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Bancos locais: seguir as tendências pode ser muito caro

Significativamente, a revista britânica The Banker reconhece que a verdadeira causa da Grande Crise de 2007-8 foi a busca espasmódica de ganhos especulativos em detrimento das atividades bancárias tradicionais, cujo modelo consolidado de raízes locais é também potencializado pela evolução das Fintech

Bancos locais: seguir as tendências pode ser muito caro

A revista inglesa "The Banker", em artigo aprofundado por ocasião do décimo aniversário do início da crise econômica e financeira analisou recentemente as razões, chegando à conclusão de que mais do que a exposição a activos de risco, os chamados sub-prime, a principal causa deve ser procurada na mudança cultural que, em anos anteriores, se foi alastrando nos mercados bancários , desequilibrando a sua actividade para operações cada vez mais especulativas na procura de lucros para os accionistas numa perspectiva de curto prazo e em detrimento da actividade de tipo tradicional face à economia real.

A do periódico inglês é mais uma confirmação de quão incompreensível é a posição daqueles que, ainda hoje e ainda em jornais de renome, acreditam que o modelo que caracterizou os bancos locais nãopassado deve ser considerado ultrapassado e que só com a mudança deste modelo é possível continuar a operar a favor dos territórios e, em particular, das pequenas e médias empresas e famílias. Na verdade, não está claro por que deveria pressionar por tal mudança, dado que o modelo funcionou ajudando a conter as fases recessivas do ciclo econômico por meio de uma política de crédito altamente anticíclica. As razões frequentemente invocadas são as da introdução do novo quadro de Basileia 3, o aumento dos requisitos de capital, a criação da União Bancária com a centralização de numerosas funções no Banco Central Europeu. 

Parece um tanto singular esse próprio os bancos cooperativos italianos são os que mais e mais forçosamente tiveram de se adaptar em resultado de decisões e medidas políticas impostas que penalizaram sobretudo os bancos até agora mais comprometidos com as comunidades de referência. Sem contar que, no caso dos bancos cooperativos, a maioria deles já havia tomado medidas para captar recursos para aumentar sua base de capital antes da introdução da reforma que impôs para aqueles com mais de 8 bilhões de euros de ativos a transformação forçada em empresas por ações.

Também o desejo de evitar a fragmentação e migrar "tout court" para grandes grupos bancários parece uma contradição porque se opõe diametralmente à tentativa de promover aquela biodiversidade bancária que, onde esteve presente, garantiu maior estabilidade à economia e foi capaz de melhor sustentar o tecido produtivo.

Que o modelo bancário tradicional ainda é totalmente atual também prova isso a evolução que está ocorrendo no campo Fintech. Com a entrada em vigor, em janeiro passado, do regulamento PSD2 (Payment Service Directive 2) sobre pagamentos eletrónicos, a concorrência no mercado de pagamentos aumentou graças à entrada de novas entidades não bancárias que deverão colaborar precisamente com os próprios bancos. Isso os levará cada vez mais a mudar sua cultura para colaborar melhor. É, pois, necessário que os bancos mudem a sua abordagem hierárquica para um modelo mais horizontal que contemple um maior grau de partilha e participação, como acontece precisamente nos bancos cooperativos ou locais onde o enraizamento territorial e a identificação com os acionistas e stakeholders favorecem o banco na leitura necessidades dos clientes e na identificação de soluções compartilhadas promovidas de baixo para cima.

°°°° O autor é o Secretário Geral da Associação Nacional de Bancos Populares (Assopopolari)

 

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