertezas. Armin está livre, é admitido no Sindicato dos Escritores do Reich, é notificado de que não há mais suspeitas contra ele. Ele receberá de volta os livros já apreendidos; vai retomar a posse de uma amada casa do lago. Ele planeja o retorno de Lola à Alemanha, que sabiamente viaja há algum tempo para buscar fundos para a emigração de judeus. Em Londres, eles o oferecem para ficar, para terminar o livro sobre os armênios: ele se recusa porque isso causaria ondas de ódio contra a Alemanha. O casal Wegner retornará à Alemanha com a filha Sibylle. 1935 é o ano das leis de Nuremberg, da decisão de Lola de ir para a Palestina com a filha. Na noite romana, Nissim enfatiza a sabedoria de sua decisão; que será implementado em '36. Ela gostaria que Armin se juntasse a ela. Se ele, se ela voltou para a Alemanha ou pelo menos veio para a Itália: juntos eles poderiam facilmente fazer viagens para a Alemanha. Felizmente, ela se recusa a deixar a Palestina. Em dezembro Armin está na Itália, com todas as suas coisas, com seus amados livros. Ele reencontrou um antigo amor, Irene Kowaliska, que na época era dona de uma fábrica de cerâmica em Vietri. Eles vão trocar visitas (ele está em Positano). Em 38 ele se divorciou de Lola. Que, no entanto, mantém boas relações com o ex-marido: que lhe escreverá em 24 de julho de 39 para lhe dizer que fez um acordo com a embaixada alemã e que foi reabilitado, tanto que se tornou membro da a Associação Nacional Socialista do Reich na Itália. Um fato formal, explica. No final do ano nascerá Irene Mischa, que mais tarde será reconhecida pelo pai. Nissim relembra esses eventos extensivamente no livro. Mais rápido em Roma. E conclui dizendo que Armin Wegner é, em sua opinião, um homem justo. Uma feira típica. Ou seja, um homem. Alguém que está errado, que comete erros de interpretação, que pode ter comportamentos ambíguos. Mas que, neste caso específico, intervém contra os totalitarismos: o russo, o hitlerista antijudaico. O turco que significou o genocídio dos armênios. E falou publicamente. Não um herói, mas um homem. Mischa Wegner, sentada à minha direita, pede para falar. Eu o conheço como uma pessoa profundamente gentil. Ele certamente herdou grande idealismo de seu pai. Preocupa-me a reação dele diante desse tipo de profanação da figura do pai. Mas ele calmamente toma a palavra. Nissim – diz ele – trabalhou duro para criar um livro no qual seu pai é de alguma forma celebrado. Em vez disso, hoje gastou palavras para demonstrar que era um homem comum, que estava certo mas também errado. Que não é um herói, mas um homem justo. Bem, ele, Mischa Wegner, concorda com essa visão. Seu pai era certamente um homem, não um herói. Um homem com seus medos e sua coragem.

Vamos abrir o debate. O tema dominante, desde o início, é o do dia a ser dedicado, possivelmente, aos justos. É hora de perguntar? Milena Santerini está certa em fazer esse pedido? pergunta uma senhora na sala. O público está dividido, ainda que ela rejeite veementemente a hipótese, argumentando que são demasiados os dias dedicados a este e àquele tema. Que depois de alguns anos seu significado original se perde e tudo vira um ritual cansativo.

De fato, nos últimos dias, há uma grande variedade de opiniões na internet sobre os dias dedicados à lembrança, com posições diversificadas que vão desde aqueles que acham que o Holocausto tem sido falado demais e que o dia da lembrança foi perdido significado ao longo dos anos, às teses daqueles que, ao contrário, sublinham o seu significado e importância, a ajuda na transmissão da memória às novas gerações. Impossível resolver uma questão complexa como essa em poucos minutos: esse debate deve ser retomado em outro momento. Dirijo-me, portanto, à expoente do presente Casa della Memoria e della Storia, pedindo-lhe que o recorde, se possível, em planejamentos futuros. O público, que tem acompanhado com grande interesse, que tem participado do debate de diferentes posições, com certa veemência, parece muito feliz. Todos nós agradecemos calorosamente. Acredito que o que se percebeu foi o profundo interesse que todos nós tínhamos pelo tema tratado. Porque de fato Armin Wegner é um personagem interessante e contraditório. Ou talvez interessante justamente por ser um homem com todas as suas contradições. Um homem, portanto, mais real, mais credível do que certas personagens mitificadas, certos heróis cujas hesitações e fraquezas são desconhecidas. O livro é, portanto, interessante e de fácil leitura, em parte pela curiosidade que a figura de Armin Wegner desperta, em parte pelo estilo narrativo deslizante utilizado pelo autor. Entre outras coisas, inicialmente e por muito tempo ele usa um personagem estranho a ele para falar sobre Wegner. Com efeito, o livro abre-se num cenário romano, em que Johanna, de vinte anos, procura emprego e para isso lê os anúncios do «Messaggero». Responda a de um desconhecido Armin Wegner que está procurando uma secretária. Ela vai até a casa dele, na Via dei Quattro Venti 104. Eles concordam. E ela o conhece, sua esposa Irene, seu filho Mischa. Ele datilografa suas cartas, em sua maioria endereçadas a sua filha Sibylle, a uma certa Lola Landau que mora em Israel e a outros estrangeiros. Então, um dia, Armin faz a ela um pedido atípico: redigitar uma carta que havia enviado a Hitler em 1933. A garota ouve com ceticismo as explicações que Armin lhe dá quando solicitado a esclarecer: ele quer que seja publicado na Alemanha. Não, não está escrito agora, ele escreveu então, em 1933. O que aconteceu com a carta na época? Ele não sabe. Ele não pode saber. O que ele sabe ao certo é que foi preso, com todas as consequências do caso, poucos dias depois de enviá-lo. Você, Johanna, imediatamente pensa em um fanfarrão. No entanto, ele responde à carta, à qual faz pequenas melhorias contínuas. Ele copia em centenas de cópias: Armin quer enviar para jornais alemães, para amigos, para políticos. Então, Johanna volta para a Alemanha, segue cursos na universidade. Esqueça a experiência romana. Os anos passam e chega a hora de pedir uma tese de graduação. Dez anos depois de ter sido secretária de Wegner, ela, impulsionada pelo professor, que a considera sortuda por esse contato recuperável, se verá conversando com Wegner, registrando suas memórias para a tese. E durante boa parte do livro o escritor Nissim usa a voz de Johanna, suas supostas reações, seu raciocínio para interpretar os acontecimentos de Armin. Porque você escreveu sobre isso, há de fato uma publicação sua em A. Wegner, em alemão. Aqui, porém, neste livro, Nissim evidentemente atribui a ela pensamentos, reações, dúvidas que são dele mesmo. E, de fato, em um ponto do livro, Johanna desaparece. Em conclusão, um livro bem pesquisado e ponderado. Não hagiográfico. Trezentas e quatro páginas que contam a vida, a obra, o pensamento de um Armin T. Wegner que se destaca na capa, fardado, o rosto ainda jovem, o olhar atento a perscrutar algo que não podemos ver. Talvez, os genocídios do século XX.

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