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Cinema: Dupla Suspeita, um thriller de Hitchcock

Chega à Itália a surpreendente obra do diretor belga Olivier Masset-Depasse: a sangrenta história de duas famílias burguesas do norte da Europa nos anos 70 – TRAILER.

Cinema: Dupla Suspeita, um thriller de Hitchcock

Avaliação do autor:

Duas famílias de classe média, ricas e felizes de repente se encontram em um turbilhão de infortúnio e violência. Este é o enredo de Dupla Suspeita, dirigido pelo belga Olivier Masset-Depasse, um nome quase desconhecido nos cinemas italianos e também no cinema de seu país, do qual não temos muita memória de títulos e autores particularmente bem-sucedidos. Neste caso, temos que mudar de ideia: é um filme de altíssima qualidade como raramente acontece de se ver. Tudo funciona perfeitamente desde o roteiro até a atuação. 

A história é crível a tal ponto que surge a questão de saber se ela foi tirada de eventos reais por quanto tempo. aparece em seu drama "normal". De fato, podem ocorrer situações imprevisíveis que podem desencadear conflitos assustadores entre os indivíduos, mesmo quando aparentemente muito próximos. Nessas circunstâncias, algo pode emergir das profundezas da personalidade de alguém que ninguém jamais poderia imaginar que pudesse existir. Este, talvez, o verdadeiro enredo do filme. 

Nós conhecemos em uma cidade anônima no norte da Europa, num período que remonta à década de 70, numa villa composta por duas casas geminadas emparelhadas e contíguas onde vivem duas famílias muito semelhantes. Ambas as famílias têm um filho e um infortúnio acontecerá a um deles. A partir desse momento, desencadeia-se uma sequência de acontecimentos que conduzirão à tragédia final que, claro, não vos revelaremos. Tudo começa com uma desconfiança, com a dúvida de que os acontecimentos não são acidentais mas que pelo menos há uma responsabilidade indireta.

é um thriller psicológico complexo e refinado, violento e implacável, onde não é nada fácil adivinhar de que lado está o bom e onde está o mau e quem, entre os protagonistas, é o bom e quem é o mau. A história se desenrola em um crescendo de ansiedade e tensão que não deixa pausa. Todos estão no lugar certo (os atores altamente competentes, especialmente as duas protagonistas femininas muito boas: Veerle Baetens e Anne Coesens) e os tempos narrativos são inteiramente consistentes. Até as imagens são tratadas no limite da perfeição e à medida que vão rolando pela tela nos perguntamos por que, apesar de ser uma história fictícia, situá-la em um tempo tão bem definido, os anos 70, e representá-la com tanta precisão.

O resultado é surpreendente e fica claro porque esse filme mereceu tanta atenção no cenário internacional (lançado em 2018 no Festival de Cinema de Toronto). O final deixa dúvidas não tanto sobre sua plausibilidade, que também é sustentável, mas sim sobre um sentimento de amargura difícil de interpretar.  

Num momento cinematográfico de escassez de títulos de qualidade (acrescentemos também a ausência de produção nacional) este filme merece grande atenção. Não queremos fazer comparações excessivas, mas é difícil não pensar em um mestre desse gênero: Alfred Hitchcock. Estamos falando de um gênero de filme que não é fácil de fazer, mas que, felizmente para nós, ocasionalmente alguém consegue.  

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