Por que escolher entre EUA e China se você puder fazer negócios com ambos? Num mundo cada vez mais polarizado entre o Ocidente democrático e os “outros”, muitas vezes governados por autocracias, há um país que, melhor do que qualquer outro, demonstra a possibilidade de uma terceira via, de um diálogo equidistante (ou equifechado) com todos e de relações comerciais livres, livres de simpatias ou oportunidades geopolíticas. É o Brasil di Lula, que faz parte do G20, é amigo dos EUA e da Europa, mas não tem problemas em manter relações muito próximas com a Rússia e a China.
Um exemplo claro da estratégia da primeira economia sul-americana (e oitava do mundo, à frente da Itália, em termos de PIB nominal) foi visto nas últimas semanas, quando Lula aceitou o convite de Vladimir Putin sem problemas. Putin em Moscou para comemorar 80 anos da vitória soviética na Segunda Guerra Mundial. O presidente chinês estava no Kremlin Xi Jinping e personagens do perfil de Nicolás Maduro, o ditador venezuelano. Apenas o eslovaco Robert Fico, que pertence a essa minoria pró-Rússia num continente que é o que mais se opõe a Putin, através de sanções comerciais e apoio explícito à Ucrânia, saiu da União Europeia.
Com a Rússia a intenção é aumentar as relações comerciais
A viagem de Lula tem sido duramente criticada em seu país porque Putin, segundo a imprensa, "não é apenas um autocrata e um invasor, mas um criminoso de guerra condenado pelo Tribunal Penal Internacional. Apresentar-se como cúmplice dele é um mau sinal para a democracia e corre o risco de colocar o Brasil em má situação perante a comunidade internacional". O presidente, no entanto, reivindicou a visita a Moscou para "fortalecer e reconstruir com ainda mais força nossa parceria estratégica. O Brasil tem interesses políticos, comerciais, culturais, científicos e tecnológicos com a Rússia. Somos duas grandes nações em continentes opostos. Fazemos parte do Sul do mundo e temos a oportunidade, neste momento histórico, de ampliar significativamente nossas relações comerciais".
Palavras que certamente não agradarão Washington e Bruxelles, que censuram principalmente Lula por sua posição ambígua sobre a guerra na Ucrânia (o Brasil é um promotor do “clube da paz” com a China e a Índia), mas que fazem sentido do ponto de vista empresarial: em 2024, o comércio entre Brasil e Rússia atingiu o valor recorde de 12,4 bilhões de dólares.
Os intensos envolvimentos comerciais com a China
Ainda mais intensas são as relações entre a locomotiva sul-americana e a China. Depois de Moscou, Lula voou para Pequim recebido por Xi Jinping para lembrar ao mundo que toda a América Latina agora adere à Rota da Seda, enquanto muitos países europeus – incluindo a Itália – se retiraram, e em tempos de tarifas isso não é uma boa ideia. É por isso que o presidente brasileiro não está de todo errado em ir direto ao seu parceiro asiático, de quem obteve em sua última visita um compromisso de 27 bilhões de reais (4,3 bilhões de euros) de investimentos chineses no Brasil.
Vai do fortalecimento da aliança para a carros elétricos até quase 1 bilhão de euros para produzir combustível verde para aviação a partir da cana-de-açúcar, até a entrada das gigantes asiáticas de entrega e fast food Meituan e Mixue no mercado brasileiro. A parceria também inclui a abertura de uma fábrica semicondutores Chineses no Brasil, acordos na área farmaceutica e a aquisição pela Baiyin da China de uma mina de cobre em Alagoas, no valor de 400 milhões de euros. A China já é o principal mercado das exportações brasileiras, com mais de 25% do total. “A demanda chinesa – disse Lula – tem sido um dos motores do nosso crescimento desde o início do século e nos permitiu fazer progressos significativos na redução da pobreza e das desigualdades”, disse Lula, que também lembrou o atraso infraestrutural e tecnológico do seu país: “A O apoio chinês é essencial para tirar do papel rodovias, ferrovias, portos e linhas de transmissão de energia.”