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Aeronave muito mais segura, mas o custo da compensação aumenta

O último relatório da empresa global Allianz mostra que a segurança em aviões melhorou muito nos últimos 60 anos: é mais provável que morra por causa de um raio do que durante o voo. EUA e Europa os mais avançados. E surge o risco de ataques cibernéticos

Aeronave muito mais segura, mas o custo da compensação aumenta

As viagens aéreas são muito mais seguras do que há 60 anos. Especialmente nos EUA e na Europa, é mais provável ser morto por um raio do que morrer em um acidente de avião. Por outro lado, os voos para África e Ásia são menos seguros. Diante de uma maior segurança, no entanto, os pedidos de indenização estão aumentando, impulsionados por fatores como reparos complexos ou paradas operacionais.

Um relatório da Allianz Global Corporate & Specialty (AGCS) faz um balanço dos riscos associados ao transporte aéreo. De acordo com o estudo, os desastres aéreos deste ano contradizem a melhoria de longo prazo na segurança observada pela indústria, que atualmente responde por menos de duas mortes para cada 100 milhões de passageiros em voos comerciais. A título de comparação, durante uma das primeiras décadas da era do jato (1962-1971) ocorreram 133 mortes para cada 100 milhões de passageiros.

No entanto, a gestão da segurança da aviação será testada no futuro contra um novo conjunto de cenários de risco em potencial, incluindo a crescente probabilidade de ataques cibernéticos, maior dependência de sistemas automatizados e o crescimento previsto de drones para uso comercial, conforme declarado em o AGCS "Estudo Global de Segurança da Aviação". O relatório, publicado em colaboração com a Embry-Riddle Aeronautical University, acompanha as melhorias feitas nos níveis de segurança da aviação desde o início da era do jato em 1952.

Os fatores por trás da segurança

O estudo mostra que nos últimos 60 anos os céus ficaram muito mais seguros. Hoje, estima-se que, nos Estados Unidos e na Europa, é muito mais provável que você seja morto por um raio (1 em 10,5 milhões) do que morrer em um acidente de avião (1 em 29 milhões). E isso apesar do crescimento do setor, que neste ano espera uma movimentação de 3,3 bilhões de passageiros contra apenas 106 milhões em 1960.

“A segurança da aviação melhorou muito graças também à tecnologia, sistemas de navegação, refinamentos de motores e inovações de design, como critérios de design à prova de falhas e controle fly-by-wire”, diz Francesco Liverani, chefe de aviação da AGCS na Itália. “Ao mesmo tempo, o treinamento da tripulação e os padrões de gerenciamento de segurança aumentaram acentuadamente.” Novas inovações, como sistemas de comunicação de mensagens digitais que permitem que pilotos e controladores “troquem mensagens de texto”, estão melhorando ainda mais o ambiente de segurança da aviação”.

As principais causas de perdas

Apesar das melhorias dramáticas nos níveis de segurança, o custo dos sinistros está aumentando devido ao uso generalizado de novos materiais no projeto de aeronaves, bem como regulamentos cada vez mais exigentes e aumento de litígios de responsabilidade. “Hoje o número de fatalidades ou perdas totais é menor do que no passado, mas há novos tipos de riscos e perdas, como reparos complexos, danos a equipamentos de solo ou risco de paralisação operacional, que aumentam ainda mais a exposição”, explica Henning Haagen, chefe global de aviação EMEA e Ásia-Pacífico da AGCS. Prevê-se que os valores crescentes da frota e o número de passageiros aumentem as exposições ao risco além da marca de US$ 1 trilhão até 2020, ou possivelmente antes.

Na análise dos grandes sinistros de seguros com valor superior a 1,36 milhões de dólares (1 milhão de euros), os acidentes aéreos são, previsivelmente, a principal causa de sinistros em número de sinistros gerados (23%) e de valor consequente (37%). No entanto, ainda em termos de número, quase o mesmo número de pedidos de indemnização está relacionado com a prestação de serviços de assistência em escala (18%), enquanto 16% se referem a avaria mecânica.

Diferenças regionais em segurança

Enquanto a América do Norte e a Europa apresentam os melhores padrões de segurança na aviação comercial, a África apresenta os piores resultados. Em 2012, 88% das mortes na aviação global ocorreram na África (45%) e na Ásia (43%). Atualmente, África utiliza a maior percentagem de aeronaves de segunda geração, igual a mais de 50% da frota total analisada. A atualização da frota de aeronaves é uma das iniciativas de segurança que diminuíram a taxa global de acidentes. Em partes da África, os padrões de segurança e treinamento são comparáveis ​​aos que existiam há 50 anos na Europa ou nos Estados Unidos.

Homem contra máquina

Na aviação comercial estima-se que 70% dos acidentes fatais estão relacionados a erro humano, principalmente fadiga do piloto. Iniciativas como o gerenciamento de recursos da tripulação e o cockpit automatizado melhoraram os níveis de segurança, mas a automação também pode ter um lado negativo. Muitos incidentes levantaram a questão de que os pilotos confiam demais na automação do cockpit. “É preciso dar mais atenção à educação continuada dos pilotos que voam com e sem automação. As habilidades básicas do piloto continuam sendo essenciais para operar qualquer aeronave com segurança, especialmente se, por qualquer motivo, a automação não estiver disponível”, diz Sébastien Saillard, chefe de reivindicações de aviação da AGCS.

No entanto, melhores níveis de segurança também significam que uma grande proporção do pessoal da companhia aérea nunca se envolveu em um acidente grave. Essa falta de experiência é um dos maiores problemas na preparação para resposta a emergências.

Desafios futuros

Estão a emergir novos cenários de perdas potenciais, como a probabilidade crescente de ataques cibernéticos, o aumento esperado da utilização de drones (aeronaves remotamente pilotadas ou UAV) no setor comercial, a estimativa futura de escassez de pessoal qualificado, incluindo pilotos, e a perspectiva de mais turbulências causadas pelas mudanças climáticas. Em particular, há uma preocupação crescente com ataques cibernéticos. “As aeronaves de nova geração estão altamente expostas ao cibercrime devido ao uso massivo de redes de dados, sistemas computadorizados de bordo e sistemas de navegação. Violações de dados e ataques cibernéticos são percebidos como riscos crescentes”, explica Ludovic Arnoux, chefe global de consultoria de risco de aviação da AGCS.

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