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Brasil, sem reformas o crescimento não decola

A situação político-institucional e o aumento da dívida pública em relação ao PIB (mais de 80% do PIB no final de 2017) agravam-se: a implementação das medidas estruturais necessárias para suportar a evolução do PIB torna-se ainda mais difícil. Com as eleições desconhecidas em outubro próximo.

Brasil, sem reformas o crescimento não decola

O Brasil se aproxima das eleições legislativas e presidenciais de outubro em um clima de grande incerteza. Segundo os analistas, é muito difícil prever os possíveis resultados da consulta, enquanto é grande a probabilidade de que as próximas eleições confirmem a extrema fragmentação do quadro político. Os dados econômicos mais recentes divulgados pela Departamento de Estudos e Pesquisas do Intesa Sanpaolo Indicano uma tendência do PIB que, depois de ter registado resultados positivos no segundo trimestre de 2017 (+0,4%), continuou a acelerar na segunda metade do ano, levando a um crescimento global de 1%, após uma queda de 3,6% em 2016.

Nesse contexto, a pesquisa periódica do Banco Central aponta para o PIB brasileiro crescer 2,7% em 2018 e 3% no próximo ano: também o FMI em Janeiro Perspectivas Econômicas Mundiais reviu em alta a sua previsão de crescimento (para 1,9% em 2018 e 2,1% em 2019). Mas, se considerarmos os países do grupo BRICS, no médio prazo o Brasil se vê como permanecendo no subgrupo, que também inclui África do Sul e Rússia, de mercados de baixo crescimento, compartilhando algumas fragilidades comuns, como dependência excessiva de matérias-primas , lentidão com que avançam as reformas e os fatores políticos internos e externos que pesam sobre a propensão a investir.

Em 2017, a taxa de inflação tendencial voltou a desacelerar, ficando abaixo do limite inferior da meta (4,5% +/- 1,5%) e fechando o ano em 2,9%. Inflação deverá acelerar em 2018, até cerca de valor central (4,5%) do intervalo alvo. Ao mesmo tempo, a queda dos juros superou as expectativas: a taxa Selic passou de 13,75% em dezembro de 2016 para 8,25% em setembro de 2017, antes de fechar o ano para 7% após os cortes nas Banco Central. As projeções apontam para um único corte modesto (25bps, com a taxa básica de juros em 6,75% no final de 2018), enquanto no próximo ano os analistas esperam o início de um ciclo de alta com a taxa Selic indicada em 8% no final de 2019 .

Se nos primeiros nove meses de 2017 o real apreciou cerca de 2% face ao dólar (3,16 BRL por 1 USD), no último trimestre apresentou, no entanto, alguma volatilidade determinada sobretudo pela evolução das expectativas quanto à capacidade do Governo para realizar fora as reformas. Mas, embora os diversos modelos de avaliação cambial não ofereçam uma resposta única, o FMI no Relatório Art IV de julho último indicou a taxa de câmbio substancialmente em linha com os fundamentos. No final de 2017 o real brasileiro não se beneficiou da fraqueza do dólar americano, registrando uma desvalorização de 2% (para R$ 3,31 por 1 USD): principalmente fatores de natureza política pesaram sobre a moeda. A pesquisa periódica do Banco Central indica a taxa de câmbio BRL/USD em 3,30 ao final de 2018.

A dívida pública, depois de ter registado substancial estabilidade no quinquénio 2010-14, situando-se em cerca de 62% do PIB, cresceu substancialmente nos últimos dois anos, atingindo 78,3% em 2016. Segundo estimativas preliminares, em 2017 a dívida pública déficit primário foi igual a 1,9% do PIB, abaixo da meta inicial de 2,4%: a recente fase de recessão da economia levou a um substancial aumento da dívida pública, que subiu para mais de 80% do PIB em 2017. Com a consequente necessidade de intervenções estruturais para controlar os gastos. Além disso, também no decorrer do ano passado, a balança corrente da Balança de Pagamentos registou um défice de 9,8 mil milhões de dólares (0,5% do PIB) abaixo dos 23,5 bilhões (1,3% do PIB) em 2016. O Banco Central espera que em 2018 o déficit atual voltará a subir para 18,4 bilhões (0,8% do PIB). O valor das reservas de 2017 se compara a uma necessidade estimada de financiamento estrangeiro de pouco mais de 173 bilhões em 2018 (rácio de cobertura de reservas em 2,1). No final de 2017, o Brasil tinha uma posição financeira líquida de 692 bilhões, equivalente a 33% do PIB nominal em dólares estimado em 2017: destes, mais de 50% do passivo total era devido ao IED.

A deterioração do quadro político-institucional, que dificulta a concretização das reformas necessárias ao suporte do crescimento potencial (actualmente em torno dos 2%) e à estabilização das finanças públicas, e o aumento da dívida pública em relação ao PIB têm levado a sucessivos cortes na notação da dívida soberana em moeda brasileira, agora considerada um investimento especulativo pelas três principais agências. Concretamente, em janeiro de 2018, a S&P voltou a reduzir o seu rating (de BB/N para BB-/S) manifestando dúvidas sobre a capacidade do Governo em conseguir aprovar a reforma da previdência; A Fitch e a Moody's atribuem, respectivamente, rating BB e Ba2, ambos com perspectiva negativa. Vários fatores limitam o crescimento potencial, em particular um mercado de trabalho muito rígido e protegido, um sistema tributário pesado e pesado, a presença extensa e ineficiente do setor público especialmente em serviços e escassez de infraestrutura. Assim, um Congresso marcado por grande fragmentação, pelas tensões geradas pelas investigações envolvendo políticos e pelo prazo eleitoral de outubro próximo fazem com que novos passos no caminho das reformas pareçam extremamente improváveis ​​aos olhos dos analistas. Pelo menos para este ano.

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